A vice-presidenta do PCdoB, Manuela d’Ávila, analisou o cenário político nacional e estadual e a disputa eleitoral de 2022 em entrevista concedida aos jornalistas Luís Eduardo Gomes e Ana Ávila, do podcast De Quinta, do portal Sul 21, nesta quinta-feira (31). Em pauta, a união de forças para enfrentar a extrema-direita, a federação, as novas formas de fazer política, entre outros temas da agenda política.

“Sou entusiasta da construção da nossa unidade política. Não posso conceber, não consigo entender politicamente, individualmente, pessoalmente, como depois de quatro anos de governo de (José Ivo) Sartori, três anos de governo de (Eduardo) Leite — interrompido agora por sua renúncia tão pouco comentada e tão celebrada —, depois de três anos de governo Bolsonaro, como temos três candidaturas do campo progressista separadas ao governo do estado do Rio Grande do Sul”, disse Manuela. No estado, Edegar Pretto (PT), Beto Albuquerque (PSB) e Pedro Ruas (PSol) são os nomes já colocados como pré-candidatos para a disputa ao Piratini no campo progressista.

Manuela salientou ainda ser “defensora da unidade, de uma mesa de negociações, de uma mesa de conversa entre esses três amigos queridos com quem eu atuo politicamente junto há mais de duas décadas” e acrescentou: “desejo que nós, os nossos partidos, consigamos sentar para buscar construir uma alternativa viável ao governo do estado. Essa viabilidade, para mim, passa pela nossa unidade política”.

Federação

Sobre a federação da qual o PCdoB participa — que já conta também com o PT e o PV — Manuela colocou: “Sou da turma que ainda não desistiu de que essa federação seja ampliada”. Ela explicou ainda que considera “interessante que a gente aproveite ao máximo esse mecanismo e o que ele pode significar para nós:  termos um campo político que opere de uma outra maneira não só no processo eleitoral, mas, se tudo der certo, no próximo governo do presidente Lula”.

Com relação ao seu papel nessas eleições, Manuela apontou: “tenho tranquilidade ativa de que nos próximos dois meses teremos desdobramentos que podem impactar favoravelmente na nossa unidade, se não plena, pelo menos maior. E também por isso, não antecipo as minhas decisões e reflexões sobre a minha participação no pleito”. E acrescentou: “a unidade é o que de mais importante a gente pode construir para garantir força para construir uma vitória no Rio Grande do Sul”.

Enfrentamento à extrema-direita

Ao analisar mais a fundo o plano nacional e o modo de atuação de Jair Bolsonaro, Manuela declarou: “acho que nós avançamos, enquanto campo político, na compreensão do que é a extrema-direita, do que são os processos de desinformação e da maneira como a população vem construindo as suas opiniões a partir de uma outra esfera, de outros parâmetros que não aqueles que tínhamos até 2018”.

A dirigente comunista acrescentou que “nosso campo já sabe que há outros caminhos para comunicar e outros espaços em que a população forma opinião, não meramente como espectadora, mas como sujeito ativo. Não estou dizendo que é o mundo ideal; é submetido às regras do capital, do dinheiro, da desinformação, mas naquele ambiente também forma suas opiniões”.

Para Manuela, nesses últimos quatro anos, “não só o Brasil, mas o mundo, também percebeu que não há como se descolar do território, mesmo com a internet. A eleição para os parlamentos têm mostrado muito isso: há uma mudança em curso no nosso campo político”.

A bancada de esquerda na Câmara de Porto Alegre, conforme aponta Manuela, é uma manifestação viva desse novo momento. “Eles têm coisas em comum: além da questão racial que une parte expressiva da nossa bancada, que é a primeira bancada negra da história, eles têm elementos, vínculos territoriais, pautas concretas, atuação na internet sim, mas conectada com grupos, coletivos, que estão nos partidos e fora deles. Acho que isso é algo que tem que nos fazer refletir porque nós operamos, muitas vezes, criando oposições binárias: ou é rede, ou é rua; ou é partido ou é movimentista. E acho que o nosso campo político consegue aprender com o melhor das duas experiências”.

Ouça abaixo a íntegra da entrevista:

Por Priscila Lobregatte

Com informações do Sul 21