Chega de intermediários na democracia: o bilionário Michael Bloomberg anunciou sua pretensão de disputar a presidência dos EUA – pelo partido Democrata – com o também bilionário Donald Trump.

O duelo de cifrões é mais uma confirmação de que há nos EUA “a melhor democracia que se possa comprar”, num país onde a Suprema Corte considerou que despejar uma himalaia de dólares nas campanhas eleitorais via os chamados PAC faz parte da “liberdade de expressão dos magnatas”.

Com as evidências de corrupção fazendo a campanha do ex-vice Joe Biden murchar, eis que, segundo a mídia liberal, “outra voz moderada” é acrescentada ao já enorme pelotão de pré-candidatos democratas à Presidência. Em março, Bloomberg, que é ex-prefeito de Nova Iorque – aliás, como o advogado pessoal de Trump, Rudy Giuliani -, havia dito que não se lançaria candidato à presidência este ano.

Bloomberg lançou sua campanha com anúncios estimados em U$ 100 milhões. “Não podemos permitir mais quatro anos das ações imprudentes e antiéticas do presidente Trump”, asseverou o magnata, prometendo “reconstruir os EUA”, seja lá isso o que for, mas provavelmente é só um slogan chocho para competir com “Faça a América Grande de Novo”, já patenteada pelo adversário.

Ao mesmo tempo em que foi lançada a candidatura de Bloomberg, segundo o portal norte-americano Politico, o ex-presidente Barack Obama disse a assessores a portas fechadas no início deste ano que ele se oporia ativamente ao senador Bernie Sanders se este abrisse uma grande vantagem na corrida presidencial democrata de 2020.

No início deste mês, Obama disse a uma sala cheia de doadores ricos – estava oferecendo os préstimos da Fundação que leva seu nome – que estava preocupado com “a ala ativista” democrata e com as tuitadas “esquerdistas”, acrescentando segundo o New York Times que “o americano médio não acha que precisamos demolir completamente o sistema e refazê-lo”.

Declaração vista praticamente por todos como uma condenação a propostas tão moderadas quanto estender a todos os norte-americanos o sistema público de saúde que já funciona – e bem – para os aposentados há décadas, ou a gratuidade do ensino universitário, defendidas por Sanders e também por Elizabeth Warren em alguma medida.

A ameaça de Obama foi ironizada pelo editor de Jewish Currents, David Klion: “a pós-presidência de Obama é irritante e cheia de contradições. Ele se considera o líder do partido, mas se recusa a liderar. Ele se considera um sucesso, mas o mero fato da presidência de Trump desmente isso. Ele venceu na esperança e aconselha a desesperança”.

“Os conselheiros de Obama disseram ao Politico que não acreditam que Sanders tenha chance de ganhar a indicação presidencial democrata. Mas uma pesquisa de rastreamento da Morning Consult divulgada segunda-feira mostrou que Sanders ganhou nove pontos desde outubro nos estados em que primeiro vão ocorrer as primárias. Sanders também voltou ao segundo lugar na média nacional de pesquisas da Real Clear Politics.

Conforme Politico, Obama também antagoniza Warren. “No início de 2015, quando Warren estava pensando em concorrer à presidência e começou a animar os progressistas, Obama disse em particular que se os democratas se unissem a ela como candidato, isso seria um repúdio a ele – um sinal claro de que suas decisões econômicas após a Grande Recessão tinham sido visto como inadequadas”, relatou o portal.

Para David Dayen, editor do The American Prospect, os ataques de Obama à ala progressista do Partido Democrata “são música para os ouvidos dos ricos e poderosos”.”Desde alturas elevadas, Obama agora se tornou um amortecedor de esperança, uma barreira à mudança e uma ameaça ao progresso”, concluiu.