Membros do governo debandam e Trump fica mais isolado
Ministros e auxiliares de Donald Trump, assim como congressistas republicanos, manifestaram seu rompimento com o presidente, em seguida à invasão do Congresso dos EUA, que ele insuflou, por turbas de fanáticos, nazistas e saudosistas confederados.
O primeiro membro do gabinete de Trump a anunciar sua renúncia foi a secretária dos Transportes, Elaine Chao, que é mulher do líder republicano do Senado Mitch McConnell. Também renunciou a responsável pela pasta da Educação, Betsy DeVos.
“Nosso país experimentou um evento traumático e totalmente evitável, no qual partidários do presidente invadiram em massa o Capitólio após uma marcha na qual Trump se dirigiu a eles”, afirmou Chão, explicando sua renúncia.
“Como certamente acontece com muitos de vocês, isso me afetou profundamente de uma forma que simplesmente não posso ignorar”, completou.
McConnell, um dos líderes republicanos mais fiéis a Trump ao longo dos últimos quatro anos, demarcara seu rompimento, ao se recusar a endossar a fraude à certificação da vitória legítima de Biden, pouco antes do assalto ao Congresso dos EUA pelas turbas trumpistas.
“Se esta eleição fosse revertida por simples alegações do lado perdedor, nossa democracia entraria em uma espiral mortal” , disse o ainda líder da maioria republicana no Senado.
“Nunca mais veríamos o país inteiro aceitar o resultado de uma eleição. A cada quatro anos haveria uma luta pelo poder a qualquer custo”, acrescentou McConnell.
“Não podemos continuar a nos separar em duas tribos diferentes, com fatos e realidades diferentes. O país corre o risco de tomar um caminho perigoso em que o vencedor de uma eleição seja realmente o único a aceitar os resultados”.
Outro nome de prestígio entre os republicanos, Mick Mulvaney, ex-chefe de gabinete da Casa Branca e ex-diretor do Escritório de Administração e Orçamento, anunciou que está deixando seu cargo como enviado especial dos EUA à Irlanda do Norte.
“Não posso fazer isso. Não posso ficar”, disse Mulvaney ao secretário de Estado Mike Pompeo.
Em entrevista à emissora de tevê CNBC, Mulvaney explicou que, entre os que decidiram continuar no governo, e revelou ter falado com “vários deles”, estão agindo assim porque temem que Trump “nomeie alguém pior”.
“Aqueles que decidiram ficar, e eu falei com alguns deles, estão agindo porque temem que o presidente indique alguém pior”, disse Mulvaney à emissora CNBC.
A arquiconservadora DeVos, casada com um bilionário e irmã do fundador da Blackwater, achou que nem para ela dava mais, após o assalto ao Capitólio com Trump “jogando lenha na fogueira”.
Duas outras figuras muito próximas a Trump também optaram por não acompanhá-lo na aventura intentada, o ex-ministro da Justiça do bilionário, William Barr, e o senador Lindsey Graham, um dos que mais se empenhou em evitar o impeachment dele.
Barr, que deixara o cargo em 23 de dezembro, chamou a conduta de Trump no episódio do dia 6 de janeiro de “traição contra seu cargo e seus seguidores”, denunciando, ainda, que “mobilizar as massas para pressionar o Congresso é indesculpável.”
Outras figuras republicanas importantes nesse processo de contenção das alucinadas tramas de Trump contra a vontade das urnas foram a filha do ex-vice-presidente Dick Cheney, a deputada Lis Cheney, o senador Mitt Romney, ex-candidato a presidente republicano em 2012, e o senador pela Pensilvânia Tom Cotton, que disse que já havia “passado da hora” de Trump aceitar a derrota.
Em carta, o ex-presidente W.Bush, afirmara que “resultados das eleições são contestados apenas em repúblicas das bananas e não na nossa república democrática”, afirmou o antigo chefe de Estado. Ele também se disse “chocado com o comportamento irresponsável” de alguns líderes políticos republicanos desde as eleições e pela “falta de respeito” mostrada na quarta-feira no Capitólio.
Manifestações igualmente importantes são a da Associação dos Industriais da América e dos 10 ex-secretários do Pentágono, que serviram sob governos republicanos e democratas – no caso, até mesmo, como a vida dá voltas, Donald Rumsfeld, Jim Mattis e Mark Esper.
E, claro, a opção do vice-presidente Mike Pence, cuja declaração, perante o Congresso dos EUA, de que não tinha o poder de alterar o resultado das urnas certificado pelos estados, demarcou o terreno e foi respondida, por Trump, com a incitação à turba para “marchar ao Capitólio” e “lutar até o inferno”, como está gravado.
Ele instara repetidamente Pence a ser seu cúmplice na fraude contra as eleições, mas, apesar de seu conservadorismo extremado, o vice se recusou a ser o pivô do que um analista do portal Político chamara de transformação dos EUA em um “país buraco de merda”, citando a famosa frase do próprio Trump.
Como parte do incitamento, no ato pré-invasão do Capitólio, o filho de Trump, Don Jr, disse, dirigindo-se evidentemente à cúpula republicana, disse que “este não é mais o seu Partido Republicano, este é o Partido Republicano de Donald Trump”.
Depois do fracasso de seu ‘putsch da cervejaria’, e diante das crescentes conclamações a retirá-lo do cargo imediatamente, sem esperar pelo dia 20, pela 25ª Emenda ou novo impeachment, Trump mudou de tom, disse da boca para fora que não concordava com a violência, mentiu que foi quem enviou a Guarda Nacional para desalojar os fascistas do Congresso e, pela primeira vez, admitiu que “em 20 de janeiro um novo governo será empossado”.
Cinicamente, disse que seu objetivo a partir de então seria a “transferência ordenada de poder” e ainda encenou um chamamento à “cicatrização das feridas e reconciliação” – como se todos os atos fascistas que desencadeou pudessem ser ocultos por tal folha de parreira. À escória que arrastou, ele prometeu que “nossa incrível jornada apenas começou’.