A conceituada revista médica The Lancet publicou na segunda-feira (17) um manifesto de 117 médicos e psicólogos de todo o mundo defendendo a imediata libertação do editor do WikiLeaks, Julian Assange, preso na Inglaterra.
“Nossos apelos são simples”, escrevem os autores da carta, “pedimos aos governos que acabem com a tortura do senhor Assange e garantam seu acesso aos melhores cuidados de saúde disponíveis, antes que seja tarde demais”.
No documento, fica latente a preocupação de profissionais de 18 países com os riscos iminentes vividos por quem documentou e trouxe à tona os numerosos crimes de guerra praticados pelos Estados Unidos no Iraque e no Afeganistão, juntamente com operações de vigilância em massa e conspirações diplomáticas de Washington contra a soberania dos países. Em um dos vídeos mais conhecidos divulgados pelo WikiLeaks, tropas dos EUA assassinam civis, inclusive dois jornalistas da Reuters, num bairro de Bagdá, a partir de um helicóptero militar.
Médicos e psicólogos alertam que Assange nem de longe recebeu os cuidados que haviam sido prometidos e que tanto necessita, apesar da aproximação rápida das audiências de extradição. O editor do WikiLeaks enfrenta até 175 anos de prisão nos EUA e há a preocupação de que a precariedade da sua condição o impeça de participar adequadamente da sua defesa.
“Desde que os médicos começaram a avaliar o senhor Assange na embaixada do Equador em 2015, a opinião médica especializada e as recomendações urgentes dos médicos têm sido constantemente ignoradas”, acrescenta o documento.
O especialista em tortura da ONU, Nils Melzer, juntamente com dois outros especialistas médicos especializados na avaliação de vítimas de tortura, concluiu em maio que o fundador do WikiLeaks apresentava sintomas de “tortura psicológica” e se sentia traído pelo sistema de justiça do Reino Unido, EUA e Austrália.
A primeira série de audiências de Assange sobre extradição inicia na próxima segunda-feira (24) em Woolwich, no sul de Londres, próxima à prisão de segurança máxima de Belmarsh, conhecida como a Guantánamo inglesa, onde se encontra.
Até pouco tempo estava confinado na ala médica da prisão, mas a mobilização de ativistas, advogados e colegas prisioneiros resultou na sua transferência para uma ala coletiva.
Segundo os especialistas, “esta politização dos princípios médicos fundamentais é para nós motivo de grande preocupação, pois tem implicações para além do caso de Assange”. “O abuso por negligência médica politicamente motivada estabelece um precedente perigoso, acabando por minar a imparcialidade da nossa profissão, o compromisso com a saúde para todos e a obrigação de não causar mal a ninguém”, acrescentam.
Um documento enviado à ministra das Relações Exteriores da Austrália, Marise Payne, apela para “agir com determinação agora”. Somando esforços, os deputados australianos Andrew Wilkie e George Robert Christensen viajaram à Inglaterra para visitar Assange e dialogar com o especialista em tortura da ONU e parlamentares ingleses, fortalecendo a pressão pela sua imediata libertação.