Ministra alemã adverte sobre “revoltas populares” sem o gás russo
O governo da Alemanha reconheceu que, se a turbina reparada do gasoduto Nord Stream 1 não for recebida, o país poderá enfrentar consequências políticas internas devastadoras – “revoltas populares”, nas palavras de Annalena Baerbock, a ministra das Relações Exteriores, em entrevista à RND sobre as negociações com o Canadá para devolução, como registrou o portal Sputnik.
“Os canadenses disseram: ‘Temos muitas perguntas’, então dissemos: ‘Podemos entender isso, mas se não conseguirmos a turbina a gás, não teremos mais gás, e então não seremos capazes de fornecer qualquer apoio à Ucrânia, porque então estaremos ocupados com revoltas populares.”
Ao ser questionada se realmente considera que poderiam acontecer revoltas populares, a chefe da diplomacia alemã remendou dizendo que isso foi “talvez um pouco exagerado”, acrescentando que estava levando em consideração a situação em que a Alemanha ficasse sem gás.
“O que quero dizer é que continuamos a precisar do gás da Rússia”, explicou, assinalando que “o objetivo do governo federal é mitigar o impacto social”.
Baerbock afirmou ainda na entrevista que os atuais altos preços do gás [porque comprado no mercado à vista e não o fornecido a preço fixo pela Gazprom] são “um grande fardo” para muitas pessoas na Alemanha. “Essa é a nossa importante tarefa para o inverno, devemos garantir que esta guerra não leve a uma divisão na sociedade”, sublinhou.
As consequências devastadoras – para a economia alemã e para o mercado de trabalho – já haviam sido descritas como “um cenário de pesadelo político” pelo ministro da Economia, Robert Habeck, companheiro de Baerbock na direção do partido Verde. Embora este haja se especializado em inócuos apelos à população alemã para que “enfureça Putin” tomando banho “mais curto” e “baixando a temperatura” de aquecimento.
Indústria alemã
Não faltam na Alemanha alertas sobre o desastre de rompimento com a Rússia para atender a Washington e ao regime de Kiev. Proibir gás russo geraria “ataque cardíaco” na indústria alemã, advertiu o presidente da Associação da Indústria Química da Alemanha, Christian Kullmann. “Os produtos químicos são necessários para 90% de todos os processos da nossa produção”, em grande parte alimentada com o gás importado da Rússia, enfatizou.
As consequências, para Berlim, da adoção das sanções dos EUA contra a Rússia estão à vista. A Alemanha, maior exportadora europeia, registrou no mês de maio o primeiro déficit comercial em 31 anos, desde 1991. A informação é do Bureau Federal de Estatísticas alemão (Destatis), com as exportações caindo 0,5% em relação ao mês anterior.
A principal importadora alemã de gás, a Uniper, foi resgatada do colapso pelo governo alemão, que concedeu 17 bilhões de euros, o que inclui passar a controlar 30% do capital da empresa, e a ampliação de uma linha de crédito de 2 para 9 bilhões de euros. A principal causa do baque financeiro da Uniper foi ter de arcar com o enorme diferencial de preço entre o gás russo e o do mercado à vista, após a Gazprom ter reduzido o fluxo para 40% do normal devido a problemas com turbinas necessárias para fazer a compressão do gás.
A Gazprom retomou o fornecimento normalmente após os dez dias regulamentares de manutenção anual do Nord Stream 1, mas o fluxo continua reduzido devido à não solução para o problema das turbinas, pois só uma das duas a serem reparadas foi liberada pelo Canadá.
No início de julho, o governo de Ottawa anunciou a emissão de “licença temporária e revogável” para a entrega da turbina Siemens para o oleoduto russo de volta à Alemanha, apesar das sanções, e a Rússia continua aguardando que o problema seja definitivamente sanado.