Filha do ditador Alberto Fujimori, a líder direitista foi beneficiadas propinas

A Justiça do Peru retomou nesta terça-feira a definição das acusações contra a ex-candidata presidencial e líder opositora de direita Keiko Fujimori, que pode ser condenada a 30 anos e 10 meses de prisão pelo gigantesco escândalo de corrupção com a construtora brasileira Odebrecht.

O propinoduto com a empresa que se estendeu por diversos países latino-americanos e caribenhos envolveu outros quatro ex-presidentes, como Alan García (1985-1990 e 2006 e 2011), que se suicidou quando ia ser preso em abril de 2019.

Na audiência preliminar, o Ministério Público acusou a filha mais velha do ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000) – que já está preso – de “lavagem de dinheiro, crime organizado, obstrução à Justiça e declaração falsa em procedimento administrativo”.

A batalha retornou ao primeiro plano judicial quase três meses após o término do segundo turno em que Keiko, do partido Força Popular, foi derrotada pelo professor Pedro Castillo, do Peru Livre. Caso tivesse vencido, ela teria conseguido a tão esperada imunidade para fugir do processo e assim adiar por cinco anos mais a tão sonhada decisão dos tribunais.

Diante da montanha de provas, o promotor José Domingo Pérez pediu à Justiça em 11 de março que a criminosa deixe de se utilizar da influência política que ainda mantém – seu partido é a segunda força do país – para postergar a confrontação com os fatos.

A audiência de “controle da acusação” desta terça-feira foi uma etapa preliminar no julgamento penal e será conduzida pelo juiz Víctor Zuñiga.

Keiko Fujimori não necessitou se fazer presente na audiência, mas sua advogada declarou à AFP que os acusados não eram obrigados a assistir a esta fase intermediária do processo, a última antes do julgamento.

Esta etapa pode durar dias ou semanas, com o magistrado avaliando a acusação fiscal e decidindo se aceita tudo ou parte da ata acusatória. O juiz é o mesmo que a enviou à prisão preventiva em janeiro de 2020, de onde foi libertada três meses depois por conta da pandemia. No entanto, em junho passado, desconsiderou levá-la para a prisão por um novo pedido.

Desde maio de 2020, Keiko Fujimori encontra-se em liberdade condicional, o que a impede de sair de Lima ou viajar ao exterior sem permissão judicial e inclusive reunir-se ou falar com testemunhas do caso.

Junto com a líder opositora foram acusadas outras 39 pessoas, como seu marido, o americano Mark Vito Villanella, e ex-assistentes e integrantes da cúpula do seu partido, o Força Popular.

Alertando que o partido de Keiko se tratava de uma “organização criminosa”, o promotor José Domingo Pérez já havia solicitado no ano passado que proscrito. Ainda com grande influência do fujimorismo, a Justiça peruana rejeitou a solicitação em 28 de dezembro de 2020, o que permitiu a criminosa disputar as eleições gerais de abril e conquistar 24 cadeiras no Congresso de um total de 130 – bem menos do que as 73 que controlava.

Agora o Congresso é liderado pelo partido governista de esquerda Peru Livre (37), que nesta semana conseguiu uma expressiva vitória sobre o narco-fujimorismo ao conquistar por 73 a 50, o voto de confiança ao gabinete do presidente Pedro Castillo, apresentado pelo premiê Guido Bellido.

Em sua ficha criminosa, Keiko esteve duas vezes em prisão preventiva (16 meses no total), acusada de receber aportes ilegais e lavá-los com a ajuda dos coacusados nas campanhas eleitorais de 2011 e 2016.