Paulo Guedes foi muito ágil e prestativo em “injetar liquidez” aos bancos. Com o coronavírus, imediatamente o Banco Central recebeu ordens para aportar um volume gigantesco de dinheiro no caixa dos bancos. O montante liberado chegou na casa do trilhão de reais, com se viu já no dia 23 de março na manchete do jornal “O Globo”: “O Banco Central (BC) anunciou novas medidas nesta segunda-feira que liberam R$ 1,2 trilhão em liquidez no mercado para mitigar os efeitos econômicos do coronavírus”.
Alguns dias antes, o Banco Central já havia reduzido a alíquota de pagamentos compulsórios (parcela dos depósitos que os bancos são obrigados a manter em reservas), cujo impacto estimado é de R$ 68 bilhões na economia. Pois bem. Tudo isso foi feito de imediato. Não precisou de nenhuma grande discussão. Os bancos nem precisaram pedir. Uma agilidade impressionante.
Já para socorrer os trabalhadores por conta própria e ajudar as empresas produtivas a manterem os empregos, o ritmo é outro. Devagar, quase parando. Alegaram a necessidade de medidas aprovadas pelo Congresso Nacional. O Congresso respondeu com rapidez. Mas, até agora, o dinheiro não chegou.
Guedes faz um jogo cínico porque diz que o povo deve ficar em casa, como recomenda o Ministério da Saúde e OMS, mas não libera o dinheiro necessário para que as pessoas possam ficar em casa. Ele sabe que, sem garantir os recursos para manter sua família, para se alimentar, a tendência é o desespero das pessoas e a pressão para afrouxar a permanência em casa. Exatamente o que quer Jair Bolsonaro.
Bolsonaro não solta o dinheiro e grava vídeos com o povo reclamando que não tem dinheiro para se manter em casa. É assim que ele pressiona para derrubar a orientação de ficar em casa. É assim que Bolsonaro quer expor a população ao risco de morte.
Completamente insensível, o governo inicialmente queria dar uma “ajuda” com ridículos R$ 200 por mês para os mais pobres, os autônomos e informais que perderam a sua renda. O Congresso pressionou e a proposta final ficou em R$ 600, podendo chegar a R$1.200 por família. Mas, aí começaram as dificuldades. Num cinismo sem igual, Guedes questionou “de onde sairia o dinheiro” para pagar essa ajuda. O valor dessa ajuda é calculado em R$ 48 bilhões por mês, por três meses.
Diversos economistas, inclusive do campo do campo neoliberal, defendem que se use os recursos do Caixa Único do Tesouro que tem um saldo de R$ 1,35 trilhão. Há outros, como Bresser Pereira, Eduardo Moreira, Nilson Araújo, etc, que dizem que o país pode perfeitamente emitir moeda para enfrentar a calamidade.
Guedes já tinha feito uma grande demagogia ao anunciar um “pacote de ajuda” que, na verdade, não passava da antecipação do 13º dos aposentados e retardado a cobrança de impostos, como se isso significasse uma ajuda real. Era apenas postergar o problema e usar dinheiro dos próprios aposentados como se fosse dinheiro novo. Quando no mundo inteiro, os governos abriram os cofres para ajudar suas populações, a desfaçatez de Guedes e de seu cúmplices ficou escancarada. Nessa época ele ainda aproveitou-se da gravidade da crise para chantagear o Congresso Nacional exigindo a privatização da Eletrobrás e outras medidas de arrocho a estados e municípios. Chegou a sugerir a redução geral de salários dos servidores.
O ministro de Bolsonaro chegou ao cúmulo de exigir uma Proposta de Emeda Constitucional (PEC) para poder liberar os recursos emergenciais dos trabalhadores autônomos e informais. Fez essa exigência, mesmo tendo o aval do Congresso Nacional, que aprovou a situação de calamidade pública, do Supremo Tribunal Federal (STF), que, através de decisão do ministro Alexandre de Moraes, retirou todas as travas legais para que o socorro de emergência pudesse sair do papel. Até o rigoroso Tribunal de Contas autorizou o uso emergencial das verbas para o socorro, mas Paulo Guedes seguiu fazendo corpo mole. Seguiu exigindo o cumprimento de toda a burocracia e até a mudança da Constituição.
Agora, quando o mundo inteiro jogou as restrições neoliberais contra o povo na lata do lixo, Guedes continua insistindo nessa excrescência. Está sentado em cima do dinheiro e ainda defendeu a proposta de congelar por dois anos os salários dos servidores públicos. Exatamente dos servidores públicos que estão na linha de frente do combate ao coronavírus que são os profissionais da saúde pública, os bombeiros, etc. Os mesmos servidores públicos que Guedes chamou de parasitas há alguns meses.
Em conferência com empresários no último fim de semana, o crápula aproveitou para alertar que os brasileiros poderiam usar a crise para dar “calotes”. “Não podemos cair na atração fatal do calote, da falta de pagamento”, disse o ministro.
Não é por acaso que isso veio à mente do ministro. Ele conhece bem esse tipo de atitude. Aliás, é investigado por isso. E mais, até agora, é ele e Bolsonaro que estão dando um tremendo calote no povo, ao retardar até não poder mais os recursos emergenciais aprovados pelo Congresso Nacional.
A política anti-povo, pró-banco e de destruição nacional que Guedes e Bolsonaro vêm implementando está cobrando agora o seu preço. Ele vem na forma de falta de leitos, de médicos, de respiradores e até de máscaras. Esta política destruiu a indústria nacional e afundou o país. Agora ela esta sendo atropelada pela urgência da crise.
Com a irrupção da pandemia do Covid-19 a política neoliberal foi para o espaço. O país está à beira do abismo e só o Estado poderá amenizar o desastre. Só Bolsonaro, Guedes e seus cupinchas fingem que não é com eles e insistem em sentar no dinheiro.
Os empresários cobraram de Guedes os recursos para evitar o colapso da economia, mas ele continua sentado no cofre defendendo os bancos. O ministro não tem nada a dizer a eles. Acenou com a única coisa que sabe fazer. Prometeu mais arrocho aos trabalhadores e mais assalto ao patrimônio e aos recursos públicos. Prometeu seguir golpeando a Previdência Social pública com eliminação de contribuições patronais para as aposentadorias.
Guedes acenou também aos empresários com a eliminação dos “custos de mão de obra” no futuro. Ele chamou os direitos trabalhistas, que pretende eliminar, de “armas de destruição em massa”. Como se não fosse a sua política e a de Bolsonaro que destruiu em massa as indústrias e os empregos.
Se dependesse de Guedes e Bolsonaro, os trabalhadores informais estariam recebendo, ou melhor, estariam esperando para receber, R$ 200 por três meses para sobreviver na crise do coronavírus. Esse comportamento empedernido de Guedes e Bolsonaro se deve ao fato de que a política neoliberal já morreu, mas eles ainda não. Este é, aliás, um problema a ser logo resolvido rapidamente. Uma solução para já, ou assim que debelarmos o coronavírus.