Em meio à pandemia do novo coronavírus, o índice de abstenção do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020 atingiu 55,3% do total de candidatos confirmados no segundo dia de prova, no domingo (24), de acordo com Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Este é o maior índice de toda a história do Enem.

De acordo com o balanço do Inep, eram esperados 5,5 milhões de candidatos, dos quais 2.470.396 pessoas compareceram às provas (44,7%) deste domingo e 3.052.633 (55,3%) faltaram.

A falta de planejamento e da garantia de estrutura adequada para os estudantes foram registradas já no primeiro dia da prova, quando muitos estudantes foram barrados e impedidos de entrar nas salas por estarem superlotadas.

Os episódios de alunos impedidos de fazer a prova depois que as salas atingiram 50% da capacidade ocorreram em pelo menos 11 locais, nos Estados de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul.

Neste domingo (24), o ministro da Educação, Milton Ribeiro, admitiu que o Inep não garantiu a estrutura para atender a todos os inscritos. “Se houve um pensamento de 30% (de abstenção), nós estávamos certos. Porque foi de 51% […] imagine se o Inep tivesse contratado tudo (salas para todos os inscritos)? O valor do dinheiro público que haveríamos de usar…”, declarou.

Além do descaso com aqueles que ficaram do lado de fora da prova, candidatos que fizeram a avaliação no primeiro dia relataram salas lotadas e disseram que não foi cumprido o distanciamento mínimo de um metro entre os estudantes. “De repente a sala ficou cheia. Comecei a ter crise de ansiedade”, disse uma estudante que fez a prova em São Caetano do Sul.

Um documento da Cesgranrio, empresa contratada para a aplicação da prova, enviado à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), mostrou um plano de alocar até 81 estudantes em uma sala com capacidade para 100, comprovando que partiu da organização do Enem o planejamento de ocupar as salas com capacidade acima de 50% – percentual de ocupação prometido aos candidatos e informado à Justiça pelo Inep. O ofício foi encaminhado ao Ministério Público Federal em Santa Catarina.

Na semana passada, a juíza federal de São Paulo, Marisa Cucio, reafirmou o direito dos candidatos impedidos de pedir a reaplicação em 23 e 24 de fevereiro.

“Esse infeliz planejamento [casos de lotação nas salas] pode ter prejudicado inúmeros alunos, os quais devem ter garantido o direito de realizar as provas, e o Inep, a obrigação de reaplicá-las nos dias 23 e 24 de fevereiro, data já prevista no edital para reaplicação de provas e para realização das provas no estado do Amazonas e demais cidades onde não houve aplicação da prova em razão de situações regionais decorrentes da pandemia”, disse a magistrada.

A reaplicação do Enem ocorrerá nos dias 23 e 24 de fevereiro, com prazo para pedidos entre às 12h desta segunda (25) até sexta (29).