Brazilian former Environment Minister (2003-2008) Marina Silva speaks during a press conference at the Institute of Advanced Studies (IEA) of the University of Sao Paulo, in Sao Paulo, Brazil, on May 8, 2019. - Brazilian former environment ministers met for the first time Wednesday in Sao Paulo. (Photo by NELSON ALMEIDA / AFP)

O presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, usou as redes sociais para anunciar que excluiu o nome da ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva da lista de Personalidades Negras da instituição.

Segundo Sérgio Camargo, a ex-candidata à Presidência da República, uma das principais líderes ambientalistas do país, foi excluída da lista porque “não tem contribuição relevante para a população negra do Brasil”.

“Disputar eleições não é mérito. O ambientalismo dela vem sendo questionado e não é o foco das ações da instituição”, escreveu o racista no Twitter. Segundo ele, Marina Silva “autodeclara-se negra por conveniência política”.

Sérgio Camargo também atacou os deputados David Miranda e Talíria Petrone (ambos do PSOL-RJ), o ex-deputado Jean Wyllys e a cantora Preta Gil, que para ele, declaram-se negros “por conveniência”.

“Não é um caso isolado. Jean Willys, Talíria Petrone, David Miranda (branco) e Preta Gil também são pretos por conveniência. Posar de ‘vítima’ e de ‘oprimido’ rende dividendos eleitorais e, em alguns casos, financeiros”, disse.

Horas depois, o bolsonarista fez novos ataques contra Marina e afirmou que a exclusão do seu nome foi feita considerando os critérios de “decência, dignidade, reputação ilibada, relevância histórico-cultural e mérito do homenageado”. “Eram escolhas políticas q (sic) não refletem a verdadeira história do negro”, disse.

Sergio Camargo também afirmou que nada justifica que um político seja homenageado em vida pela fundação.

A ex-senadora foi às redes sociais se manifestar sobre as declarações de Camargo. “Temos que encarar isso com a altivez de quem sabe que a história não é feita por aqueles que têm uma visão autoritária e que eventualmente estão no poder, mas por aqueles que persistem na democracia e nos valores da civilização”, disse Marina.

Agradecendo pelas “inúmeras mensagens de solidariedade e apoio”, Marina disse: “Quem julga o valor da contribuição de uma pessoa à sociedade é a própria sociedade e a sabedoria da história. Todas as pessoas excluídas não o foram por serem irrelevantes, mas exatamente pela importância das causas que defendem”.

Depois do anúncio de Sérgio Camargo, o partido de Marina Silva, Rede Sustentabilidade, divulgou uma nota de repúdio às afirmações feitas por ele.

“A Rede Sustentabilidade vem a público repudiar tal ataque a nossa história, em especial à história dos negros no país, à nomeação de pessoas a quem falta competência para compreender e cumprir a missão institucional dos órgãos para os quais foram nomeados”, diz um trecho da nota.

O partido destacou o currículo de Marina Silva: “É uma brasileira que tem em seu currículo mais de 60 honrarias: prêmios, títulos, reconhecimentos”. Disse ainda que a opinião de Camargo “não tem a menor relevância para os critérios de quem a reconheceu como digna dos prêmios”.

No final de setembro, a deputada federal Benedita da Silva (PT), que é candidata à prefeitura do Rio de Janeiro, também foi retirada da lista.

A Fundação Palmares foi criada em 1988 com objetivo de preservar a cultura negra no país.