Em meio às articulações para formar as chapas que irão concorrer às eleições de 2 de março para o Knesset (parlamento israelense), o ministro da Educação do governo de Netanyahu, Rafi Peretz, encontrou-se com Benzi Gopstein, líder do grupo extremista de direita Lehava (Chama).
No encontro, o ministro referiu-se à prática de incitamento racista de Gopstein – pela qual é indiciado criminalmente – como “trabalho sagrado”.
“Não sei porque se incomodam tanto com o que você faz. Isso é trabalho sagrado”, disse Rafi Peretz, depois que Gopstein apresentou a ele o que o seu grupo para impedir relações entre mulheres judias e homens árabes.
Na mesma reunião, Peretz prometeu que o partido que lidera, Habayt Hayehudi (Casa Judaica), abrigaria em sua lista lideranças indicadas pelo Lehava no partido Otzma Iehudit (Coragem Judaica).
O próprio líder da Lehava, Gopstein, tantas fez que até a Suprema Corte de Israel – que costuma apoiar decisões discriminadoras – o está proibido de se candidatar e o indiciou por “incitamento ao racismo, violência e “terrorismo”.
CRIMES RACISTAS DE GOPSTEIN
É longa a lista de crimes de conteúdo racista de Gopstein. Em 2012, quando três jovens árabes foram atacados por um grupo de judeus na Praça Zion, em Jerusalém, declarou em entrevista: “A polícia e a mídia estão cometendo um linchamento contra estes jovens judeus. Quando jovens judias são atacadas pelos árabes selvagens, não têm a quem recorrer. Me parece que estes jovens judeus ergueram a honra judaica do chão”.

Descreveu a mesquita Domo da Rocha, uma das mais sagradas do islamismo, como “um câncer”.  “O inimigo entre nós é um câncer. O foco e o pináculo deste câncer está na cabeça, na cabeça do Monte do Templo [que é como a direita israelense se refere à Esplanada das Mesquitas, onde estão localizadas as duas principais de Jerusalém, Domo da Rocha e Al Aksa]”.

Ele prosseguiu dizendo que “encontramos, no Monte do Templo, o maior crescimento do câncer e, enquanto o governo de Israel não percebe e extingue este crescimento não conseguiremos trazer o Estado de Israel a sua plena redenção”.

Também foi indiciado por reverenciar Baruch Goldstein (assassino do qual se orgulha de ter um retrato na sala de estar de sua casa), que matou 29 palestinos em 1994 ao disparar uma metralhadora no interior da mesquita Ibrahim que fica ao lado das tumbas dos patriarcas do judaísmo.

Outra acusação diz respeito a seu comportamento racista em um casamento em 2017. Lá ele cantou uma música que incluía as elogiosas referências a Goldsteins: “Abençoado é o homem que entrou no sítio das tumbas, engatilhou sua arma e atirou”.

Em outra entrevista ao Canal 2 de TV , quando perguntado sobre sua posição de combater casamentos entre árabes e judeus, respondeu: “Cacetetes – não há limites para os árabes. Devemos bater neles com cassetetes. Um árabe que sai com uma mulher judia, não creio que deve seguir andando nas ruas de nossas cidades”.

No casamento de sua filha, em 2013, disse que não havia árabes trabalhando na festa. “Entre nós o que existe é a pureza do trabalho judeu. Suponhamos que existisse algum garçom árabe aqui, a esta altura ele não estaria mais servindo comida, ele estaria procurando pelo hospital mais próximo”.   Enquanto perorava estes absurdos fazia gestos de armas nas mãos, como aqueles que os Bolsonaro gostam de fazer em seus comícios.

Há uma semana, estudantes por todo Israel saíram às ruas depois que o ministro da Educação de Netanyahu acrescentou a suas manifestações de racismo uma declaração, em entrevista, quando perguntado sobre sua visão acerca da homofobia. “Graças a Deus meus filhos cresceram de forma natural e saudável”, disse e acrescentou que “a norma é a família composta por homem e mulher”. Uma das manifestantes, entrevistada pelo jornal israelense Yedioth Achronot disse: “O ministro da Educação é que precisa ser educado”.

NETANYAHU BUSCA UNIR RACISTAS PARA SALVAR SUA PELE

Ao final do dia de quarta-feira, quando os partidos tiveram que entregar suas listas, o partido de Gopstein não foi incluído, apesar das pressões de Netanyahu (em seu vale-tudo para salvar sua pele) para que ele fosse absorvido, pois nem os direitistas que se aliam a Peretz deixaram de perceber o grau de histeria racista a que chegaram e o quanto isso lhes tiraria de votos.
Um dos elementos ligados a Gopstein, Itamar Ben-Gvir, depois que o ministro descumpriu sua promessa, o chamou de “mentiroso” e “indigno de confiança”.