Foto: Cezar Xavier

No último fim de semana, entre os dias 19 e 21 de maio, a Escola Nacional de Formação do PCdoB João Amazonas realizou seu encontro nacional de professores, contando com a presença da presidenta nacional do partido e ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos. O discurso da ministra destacou a importância da formação política e teórica em um contexto histórico e social complexo.

Luciana expressou seu prazer em participar do encontro dos professores da escola, que desempenha um papel fundamental na formação dos militantes do PCdoB em todo o país. Ela ressaltou que, em meio a uma intensa “guerra cultural” no mundo e no Brasil, a formação e a elaboração teórica se tornam ainda mais cruciais para que os comunistas possam enfrentar os desafios e compreender a “realidade concreta.”

A ministra enfatizou que qualquer partido que deseje enfrentar os desafios do momento atual precisa ter um profundo conhecimento da realidade, e isso pode ser alcançado através do uso das ferramentas do marxismo e do leninismo. Ela elogiou a escola do PCdoB João Amazonas, nestes 20 anos de história, e todos os camaradas envolvidos na formação teórica, considerando esse trabalho precioso para o fortalecimento do partido.

Luciana também destacou a importância da atualização teórica constante, especialmente para os quadros, que desempenham um papel crucial na condução do partido em direção aos seus objetivos estratégicos. Ela mencionou sua própria experiência como aluna da escola do partido e como isso a preparou para a luta política.

“Nós só conseguiremos construir o modelo socioeconômico de socialismo se nós fizermos uma intervenção. Não se desenvolverá naturalmente as forças produtivas. Elas necessariamente terão o exercício do poder político como sendo algo sine qua non para transformar a realidade no rumo socialista. Então, isso não é possível de ser realizado sem estudo, sem reflexão teórica e sem compreendermos a realidade em que estamos inseridos”. 

Tecnologia

A ministra abordou questões contemporâneas, como a revolução tecnológica e a robotização, que impactam profundamente as relações de trabalho e a economia. Ela mencionou a importância de compreender esses fenômenos sob a ótica do interesse público e do bem-estar social.

“O processo de robotização, a indústria 4.0, tem um efeito quantitativo sobre o emprego e especializa a mão de obra. Pedindo nossa atenção para compreendermos por onde vamos caminhar numa perspectiva de acompanhar os avanços tecnológicos sobre a ótica do interesse do bem-estar social, da qualidade de vida, de mais tempo para a reflexão e a inteligência”, afirmou.

“A era digital coloca desafios impressionantes, impactam no modelo de produção, e até na relação de trabalho de maneira muito intensa. Assim como a inteligência artificial e os aplicativos, hoje há fenômenos do desenvolvimento tecnológico que conformam um novo arranjo de negócios que nós precisamos compreender”, disse ela, citando o Uber e o AirBnB, aplicativos de prestação de serviços de transporte e hotelaria. Ela observa que são negócios bilionários que não têm patrão, nem trabalhador, nem patrimônio no contrato.

“Mas as relações de trabalho de patrão e empregado existem, só que de uma maneira que não há contrato, e com isso precariza o trabalho de modo que induz a um debate ideológico muito forte”, explicou, mencionando a força da narrativa de que esses trabalhadores são convencidos de que são donos de seus negócios, apesar da condição sub-humana de trabalho. Segundo ela, o Ministério do Trabalho no Governo Lula está atento à regulamentação dessas atividades.

Luciana Santos também destacou a ascensão da extrema direita no cenário político global e os desafios associados a isso, bem como a importância de lutar pelo êxito do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um caminho para fortalecer as forças democráticas e de esquerda no Brasil.

Ela afirma que não podemos fazer comparações com o contexto anterior do presidente Lula. “Aquele era um tempo de alta das commodities no mundo, não existia o cenário político de crescimento expressivo da extrema-direita no mundo e o povo está menos paciente por óbvio, porque tem tido reveses, muito sofrimento no seu dia a dia, de desemprego, de fome, covid, precarização do trabalho. Então é um contexto de muito mais impaciência, porque as condições do povo se complicou e se deteriorou muito mais”, analisou.

Ela abordou a complexa conjuntura internacional, marcada por tensões e crises econômicas, e ressaltou a competição pelo domínio tecnológico, como na corrida pelo 5G, destacando a importância de o Brasil compreender e enfrentar esses desafios. A dependência industrial brasileira se revelou com a pandemia e a guerra na Ucrânia.

“A lógica liberal globalizante não funciona, é a falência das nações. Hoje há, por parte das nações e dos interesses nacionais, uma ótica de regionalização da produção novamente, para diminuir a dependência externa de produtos de valor agregado, de cadeias globais mais dinâmicas”, avaliou. “É um processo vertiginoso da disputa geopolítica, que tem como centro a competição pelo domínio do recurso tecnológico”, diz ela, citando a disputa agressiva da Boeing pelos cérebros da Embraer, um patrimônio nacional da indústria aeronáutica.

Por fim, a dirigente do Partido enfatizou que, em um contexto de transformações aceleradas, é fundamental para os comunistas e forças progressistas permanecerem atualizados, debaterem e se envolverem na luta política, contribuindo assim para a construção de um futuro mais justo e igualitário.

O encontro nacional de professores da Escola Nacional de Formação do PCdoB João Amazonas foi marcado por reflexões profundas sobre o papel da formação política e teórica na preparação dos militantes para os desafios contemporâneos, reafirmando o compromisso do partido com a construção de um Brasil mais democrático e socialmente justo.

(por Cezar Xavier)