Ministro da Saúde do Chile renuncia após esconder mortes por Covid
O presidente do Chile, Sebastián Piñera, em meio à expansão do coronavírus anunciou no sábado(13), a substituição do ministro da Saúde, Jaime Mañalich, pelo médico e acadêmico Oscar Enrique Paris.
Os questionamentos e denúncias contra o governo e, particularmente, contra o ex-ministro aumentaram na última semana por conta de distorções na contagem de mortos por Covid-19 no país, que seria maior do que o número divulgado. Além de críticas à forma de tratar a doença e da administração dos hospitais públicos.
A mudança ocorreu no dia em que o saldo da pandemia somou, segundo o governo, 6.509 novos casos e 231 mortos nas últimas 24 horas, aumentando para 167.355 o número de infectados e para 3.101 o de mortos desde 3 de março, quando foi registrado o primeiro caso de coronavírus neste país de 18 milhões de habitantes.
Porém, no mesmo sábado, um site de investigação chileno, Ciper, divulgou que o Ministério da Saúde havia informado à Organização Mundial da Saúde (OMS) que cerca de 5.000 mortes no país estavam ligadas ao novo coronavírus, superando em quase 2.000 os 3.101 casos reportados pelo governo. O departamento de estatística do Ministério da Saúde confirmou números à OMS de pessoas que morreram após testes positivos para o novo coronavírus e também de mortes suspeitas de estarem ligadas a Covid-19, a doença respiratória causada pelo novo coronavírus.
Depois do Brasil e do Peru, o Chile é o país com mais casos confirmados da doença na América Latina.
Os presidentes dos principais partidos da oposição exigiram em carta aberta uma mudança de estratégia para enfrentar a pandemia, assim como a renúncia de Mañalich porque, “tem perdido credibilidade e confiança”.
“Não só estamos frente a um descontrole total da pandemia, como também ante dados públicos que diferem dos reportados, o que atenta gravemente contra a credibilidade pública, pelo que estamos em uma situação de risco total”, afirmaram os líderes do Partido Socialista (PS), Democracia Cristã (DC), Partido Pela Democracia (PPD), e Partido Comunista, entre outros.
Desde o início da pandemia, Malañich rejeitou reiteradamente o isolamento total na capital, Santiago, e aplicou quarentenas que chamou de “estratégicas e dinâmicas”, isolando só as comunas (bairros) com mais contágios. E resistiu a mudar mesmo quando houve um grande aumento de casos no início de maio.
“O Chile sob controle de Mañalich acabou estourando estas semanas com hospitais colapsados, aviões do exército enviando doentes críticos a hospitais como o regional de Concepción (a 434 quilômetros de Santiago), mortos que passam dias nas casas (ao menos dois casos foram divulgados pela TV quando retirados)”, expôs Juan Carlos Ramírez Figueroa em reportagem desde Santiago do Chile, publicado pelo jornal Página 12.
E assinala que frente às imprecisas informações entregues pelo governo de Sebastián Piñera, a melhor forma de manter-se informado do avanço do Covid-19 no país é através das redes sociais e dos meios independentes, plataformas onde tanto médicos como infectados pela doença, contam suas realidades e se chocam com a estratégia de comunicação governamental que desde o verão passado intenta baixar o perfil da pandemia.
A cidade de Santiago, principal foco e onde a rede hospitalar está no limite, está em quarentena total até 19 de junho e possivelmente se estenderá. As cidades de Valparaíso e Viña del Mar iniciaram neste sábado sua primeira quarentena desde o início da crise sanitária, com o que quase 50 % dos habitantes do país estão atualmente em isolamento.