Ministério da Saúde teve apagão por 5 dias sem informações da Covid-19
Um apagão de informação tomou conta do Ministério da Saúde em plena pandemia. Desde sexta-feira (06) as unidades de saúde dos estados não conseguem nenhuma comunicação para informar o órgão sobre os casos de Covid-19.
A “pane” foi tão grave que o Instituto Butantan informou à Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), órgão ligado ao Ministério, no dia 6, sobre a ocorrência de um evento com um participante da pesquisa sobre a CoronaVac, mas os técnicos do órgão só viram a mensagem no dia 9, segunda-feira, quando intempestivamente resolveram interromper a pesquisa.
O ministério não informou às secretarias de saúde sobre o problema que estaria afetando seus computadores. Ninguém conseguia se comunicar com Brasília.
As unidades de saúde, públicas ou particulares, são obrigadas a comunicar os casos em 24 horas nesses sistemas. Mas, segundo a Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, os problemas para entrar no Sivep-Gripe e colocar as informações começaram na sexta-feira. O estado também enfrenta a mesma situação para pegar esses dados, checar essas informações e divulgar.
“Informo que desde a última sexta-feira não estamos sendo fomentados com os dados pelo Ministério da Saúde, que é o sistema Sivep-Gripe por problemas técnicos. Assim como nós, alguns outros estados também não estão recebendo esses dados e, dessa forma, enviei um ofício ao Ministério da Saúde solicitando a imediata retomada do sistema de identificação, para que possamos acompanhar atentamente a evolução da pandemia em nosso estado”, disse o infectologista Jean Gorinchteyn.
Os dados sobre a pandemia ficaram inacessíveis. Especialistas alertaram que isso era muito grave e que não poderia estar acontecendo pois deixava os gestores de saúde às cegas. Mas aconteceu. E deve ter motivo. E esse motivo está no desinteresse do governo federal em enfrentar seriamente o problema da Covid-19. Afinal o presidente da República não quer saber mais nada sobre pandemia.
Em uma solenidade no Palácio do Planalto, Bolsonaro reclamou que “só se fala em pandemia neste país”. Ele gostaria de mudar de assunto pois não tem nada a dizer sobre o problema. Ou melhor. O que ele tem a dizer sobre os mais de 163 mil mortos é que esse é um “país de maricas”, de gente que insiste em não “enfrentar o vírus de peito aberto”. “No meu tempo não era assim”, disse ele.
Além de reclamar de que “só se fala em pandemia no Brasil”, Bolsonaro também atacou os esforços para a obtenção de uma vacina contra o coronavírus.
Sem a menor preocupação em provar o que dizia, ele afirmou que a CoronaVac, vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac, causaria “morte, invalidez, anomalia”.
Disse isso ao mesmo tempo que comemorava a decisão estapafúrdia da Anvisa de interromper as pesquisas do Butantan, mesmo sabendo que o evento comunicado pelo instituto não tinha ligação com o uso da vacina.
Depois de cobrado publicamente pelo descaso, o ministério da Saúde informou através de nota que “está revisando todas as camadas de segurança dos sistemas de Informação do SUS, o que pode ocasionar intermitência nos sistemas e na disseminação de informações da saúde durante o fim de semana”.
Não é demais lembrar que Bolsonaro demitiu dois ministros da Saúde que não concordaram com suas insanidades e colocou para dirigir o órgão um general que não entende absolutamente nada de saúde e uma equipe sem nenhuma experiência em Saúde Pública.
Para o epidemiologista Pedro Hallal, reitor da UFPel, a falta de informação da situação real do avanço do coronavírus no país deixa gestores da saúde e pesquisadores no escuro e atrapalha as estratégias de combate à pandemia.
“Não é aceitável que, em um momento como esse, uma informação tão crucial como o número de casos e o número de mortes, que são usadas para calcular a média móvel, estejam faltando em alguns estados do Brasil. Não é com falta de informação que a população vai conseguir sair bem dessa pandemia do coronavírus. Quanto mais informações tivermos, melhores serão as nossas decisões sobre o que fazer no momento da pandemia: ficar em casa, voltar gradativamente às atividades. Falta de informação nesse momento é inaceitável”, avaliou