A polêmica entre o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho (PSDB), e Paulo Guedes, da Economia, durante a reunião ministerial do dia 22 de abril, mostrou que a má vontade de Guedes e sua equipe com o programa de retomada do desenvolvimento apresentado pelo general Braga Neto, o Pró-Brasil, teve como pano de fundo a teimosia de Guedes em destruir o Estado e a ilusão, hoje quase solitária, entre os economistas, de que será o capital estrangeiro o salvador da Pátria.

Na primeira fala de Guedes, ele já tentou desqualificar o general Braga Neto insinuando que ele não teria preparo. “Eu queria fazer a primeira observação, é o seguinte, não chamem de Plano Marshall porque revela um despreparo enorme”, disse Guedes. Prosseguindo, Guedes repetiu sua ilusão com os EUA. “Plano Marshall, por exemplo, os Estados Unidos podem fazer um Plano Marshall para nos ajudar”.

É verdade, Trump ofereceu uma “fortuna” de apenas US$ 6 milhões em ajuda. Isso depois de confiscar os respiradores brasileiros comprados à China que passaram pelos EUA.

Aí Guedes partiu para a baixaria com a China. “A China [que segundo ele – apesar da tarja do STF – seria responsável pela pandemia] deveria financiar um Plano Marshall para ajudar todo mundo que foi atingido. Então a primeira inadequação, a gente tem que tomar muito cuidado é o seguinte, é o plano Pró-Brasil”, disse. “Não se fala Plano Marshall, porque é um desastre. Vai revelar falta de compreensão das coisas. A segunda coisa é o seguinte, é super bem-vinda essa iniciativa, para nos integrarmos todos. Agora, não vamos nos iludir. A retomada do crescimento vem pelos investimentos privados, pelo turismo pela abertura da economia, pelas reformas. Nós já estávamos crescendo”, disse Guedes.

Durante ainda os comentários sobre o Pró-Brasil, Guedes seguiu destilando seus dogmas. “Voltar uma agenda de trinta anos atrás, que é investimentos públicos financiados pelo governo, isso foi o que a Dilma fez. Então está cheio de gente pensando nessa eleição agora, e botando coisa na cabeça de todo mundo aqui dentro, que são governadores querendo fazer a festa, são às vezes ministros querendo aparecer, tem de tudo. E todo mundo vem aqui: ‘vamos crescer, agora temos que crescer, tem que ter a resposta imediata, porque o governo vai gastar’. O governo quebrou! O governo quebrou! Em todos os níveis. Prefeitura, governador e governo federal”, disse ele.“Que que nós conseguimos fazer? Nós sinalizamos o contrário. Nós desalavancamos banco público, reduzimos endividamento, baixamos juros e o Brasil ia começar a voar. Então, se agente lançar agora um plano, todo o discurso é conhecido: ‘acabar com as desigualdades regionais’, Marinho, claro, está lá, são as digitais dele. É bonito isso, mas isso é o que o Lula, o que a Dilma estão fazendo há trinta anos. Se a gente quiser acabar igual a Dilma, a gente segue esse caminho”, arrematou Guedes.

O ministro Rogério Marinho, político identificado com políticas neoliberais, começou sua intervenção mostrando mudanças em sua visão e rebatendo a arrogância de Guedes. “Bom, eu vou partir do princípio que todos que estão aqui são bem intencionados e querem o bem do Brasil. Então, eu não acredito em teoria da conspiração, nem que ninguém quer solapar os alicerces da República nem abalar a administração do presidente Bolsonaro, pelo contrário. E quero lembrar a todos que não existem verdades absolutas. Por favor, por favor, vamos refletir. O que está acontecendo hoje no mundo não tem parâmetro nos últimos cem anos”, disse ele, baixando a bola do ministro da Economia.

“O que está acontecendo hoje no mundo vai permitir, de acordo com o FMI, que foi a previsão de uma semana atrás, uma diminuição de quase três por cento do PIB mundial, e no caso do Brasil de mais de 5%. Não tem paralelo. Em situações extraordinárias, remédios extraordinários de forna circunstancial. Isso não significa que nós tenhamos a necessidade de implantarmos uma política permanente. O ministro Braga Neto está, na sua apresentação, ele estabelece inclusive o limite temporal e deixa claro que é uma política de Estado. O que eu peço é que nós tenhamos aqui as mentes abertas. E que os dogmas, quaisquer que sejam eles, presidente, sejam colocados de lado nesse momento”, acrescentou.

Rogério Marinho fez dois alertas aos colegas. O primeiro foi de que é necessário um aumento dos investimentos públicos. “Porque os governos do mundo certamente tem a capacidade de entender o que está se passando. E eu tenho visto governos extremamente liberais preparando programas de reconstrução, levando em consideração a necessidade de que o Estado nacional passa a ter um papel diferente como tomador de risco nesse momento em que há uma queda abrupta da liquidez”, argumentou.

O segundo alerta foi para não se esperar que o capital estrangeiro seja o principal instrumento para a retomada do desenvolvimento. “O ministro Onyx fala com muita propriedade da Arábia Saudita, dos dez bilhões de dólares. É bom lembrar, tá aqui o ministro Bento, que tá se pagando para se retirar petróleo do mundo. Os países vão utilizar as suas respectivas liquidez para resolver os seus problemas de infraestrutura e de retomada das suas economias. Nós temos que ter segurança jurídica, senhor presidente. Respeito a contrato, senhor presidente. Capacidade de alavancar recursos privados com a inversão de recursos públicos sim!”, acrescentou Marinho.

INVESTIMENTO PÚBLICO

“É bom lembrar”, destacou Marinho, “que eu tenho ouvido falar, não sei se é verdade, depois a gente vai colocar na ponta do lápis, que a gente pode chegar a 600 bilhões de reais esse ano de ajuda a empresas e a pessoas físicas. Recursos do governo federal. Fruto de endividamento do governo. Desse governo, que vai terminar o ano com déficits quatro, cinco, seis vezes maior do que estava precificado no início do ano. Caiu um meteoro sobre as nossas cabeças”, destacou.

“Então, por favor, nós não podemos começar uma discussão com verdades absolutas e com dogmas estabelecidos ao longo de cem anos, em função de uma catástrofe que se abateu sobre o mundo, e os governos de todo o mundo estão se debruçando sobre o assunto, entendendo que muda o papel do Estado. Senhor presidente, é bom lembrar que quando houve a unificação da Alemanha, eu acho que esse é um fato histórico irrefutável, o Estado alemão entendeu e fez um pacto de que haveria necessidade de investir em capital humano e infraestrutura na Alemanha Oriental para diminuir desigualdades regionais”, lembrou, numa alusão ao exemplo da Alemanha dado por Guedes para sustentar seus dogmas ultraliberais.

Por fim Rogério Marinho defendeu que o Brasil faça investimentos públicos. “E esse é um pacto do Brasil. Essa pode ser uma catástrofe, que vai nos afundar, ou pode ser uma onda para gente surfar, uma alavanca para recuperar o país. Todos os países do mundo estão submetidos ao mesmo processo. Vai depender da nossa capacidade de termos uma opção clara de que forma vamos sair desse problema. Se vamos gastar 600 bilhões de reais para resolver uma situação que é emergencial, e todos reconhecemos que é necessária, e darmos segurança à população, no caso alimentar, para evitarmos o caos, para diminuirmos a mortandade das empresas, muito bem, está correto, essa é a boa direção”, disse.

“Por que não cinco, seis, sete por cento desse total, dez por cento desse total, em obras de infraestrutura? Por que não termos a capacidade de alavancarmos emprego num momento em que a retomada, todos os economistas aqui reconhecem, vai ser muito lenta?. Bom, eu só estou falando isso presidente, para que nós possamos ter essa discussão sem dogmas. Sem verdades absolutas. Sem a preocupação de que as coisas continuam como eram antes. Não são como eram antes. Aqui e no mundo inteiro. Era isso, senhor Presidente”, completou Marinho.