Meta de Bolsonaro para o clima vai na contramão de projeto global
A Coalizão Brasil Clima, Floresta e Agricultura divulgou nota, na segunda-feira (14), em que afirma que a revisão de metas apresentada pelo governo Bolsonaro dentre o Acordo de Paris “mudou parâmetros relevantes que levantam dúvidas sobre o seu nível de ambição e capacidade de planejamento” do governo brasileiro, além de que a “falta de clareza pode dificultar o país na atração de investidores”.
A Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura – movimento composto por mais de 260 representantes do agronegócio, sociedade civil, setor financeiro e academia – ressalta que o plano apresentado “põe em risco os esforços globais para manter o aumento de temperatura média do planeta em, no máximo, 1,5° C até o fim desse século”.
De acordo com a organização, a contribuição que o Brasil deu ao mundo ao controlar suas taxas de desmatamento, entre 2004 e 2012, foi considerada a maior já feita por uma das partes da Convenção do Clima, no entanto, com o governo Bolsonaro, “esse protagonismo tem se esvaído”, além a ausência de diálogo no processo de revisão.
“É fundamental o país alcançar a significativa redução e trabalhar pela eliminação do desmatamento ilegal de seus biomas e combater a ilegalidade. Entretanto, a menção às políticas públicas como parte da estratégia para cumprimento da meta climática foi retirada nessa revisão da NDC [Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), na sigla em inglês], gerando incertezas e insegurança jurídica”, diz a nota.
Os especialistas apontaram que, além de não melhorar seus índices, o governo revisou os números de emissões para o ano-base, o que na verdade permitiria uma emissão de 400 milhões de toneladas a mais do que o previsto inicialmente.
“A redução percentual (de 37% e 43%, em relação a 2005, em 2025 e 2030, respectivamente) permaneceu a mesma na revisão e foi confirmada a redução de 43% em 2030, o que até então havia sido feito somente de forma indicativa. Mas a menção à meta absoluta em giga toneladas de carbono foi retirada, o que chama a atenção, uma vez que o Brasil tinha o grande diferencial de ser o único país emergente a possuir uma meta de redução absoluta de gases de efeito estufa”, diz a nota.
O anúncio da revisão das metas provocou reação imediata, o que fez com que o governo brasileiro ficasse de fora do evento online preparatório para a Conferência do Clima 26, marcada para 2021, que aconteceu no último sábado. O evento foi organizado pelo Reino Unido e previa a fala de 77 chefes de Estado, sendo que a participação do governo brasileiro foi cortada, apesar das tentativas do Itamaraty de reverter a exclusão.