Mentira sobre vacina faz Neil Young e Joni Mitchell deixar Spotify
O cantor e compositor Neil Young e a cantora Joni Mitchell exigiram ao serviço de streaming de música mais usado do mundo, o Spotify, que todas as suas músicas fossem removidas da plataforma devido à desinformação sobre a vacina contra a Covid-19 ali veiculada pelo podcaster Joe Rogan.
Young e Mitchell, ambos canadenses e músicos veteranos mundialmente conhecidos e respeitados, deram um basta ao Spotify por manter o podcast de Joe Rogan, que destila em seus episódios mentiras contra a vacina e sobre a Covid e faz propaganda fraudulenta de remédios reconhecidamente sem validade contra o coronavírus. Até agora, Spotify optou por manter o negacionismo de Rogan.
Neil Young foi o primeiro a tomar a iniciativa de denunciar o podcaster Rogan, afirmando que através de suas mensagens facilita que os negacionistas divulguem suas mentiras. “O Spotify está a espalhar informações falsas sobre as vacinas, levando potencialmente à morte aqueles que acreditam na desinformação disseminada pelo mesmo. Quero toda a minha música fora da plataforma”, escreveu o conhecido cantor de Heart of Gold e Harvest Moon.
A carta dirigida ao agente e à sua editora foi noticiada pela revista especializada Rolling Stone.
“Eles [Spotify] ou têm Rogan ou Young. Não os dois”, acrescentou o lendário roqueiro, cujo último álbum, Barn, foi lançado no final de 2021.
“Eu decidi retirar todas as minhas músicas do Spotify”, escreveu Joni Mitchell, cujo renomado álbum Blue completou 50 anos no ano passado. “Pessoas irresponsáveis estão espalhando mentiras que custam vidas. Sou solidária a Neil Young e às comunidades científicas e médicas globais nesta questão”, acrescentou a cantora.
O site de Mitchell também publicou cópia de uma carta aberta ao Spotify de médicos e cientistas que pedem à empresa a criação de uma política contra a desinformação para combater as repetidas falsidades e teorias da conspiração de Rogan sobre a pandemia.
O roqueiro Nils Lofgren anunciou no sábado (29), que também vai se juntar ao protesto iniciado por seu colega de banda Neil Young, dizendo em um comunicado que ele, também, iria “cortar laços com o Spotify” e clamou para que “todos os músicos, artistas e amantes da música de todos os lugares” façam o mesmo.
O Spotify, em uma declaração prévia providenciada ao The Post afirmou: “nós queremos todo o mundo da música e de conteúdo de áudio disponível ao usuário do Spotify. Com isso vem grande responsabilidade em balancear a segurança dos ouvintes e a liberdade dos criadores”.
E continuou: “nós detalhamos políticas de conteúdo e já removemos mais de 20 mil episódios de podcasts relacionados a covid-19 desde o início da pandemia”. [Não fica claro se as mentiras de Joe Rogan estão incluídas entre esses supostos cortes]. “Nós lamentamos a decisão de Neil de remover sua música do Spotify, mas esperamos que ele volte em breve”, conclui.
Rogan, cujo podcast foi adquirido com exclusividade pelo Spotify em 2020, disse, entre outros ataques à vacinação, que “as pessoas jovens e saudáveis não devem se vacinar contra o coronavírus” e recebe convidados que promovem teorias da conspiração sobre a pandemia.
Mais cedo neste mês, 270 especialistas endereçaram uma carta aberta ao Spotify para “estabelecer imediatamente um política clara e pública para moderar a desinformação na plataforma”.
Os especialistas criticaram particularmente um episódio do “The Joe Rogan Experience” em que Rogan entrevista Robert Malone, médico negacionista em relação às vacinas contra o coronavírus, como um exemplo de um podcast “com histórico preocupante de divulgação de desinformação, principalmente no que diz respeito” à pandemia.
O episódio “não é a única transgressão que ocorreu na plataforma do Spotify, mas um exemplo relevante da falha da plataforma em mitigar o dano que está causando”, escreveram os especialistas.
Neil Young, em um comunicado publicado em seu site na quarta-feira (26), disse que “tomou conhecimento” da prevalência de desinformação sobre pandemia no Spotify “ao ler que mais de 200 médicos juntaram forças, apontando as perigosas falsidades que ameaçam vidas encontradas na programação do Spotify”.
“Estou feliz e orgulhoso de me posicionar em solidariedade com a linha de frente dos trabalhadores da saúde que arriscam suas vidas todos os dias para ajudar outras pessoas”, escreveu Young na sexta (28).
Ainda na quarta-feira, Young postou mensagem em seu site, agradecendo à gravadora Reprise Records, da Warner, por seu apoio “em nome da verdade” e encorajou outros músicos a fazerem o mesmo. No texto, afirma que o Spotify gerava 60% de sua renda musical.
Ainda assim, pensa que o boicote vale a pena. “Mentiras são vendidas por dinheiro”, escreveu. “Percebi que não poderia continuar apoiando a desinformação do Spotify, que representa um risco à saúde entre os amantes da música”, frisou.
A remoção da discografia de Young ocorreu desde a quarta-feira (26), de acordo com o The Wall Street Journal. Ele tinha na plataforma 2,4 milhões de seguidores e mais de 6 milhões de ouvintes mensais.
Autora de Blue (1971), considerado um dos maiores discos da música popular americana, Joni Mitchell possui 3,7 milhões de ouvintes mensais no Spotify. Suas canções mais populares na plataforma, Big Yellow Taxi (1970) e A Case of You (1971), foram ouvidas mais de 100 milhões de vezes.
Onde ouvir agora as músicas de Young? Indaga matéria no blog Gizmodo, e responde: “A primeira dica – e mais óbvia delas – é o canal oficial de Neil Young no YouTube. Além dos clássicos da carreira do músico, há também lançamentos, versões ao vivo e diversas jam sessions. Dá até para encontrar trechos de entrevistas exclusivas”, finaliza.