Médicos que assessoram o Ministério da Saúde ameaçam deixar os cargos na Câmara Técnica da pasta caso o ministro Marcelo Queiroga não volte atrás na decisão de suspender a vacinação de adolescentes.

O anúncio foi feito pelos especialistas após uma reunião na sexta-feira (17). Os cientistas e pesquisadores afirmam que não foram consultados pelo Ministério da Saúde e que a pasta usou dados equivocados.

Apesar da recomendação do Ministério, 20 estados e o Distrito Federal já retomaram a imunização da faixa etária. Capitais como Porto Velho, São Paulo e Salvador retomaram a aplicação das doses nos adolescentes após análise dos dados. Na capital baiana, a vacinação dos menores de idade chegou a ficar suspensa por dois dias.

A orientação do Ministério da Saúde é de que a vacinação estaria suspensa para esta faixa por não ser recomendada pela Organização Mundial de Saúde (OMS). A informação, contida na última nota técnica, divulgada pela pasta, contudo, é falsa. A orientação da OMS é que no caso dos adolescentes entre 12 e 15 anos, a vacina seja aplicada quando a cobertura vacinal estiver alta nos grupos prioritários.

O infectologista Francisco Oliveira Junior, do Hospital Emílio Ribas, diz que a vacinação de adolescentes já se comprovou eficiente e necessária no Brasil e no mundo.

“Quando se faz a avaliação do risco versus o benefício da vacina, esse é favorável amplamente a continuidade da vacinação, não apenas considerando o efeito individual, a proteção individual conferida por essa vacina para o adolescente, mas principalmente o efeito coletivo de aumentar a proteção da comunidade expandindo o percentual de pessoas vacinadas e contribuindo para o atingimento da imunidade coletiva”, explica.

O infectologista e presidente do Departamento de Imunização da Sociedade Brasileira de Pediatria, Marco Aurélio Sáfadi, disse que o Ministério da Saúde precisa voltar atrás.

“Trata-se de uma estratégia, à luz das evidências atuais, perfeitamente sensata e razoável, expandi-la, especialmente num momento onde a gente antecipa circulação de novas variantes que se mostraram particularmente transmissíveis inclusive nestes grupos etários”, afirma.