Marcelo Rebelo foi reeleito numa eleição com sete candidatos a presidente

O social-democrata Marcelo Rebelo de Sousa foi reeleito presidente de Portugal no primeiro turno com 61,6% dos votos válidos, neste domingo (24). A socialista Ana Gomes ficou em segundo lugar com 13%, André Ventura, do direitista Chega, em terceiro (11,9%), o candidato do Partido Comunista, João Ferreira, conquistou o quarto lugar (4,3%) e a dirigente do Bloco de Esquerda, Marisa Matias, ficou em quinto com 4% dos votos. No total, apresentaram-se 7 candidatos.

Na sexta eleição presidencial desde que Portugal reconquistou a democracia, a eleição se deu com um nível elevado de abstenção (62,24%) em um momento de forte agravamento da pandemia entre os portugueses.

Rebelo, filiado ao PSD (Partido Social Democrata), se elegeu (em 2016) e concorreu agora à reeleição. Ele construiu sua imagem como um político afável, avesso a confrontos, e sua campanha o intitulou “presidente dos afetos”. Ironizando-o, João Ferreira comentou: “Os afetos de Marcelo Rebelo de Sousa são como a riqueza nacional, existem, mas estão muito mal distribuídos”.

O voto é facultativo em Portugal. No regime parlamentarista o cargo político mais importante é o de primeiro-ministro, mas o presidente tem importantes atribuições. É o comandante das Forças Armadas, responsável pela política externa, etc.

Na última quarta-feira (20) foi divulgado que o país de 10 milhões de habitantes, que conseguiu enfrentar de forma razoável a primeira onda da pandemia, tem a maior taxa média de novos casos da Covid-19 nos últimos sete dias e a segunda maior taxa de novas mortes do mundo, de acordo com a Universidade John Hopkins. Os casos diários por 100.000 habitantes aumentaram de 51, em 5 de janeiro, para 98, na última terça-feira (19), segundo a AP. Enquanto isso, a média diária de mortes per capita aumentou de 0,75 para 1,63 no mesmo período.

Apesar de ter entrado em lockdown na última semana, Portugal voltou a enfrentar graves dificuldades. A taxa de positividade dos testes chegou a 20%, contra 9% no final de dezembro. A infecção já causou 10.470 mortes no país desde o início da pandemia.

O país passa por uma crise profunda. Em dezembro, o Banco de Portugal previa um crescimento do PIB de 3,9% em 2021, mas na segunda quinzena de janeiro apontou para um aumento de apenas 1,3%. Em nenhum dos cenários, a economia recupera o que perdeu em 2020, quando teve uma queda do PIB de 8,1%, nos cálculos do Banco Central. O próprio primeiro-ministro, Antonio Costa, já disse que não será possível voltar aos níveis da economia pré-crise antes de 2022. “Antes de 2022 não estaremos onde estávamos em 2019”, frisou.

Uma das medidas do impacto da crise econômica é a taxa de desemprego. O Banco de Portugal assinalou que ela passará de 7,2% para 8,8%, entre 2020 e 2021. Mas um confinamento mais exigente, como o que marca o início deste ano, pode aumentar a taxa de desemprego até pelo menos 10%.

O candidato comunista colocou em debate questões que Rebelo de Sousa e outros candidatos deixaram de lado, como o papel da troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e FMI) no estrangulamento cada vez maior da economia do país, a serviço, principalmente, do capital financeiro. O candidato à presidência do PCP apresentou propostas apontando a viabilidade de uma alternativa que coloque no centro das decisões os interesses dos trabalhadores e o desenvolvimento soberano de Portugal.