Violência contra crianças, mulheres e idosos gerou tumulto entre policiais e migrantes

Os duros enfrentamentos ocorridos nesta quinta-feira (4) entre elementos da Guarda Nacional Mexicana e manifestantes que saíram de toda a América Central – incluindo o Caribe – em direção aos Estados Unidos, deixaram muitos feridos, incluindo dois policiais militares.

O sangrento confronto ocorreu quando os soldados mexicanos tentaram deter a passagem da caravana de mais de quatro mil migrantes – um terço deles crianças – pelo município de Tapachula, em Chiapas, na fronteira com a Guatemala.

O choque que deixou dois policiais feridos, ocorre quase uma semana depois de um outro enfrentamento ter provocado a morte de um dos migrantes da marcha que percorre o sul do México. A Guarda Nacional admitiu na segunda-feira (1) que agentes dispararam contra um veículo em que viajavam migrantes, causando vários feridos e a perda de uma vida.

Nos últimos anos, o aumento da exploração estadunidense sobre a região tem ampliado o número de pessoas desesperadas pela fome, pela miséria e o desemprego, que buscam no outro lado da fronteira alguma perspectiva.

Entidades de direitos humanos protestam

Diante da truculência, o Coletivo de Observação e Vigilância de Direitos Humanos no Sudeste do México (Comdhsem) e outras organizações exigiram a “cessação imediata da repressão” contra a caravana, bem como a “suspensão das políticas de contenção que violam suas garantias”. Conforme as entidades, pôde ser observado “o uso ilegítimo e excessivo da força” contra as pessoas que iniciaram sua caravana em 23 de outubro passado.

“Elementos da Guarda Nacional e do Instituto Nacional de Migração (INM) detiveram cerca de 50 pessoas que haviam ficado para trás, a maioria mulheres, meninas e meninos. Posteriormente, houve outra tentativa de prisão com aproximadamente 70 membros da GN com equipamentos antimotim. Ações de contenção e agressão às quais algumas pessoas do grupo responderam”, disseram em nota.

O Comdhsem, os centros de direitos humanos Digna Ochoa e Fray Matías de Córdova, Serviço Jesuíta Refugiados-México (JRS) e Vozes Mesoamericanas Ação com Povos Migrantes, entre outras inúmeras entidades, denunciaram que a caravana é composta por um número expressivo de famílias com mulheres grávidas, crianças e pessoas com doenças crônicas, em cadeiras de rodas, idosos, contra as quais “tem aumentado muito o assédio”. O fato, condenaram, é que ao longo do trajeto, “dezenas das pessoas que compõem o grupo foram detidas ou as fizeram retornar a Tapachula”, incluindo aquelas que precisam de proteção internacional.

Além disso, as organizações exigiram uma investigação rigorosa sobre o possível feminicídio de uma mulher haitiana em Chiapas e o assassinato de um cubano, que os processos em defesa das vítimas sejam acompanhados pela Justiça e ações sejam tomadas para que garantam a não repetição. Da mesma forma, pediram o fim da criminalização e o respeito aos defensores que acompanham os migrantes.

Em quatro dias caminharam cerca de 70 quilômetros e dobraram de tamanho. Pelo caminho, vão fazendo paragens estratégicas para descansar, tratar lesões, ferimentos e casos de desidratação com a ajuda de voluntários de uma organização de emergência médica.

A região tem registado uma onda de migração sem precedentes desde o início do ano, com um fluxo histórico de 147.000 migrantes indocumentados detectados no México de janeiro a agosto, número três vezes superior ao 2020.