Mentiras de Trump para reverter derrota ‘derretem’ junto com Giuliani
O desmanche da campanha de mentiras de Trump para tentar reverter o resultado da eleição que perdeu para Joe Biden foi mostrado ao vivo, nas cenas bizarras de uma conferência de imprensa em que seu advogado, Rudy Giuliani, suando muito e com a tintura do cabelo escorrendo pela face, atribuiu a derrota a um complô para roubar eleições de inspiração de Hugo Chávez (que morreu há sete anos), que teria criado um software que ‘rouba votos’, operação bancada pelo ‘dinheiro da China comunista’ e ainda por Cuba.
O rap do trumpista doido acabou merecendo a atenção do recém-demitido chefe da agência de Segurança Cibernética dos EUA, Christopher Krebs.
Aquele que atraiu a ira de Trump por ter atestado que a eleição deste ano foi “a mais segura da história americana” e que “não houve votos desviados ou alterados”.
“A conferência de imprensa foram a 1 hora e 45 minutos mais perigosos da televisão na história americana. E também os mais doidos. Se você não sabe do que eu estou falando, você é um cara de sorte”, registrou Krebs pelo Twitter.
A conferência de imprensa de Giuliani ocorreu na sede nacional do Partido Republicano, na capital dos EUA. O jornal Washington Post – que concordou com a observação de Krebs – , ironizou o papelão do ex-prefeito de Nova York e atual faz-tudo para Trump: “derretimento pós-eleitoral de Rudy Giuliani começa a se tornar literal”.
A coadjuvante de Giuliani na farsa foi a advogada Sydnew Powell, tida como autora da estapafúrdia tese, conforme relatou o New York Times, de que o software, que poderia ser conectado externamente de várias formas, teria um algoritmo que manipula certa porcentagem de votos para desviar de Trump para Biden. Powell garantiu ter uma “testemunha bomba” venezuelana.
Como é amplamente sabido, ao contrário de ser um sistema fraudado, o sistema eleitoral estabelecido pelo governo Chávez foi auditado e parabenizado pela Fundação Carter – que só deixou de auditar eleições na Venezuela depois da bagunça trazida por Nicolau Maduro. Um sistema em que cada voto na urna eletrônica correspondia um voto de papel que ficava armazenado e garantia auditoria a qualquer hora.
E o trabalho realizado pelo recém afastado czar da guerra cibernética Krebs foi de dar resiliência ao sistema eleitoral norte-americano, inclusive permitindo auditorias e criando protocolos mais robustos.
Dois ou três dias antes, a tese de Giuliani era que o roubo nas eleições era principalmente coisa de negros, em cidades corruptas como Filadélfia, Detroit e Atlanta …
Giuliani agora chegou a dizer que “o grande erro desta eleição foi usar um programa venezuelano para contar nossos votos. Se permitimos que isso aconteça, é porque estamos nos tornando uma Venezuela”. No caso, o software Dominion, foi relacionado à Smartmatic, que já desmentiu tudo, e inclusive esclareceu que o Dominion não é dela, mas de uma concorrente.
Como se vê, a nova farsa para explicar a derrota de Trump tem certo paralelo com as alegações dos gabinetes do ódio digitais de que “um supercomputador da CIA” estaria “mudando votos de Trump para Biden”. O Supercomputador tinha até um nome “Hammer” [Martelo] e usava o fantástico software “Scoreboard” [Placar].
Segundo o portal Político, até integrantes da campanha de Trump consideraram que Giuliani passou da conta. “Virou um circo com teorias conspiratórias”, disse uma fonte ao portal.
A esta altura do campeonato, a tática anterior de entupir os tribunais de falsas alegações, tentando evitar a derrota nos Estados campos de batalha, já caducou.
O esforço da campanha de Trump agora é para impedir a certificação, o que em poucos dias também já não será mais possível, e simplesmente convocar os deputados, por conta e risco, a roubarem eles próprios, no Colégio Eleitoral, a eleição.
Muito ocupado tentando roubar a eleição, ou pelo menos convencer seu eleitorado de que só perdeu por “ter sido roubado” pelas “fraudes de Biden” – o que, convenhamos, não chega propriamente a ser difícil -, Trump não tem tido tempo para se preocupar com a segunda onda do coronavírus, e esteve ausente da primeira coletiva de imprensa da força-tarefa contra a Covid-19, desde agosto. Aliás, segundo o Dr. Anthony Fauci, tem estado ausente “há meses”.
Como, de acordo com uma recente sondagem Reuters/Ipsos, mais de metade dos republicanos disseram que Trump “ganhou por direito” as eleições americanas, o circo vai continuar por mais alguns dias. A certificação estará completa até o dia 14 de dezembro.