Alvo de 90% das ofensas publicadas no Twitter e no Instagram durante o segundo turno das eleições municipais de 2020, de acordo com o ranking do InternetLab e da Revista AzMina, a candidata do PCdoB na disputa pela Prefeitura de Porto Alegre (RS), Manuela D’Ávila, falou, em entrevista ao Metrópoles, sobre a violência e as consequências dos ataques sofridos durante o período eleitoral.

Na conversa com o jornalista Caio Barbieri, ela comentou sobre os insultos e as fake news vinculadas ao seu nome – como liberação de carne de cachorro para consumo humano e destruição de igrejas – e também a respeito dos ataques de um ex-companheiro, igualmente candidato à Prefeitura de Porto Alegre, durante os debates eleitorais. “Não acredito que uma pessoa passe quase uma década esperando para lavar a roupa suja. Foi uma candidatura laranja, instrumentalizada”, afirmou (confira no vídeo a partir de 3 min).

Manuela questionou o silêncio de outros participantes na disputa eleitoral diante das agressões. “Fico pensando: se eu, que sou uma mulher que disputava a eleição para a prefeitura, sou atacada no rádio e na televisão daquela maneira e os homens silenciam, ao que são submetidas as mulheres em seu cotidiano? Se em público isso é aceito por todo o conjunto de candidatos, por todos os candidatos homens que queriam governar minha cidade, o que é aceito no privado?”, disse (aos 3 min 39 s).

“Precisamos debater o que achamos aceitável de violência contra a mulher. Nos espaços públicos e nos espaços privados. Porque quando nós, mulheres públicas, somos vítimas dessa violência, é um sinal para a sociedade de que nós somos um país em que, na política, violentar mulheres e utilizar o machismo dá certo”, afirmou (aos 5 min 54 s).

Manuela D’Ávila comentou também as ameaças contra mulheres eleitas em 2020. “A violência política no Brasil cresce porque é autorizada pelas autoridades que deviam nos governar. É isso que faz com que essas parlamentares, sobretudo as mulheres negras, sejam ameaçadas”, disse (aos 13 min 21 s).

A ex-deputada federal falou sobre a atuação do chamado gabinete do ódio durante as eleições. “O gabinete do ódio não funciona instalado em um único gabinete em Brasília. São vários gabinetes, no sentido literal, de gabinetes de parlamentares em nível local, em nível estadual e nacional que se articulam para legitimar e distribuir os conteúdos falsos”, afirmou (aos 11 min).

A militante do PCdoB disse discordar das avaliações que apontam a aliança com o PT como um dos motivos para as derrotas nas urnas e afirmou acreditar em uma frente única de partidos de esquerda em torno de uma candidatura à Presidência da República em 2022. Na entrevista, Manuela D’Ávila também conversou sobre vacinação e o combate à pandemia do novo coronavírus no país.

Jornalista e escritora, Manuela contou que, passada a disputa eleitoral, irá se dedicar a novas publicações. Um dos livros será uma compilação de textos sobre violência política de gênero, com a participação de diversas autoras.

Assista abaixo a íntegra da entrevista:

 

(PL)