Minha agenda é o Maranhão e as eleições, diz Flávio Dino
O governador Flávio Dino (PCdoB-MA) revelou seu foco principal para o ano que se inicia: “minha agenda em 2020 não tem nada a ver com eleição presidencial. A minha agenda, neste ano, é a gestão do Maranhão e, no plano da política, as eleições municipais”, afirmou em entrevista exclusiva ao repórter Manoel Santos Neto, do Jornal Pequeno.
Ao receber a reportagem do JP, no Palácio dos Leões, na manhã de sexta-feira (3), o governador afirmou que o prefeito da capital, Edivaldo Holanda Junior (PDT), irá coordenar a sucessão em São Luís. O governador ponderou ainda que os apoios em demais cidades devem sempre respeitar cada um dos diversos partidos que garantiram sua eleição:
“No caso dos municípios em que haja uma disputa entre dois aliados, ou seja, duas pessoas que me apoiaram, fizeram campanha, em 2018, do mesmo modo eu não vou me posicionar, porque respeito todos os partidos que fizeram com que nós pudéssemos ter vencido as eleições de 2018”, explicou.
Por conta do noticiário nacional, Dino fez questão de esclarecer sua recente conversa com Luciano Huck e o encontro pessoal que terá ainda este mês com o ex-presidente Lula.
“Qual é o fato? Houve o encontro [com Huck]. E a especulação? De que nós discutimos chapa. É claro que não discutimos. Em nenhum momento este assunto foi tratado. Portanto, é preciso sempre ter serenidade para distinguir uma coisa da outra: o que é fato e o que é especulação”, esclareceu.
Eis a entrevista do Jornal Pequeno, na íntegra:
Jornal Pequeno – 2020 mal começou e o seu nome aparece no noticiário nacional como um dos mais comentados nas análises sobre a futura eleição presidencial de 2022. O que existe de fato e o que é apenas especulação
Flávio Dino – Desde sempre, desde que ingressei na política, tenho a visão de que precisamos sempre dialogar para encontrar alianças que ajudem ao cumprimento dos objetivos. Neste caso concreto da futura eleição presidencial, o que tenho procurado sublinhar é que, assim como fizemos no Maranhão uma grande aliança, é possível e necessário fazer no Brasil um diálogo mais amplo do que apenas com as forças de esquerda.
Então eu tenho percorrido sempre eventos, tenho proferido palestras, concedido entrevistas, tenho participado de encontros com várias lideranças de vários partidos. E tenho feito isto especialmente com as lideranças que pertencem ou são próximas aos partidos com os quais nós mantemos relação aqui no Maranhão.
Então eu converso muito com lideranças do Congresso Nacional e possíveis pré-candidatos a presidente da República, para encontrar caminhos para o Brasil, dialogar sobre os problemas do País, sobre propostas, sobre idéias, sobre ações que nós estamos desenvolvendo no Maranhão, ou nas nossas regiões, no Nordeste, na Amazônia. Faço isso também com os governadores e às vezes há, aí sim, uma visão puramente especulativa a partir dos fatos reais.
O encontro com Luciano Huck é fato real?
É fato. Sim, encontrei-me com o Luciano Huck. É fato real. É verdadeiro. Aconteceu este encontro agora em dezembro, na Casa das Garças, na Gávea, no Rio de Janeiro. Eu fui convidado para dar uma palestra nesta instituição. Quem fez o convite foi o ex-governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, com quem eu tenho uma ótima relação desde o tempo em que eu exerci o primeiro mandato de governador do Maranhão e ele era o governador do Espírito Santo.
A Casa das Garças é uma instituição mais ligada ao pensamento liberal: Pedro Malan, Edmar Bacha, Fraga, este pessoal. E eles me convidaram para uma palestra sobre o Brasil, falar sobre economia, sobre política enfim. E ao mesmo tempo Paulo Hartung fez esta mediação. Eu já tinha tido algum contato anterior com o Luciano.
Outras conversas que nós mantivemos ao longo do ano e tivemos esta reunião recente – no começo de dezembro.
E aí vem a diferença entre o fato e a especulação. Qual é o fato? Houve o encontro. E a especulação? De que nós discutimos chapa. É claro que não discutimos. Em nenhum momento este assunto foi tratado. Portanto, é preciso sempre ter serenidade para distinguir uma coisa da outra: o que é fato e o que é especulação.
A sua conversa com Luciano Huck abordou que assuntos?
Conversamos sobre o Brasil, impressões sobre a situação política do País, sobre a necessidade de nós termos alianças políticas amplas, sobre situações partidárias, uma vez que ele tem uma simpatia pelo Cidadania, que é o antigo PPS, que é o partido da senadora Eliziane, e ele conhece a Eliziane.
Então nós conversamos um pouco sobre isso, e sobre o Maranhão, conversamos sobre os programas que nós fazemos aqui no Estado, sobretudo na área da educação. Ele perguntou muito sobre isso, sobre os programas educacionais que nós estamos implementando.
Demonstrou muito interesse sobre isto. Enfim, uma conversa em que em nenhum momento se tratou de eleição de 2022. Isto não entrou na pauta.
O senhor acha que está havendo precipitação nesse debate sobre a sucessão presidencial?
Acho que, no momento, seria extremamente precipitado. Eu diria até insensato, porque há um caminho longo até chegar lá. Porque haverá nas eleições municipais de 2020 uma espécie de medição de forças políticas, para que cada um saiba mais ou menos qual vai ser sua posição no futuro tabuleiro eleitoral de 2022.
Então não há uma conversa objetiva, nem pode haver, antes disso, até o final de 2021. Não se pode ter precipitação no tratamento destas coisas. O que eu acho importante entender é que eu prefiro que estes segmentos do chamado centro político estejam conversando conosco, da esquerda, do que conversando com a direita.
Este é o ponto central. Alguns acham que é melhor eles conversando com a direita. Não. Eu prefiro que eles conversem conosco, porque quanto mais a gente soma, melhora.
Há de fato em sua agenda um novo encontro marcado com o ex-presidente Lula?
Sim, tenho com ele um encontro marcado. Conversei com o ex-presidente Lula duas ou três vezes depois que se encerrou o cumprimento da medida imposta a ele pela Justiça. Conversei, desde que ele foi solto, por telefone, umas três vezes. E temos um encontro pessoal agora marcado, num evento do Instituto Lula, no dia 20 de janeiro.
Então eu acho isso normal: conversar sobre o Brasil, sobre os rumos da economia. É preciso ter serenidade para entender que isto só vai ter desdobramento, pode ter desdobramento ou não, em 2022. Nós estamos em 2020. Nós temos um longo caminho a percorrer.
No seu caso específico, qual é este longo caminho?
Em primeiro lugar, o foco na gestão administrativa e, no plano da política, as eleições municipais. A minha agenda em 2020 não tem nada a ver com eleição presidencial. A minha agenda em 2020 é gestão do Maranhão em serviços públicos, o cuidado com as finanças do Estado e, no plano da política, as eleições municipais no Maranhão. Esta é a minha agenda para 2020.
Houve uma reação do PT à notícia de suas conversas com Luciano Huck. Como o senhor analisa a reação do vice-presidente do PT, deputado federal Paulo Teixeira?
Achei uma reação simpática, achei uma reação positiva. Uma reação fraterna, eu diria, de quem busca reafirmar um diálogo que nós mantemos historicamente, como todos sabem. Eu conversei ontem por telefone tanto com o Paulo Teixeira quanto com o próprio Luciano Huck. Tudo normal.
É um ambiente, e que eu acho positivo, em que se reafirma um conceito. Qual é o conceito? Conceito fundamental de que o diálogo é a essência da saída para a crise brasileira. Nós temos uma crise profunda no Brasil, econômica e social, e quanto mais diálogo a gente tiver mais rapidamente a gente sai da crise.
Como o senhor concebe uma futura aliança do seu partido, o PCdoB, com o PT?
O PT é um partido historicamente aliado do meu partido. Tem uma grande liderança, a maior liderança nacional, que é o ex-presidente Lula. E nós pertencemos ao mesmo campo, campo da esquerda brasileira. Tenho certeza de que o meu partido tem o PT como aliado preferencial em qualquer movimento político. Mas não apenas o PT.
Nós temos outras forças da esquerda brasileira que são igualmente importantes. Eu sempre cito a relevância, por exemplo, de uma liderança como Ciro Gomes. Temos outros partidos: o PSB, o próprio PDT. Então, não é um jogo de um só. É um jogo de muitos. Graças a Deus.
Embora considere este debate precipitado, como o senhor avalia seu nome sendo disputado, desde já, para compor chapa presidencial?
Eu acho que todos os cenários são possíveis. Eu não tenho problemas com nenhum deles. Porque não é uma questão pessoal. É uma questão de um conjunto de forças políticas. Eu sempre deixei claro, no caso do Maranhão, que eu poderia ser candidato a isso ou aquilo, dependendo deste conjunto de forças.
Eu me dispus, desde 2014, a ser candidato ao Senado, se fosse o caso. Agora mesmo em 2018, poderia ter sido candidato ao Senado, por exemplo. Em 2022, idem. Então, não é uma questão de posição A ou B, decidida individualmente.
Porque eleição majoritária, como o nome diz, é aquela segundo a qual vence quem forma maioria. E para formar maioria é preciso ter aliança ampla. Então, não é uma decisão que vai me caber pessoalmente. É uma decisão de um conjunto de forças. E eu tenho três opções em 2022. E em 2022 eu vou decidir.
No cenário atual, qual destas três opções pesa mais?
Bom, eu posso continuar no governo até o final. Eu posso sair do governo e ser candidato ao Congresso Nacional: deputado ou senador. E posso integrar alguma chapa presidencial, em qualquer das duas condições. Mas isto é uma decisão em 2022.
Em relação às eleições municipais, qual deve ser a sua postura na escolha dos candidatos do seu grupo político?
Sempre no sentido da mediação. Alianças, quanto mais sólidas, melhor para a sociedade. Às vezes há a ideia de que alianças entre partidos interessam apenas aos políticos. Não.
As alianças são necessárias para que se possa não só vencer eleições, mas sobretudo executar as suas metas. Por exemplo, nós mantemos na Assembleia Legislativa uma ampla sustentação política, que é importante para que, em cinco anos de governo, que nós completamos, tenhamos conseguido aprovar leis que estão produzindo efeitos no dia a dia das pessoas: Escolas Dignas, ampliação de cirurgias que vamos fazer agora, o Mais IDH, o Cidadão do Mundo, o Mutirão Rua Digna, o Mais Asfalto.
São leis votadas na Assembleia Legislativa, porque nós temos uma aliança que permite que nós viabilizemos as nossas políticas. Então, coerente com esta visão, uma visão ampla, aliancista, é que nós vamos procurar preservar ao máximo o quanto possível este campo de 16 partidos que se uniram em 2018.
Naturalmente, nós sabemos que em 217 cidades isto não é 100 por cento viável. Mas nós vamos nos empenhar para que, no máximo quanto possível, estes partidos estejam unidos.
Em São Luís, o seu grupo político vai conseguir manter a unidade?
Bom, em São Luís, temos uma situação um pouco mais complexa, porque nós temos vários ótimos pré-candidatos. De modo que muito provavelmente, no caso de São Luís, eu vou conversar com o prefeito Edivaldo, que é o coordenador do processo, uma vez que é o mandato dele que estará sendo sucedido.
E em seguida, muito provavelmente, caso se mantenha a pluralidade de vários pré-candidatos do nosso campo, eu devo apenas me posicionar no segundo turno, como já foi em 2016, em que nós tínhamos a candidatura do atual prefeito Edivaldo e da senadora Eliziane, e eu só me posicionei, apoiando no caso o Edivaldo, no segundo turno.
São Luís é sempre um caso à parte, porque é mais complexo, ainda mais porque, como disse, nós temos pelo menos meia dúzia de ótimos pré-candidatos, que me apoiaram para eu poder chegar ao Governo do Estado, e eu vou respeitar todos os aliados.
Como vai se dar a definição do nome do candidato do grupo que vai disputar a sucessão do prefeito Edivaldo?
O prefeito Edivaldo pediu para que nós conversássemos em março, após o Carnaval. Quando passar o período do Carnaval, que é por volta de 20 de fevereiro, aí eu vou ter uma reunião com o prefeito Edivaldo e ele vai coordenar o processo em São Luís, tentando unificar ao máximo as forças do nosso campo.
Ele é que vai conduzir. Eu já acertei isso com ele. Ele é que vai conduzir as reuniões, assim como em 2018 fui eu que conduzi, no caso de 2020 será ele que vai conduzir: chamar os partidos, os presidentes municipais, e tentar ir construindo uma união, a mais ampla quanto possível for. É muito difícil pensar que todos os 16 partidos estarão juntos, mas quanto mais partidos, melhor.
E no caso dos municípios em que a disputa vai se dar exatamente entre dois aliados?
Bom, no caso dos municípios em que haja uma disputa entre dois aliados, ou seja, duas pessoas que me apoiaram, fizeram campanha, em 2018, do mesmo modo eu não vou me posicionar, porque respeito todos os partidos que fizeram com que nós pudéssemos ter vencido as eleições de 2018.