Para marcar o Dia da Visibilidade Trans, o jornal Folha de S. Paulo publicou, em sua edição deste sábado (29), reportagem sobre a trajetória de Danieli Balbi, 32 anos, militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), professora no Rio de Janeiro e pré-candidata a deputada estadual. Na matéria, ela conta sobre a luta pelo direito à afirmação de seu gênero e as dificuldades enfrentadas por essa população.

Num país marcado por profundas desigualdades e no qual a população trans é afetada por forte discriminação e violência, a história de Dani é uma exceção que confirma essa triste regra. Com mestrado e doutorado em Ciência da Literatura, foi a primeira docente trans da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), onde atuou por dois anos. Foi candidata do PCdoB a deputada estadual em 2018 e hoje leciona na rede estadual, além de atuar na Comissão da Mulher da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e cursar mais uma nova graduação, desta vez em Ciências Econômicas.

“Hoje, 90% dos transgêneros estão na prostituição, embora queiram sair dessa situação. Por isso, é necessário incentivo à escolarização formal, qualificação profissional por meio de cursos técnicos e nas universidades”, declarou.

Ao mesmo tempo em que desenvolveu sua carreira, Dani teve de enfrentar uma série de obstáculos comuns à população trans, especialmente no que diz respeito a afirmação do gênero. Ao buscar seu direito à redesignação sexual, teve de superar dificuldades dentro do próprio sistema  público. “Precisei acionar a Secretaria de Saúde. Então foi um processo pedagógico até para os funcionários do posto de saúde. Portanto, apesar de termos conseguido muitas coisas, ainda há um longo caminho”, disse ao jornal.

Ela relatou que durante sua vida, sofreu “pequenas transfobias, aquelas cotidianas, muitas em relação ao pronome. Na transição entre o mestrado e o doutorado tive depressão e, com o incentivo de amigos, decidi iniciar esse processo, pois a minha disforia de gênero era intensa”. Por fim, acabou, com a ajuda de vaquinhas e doações, realizando a cirurgia no sistema privado.

A luta pela mudança de seu nome e gênero em seus documentos também foi intensa. Ela entrou com ação na Justiça ainda no final de 2015, mas foi concedida apenas a mudança de nome, com a justificativa de ainda não ter sido feita, naquele momento, a cirurgia de redesignação. Em 2017, ganhou em segunda instância e pouco depois o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou favoravelmente pela desburocratização para todos.

Dani defende que haja políticas públicas para que o país supere as inúmeras dificuldades historicamente impostas à população trans, oportunidade de escolarização e acompanhamento psicológico, entre outras questões. “Milito pela ciência, alocação de verbas para desenvolvimento de pesquisa pública, mas minha vida é uma eterna militância em diferentes frentes”, colocou.

Lutando no PCdoB

Em postagem recente feita nas redes sociais, Dani Balbi falou sobre sua relação com o partido e integração nas várias lutas travadas pelos comunistas.

Após se colocar como pré-candidata à Alerj nas próximas eleições, a professora declarou: “ingressei nas fileiras do PCdoB há muitos anos, mais de uma década; ingressei cheia de sonhos, muito ingênua, indignada com a exploração, o racismo, a LGBTfobia, o machismo e as desigualdades sociais que perpetuam as assimetrias históricas que caracterizam o Brasil. Aprendi com valorosas e valorosos camaradas a fazer política pela base, entendi o sentido de unidade de ação, de organização, abnegação e luta”.

Dani acrescentou ainda que nesse processo pôde compreender que “a luta coletiva é feita sim dessa indignação, mas também de disciplina, diálogo, unidade e constância. Aprendi a ouvir a inteligência coletiva e sei hoje que juntos nós somos mais fortes, corajosos e potentes do que dispersos”. E concluiu: “Estou aqui, hoje, na luta pelo socialismo que é construída da luta contra o racismo estrutural, o machismo e a misoginia estruturante e a LGBTfobia. Estou, cheia de emoção, força, garra e energia à disposição do meu partido! Viva o centenário. Viva PCdoB!”.

(PL)

Com informações do jornal Folha de S.Paulo