Manuela entrevista CartaCapital: “A questão nacional é estratégica”
A pré-candidata pelo PCdoB à Presidência da República, deputada estadual Manuela D’Ávila fala da macroeconomia, defende uma frente ampla unida contra movimento fascista, defende a democracia, o direito de Lula ser candidato, Temer, intervenção federal, morte de Marielle, discute o machismo, entre outros temas em uma destalhada entrevista à revista Carta Capital;
Confira na publicação abaixo:
Engana-se quem imagina que a fisionomia doce e o semblante plácido de Manuela D’Ávila denotam passividade. A combativa deputada estadual do Rio Grande do Sul e pré-candidata à presidência da República pelo PCdoB – apenas a terceira na história do partido – reafirma o discurso progressista que declama desde os tempos de movimento estudantil na Quadrinstrevista.
Diante dos inúmeros temas abordados, a escalada da violência na atuação de grupos contrários à bandeira do socialismo e partidários do golpe desperta especial atenção da parlamentar gaúcha: “É muito preocupante [a violência] porque demonstra na prática o que denunciamos há muito tempo, que essas organizações são fascistas e defendem o extermínio físico de quem pensa diferente”.
Aos 36 anos, Manuela divide a atuação política com os cuidado à pequena Laura, sua filha, que a acompanha em alguns eventos partidários. A maternidade, aliás, é alvo de questionamentos de caráter machista por parte da imprensa, segundo a deputada.
“Ninguém pergunta com quem ficam os filhos pequenos dos meus adversários. Se causa estranheza que eventualmente a Laura esteja comigo, talvez seja legal perguntar “quem leva teu filho para a escola?”, ressaltou.
A parlamentar aborda também a relação de sua candidatura com a participação do ex-presidente Lula nas eleições, soluções para minimizar a influência das fake news no debate político e o polêmico Código Florestal relatado pelo seu partido.
Quadrinsta: O PCdoB acaba de completar 96 anos, mas depois da retomada da democracia, o comunismo no Brasil arrefeceu, tanto no viés ideológico, como no aspecto partidário. Qual é o papel atual do comunismo no País?
Manuela D’Ávila: Na realidade, no processo de redemocratização, e não acredito que seja casuístico, fomos o último partido a ser legalizado. Só tivemos nossa legenda reconhecida em 1985. Além disso, desde 1989 tomamos uma decisão consciente de apoiar as candidaturas de Lula e Dilma, e sempre soubemos que a não disputa de eleições majoritárias tinha impacto na construção do partido num país como o Brasil.
Acho que isso tem influência no nosso tamanho menor em relação a outras organizações de esquerda, como foi o PT neste último ciclo, mas tivemos papel central em algumas questões durante todo o período. Somos um partido que historicamente defende um projeto de desenvolvimento do Brasil. A questão nacional é estratégica, E para provar que estávamos certos, o centro nevrálgico do neoliberalismo passa pela destruição do status de nação.
Também defendemos uma aliança com o setor produtivo, com a compreensão de que este é destruído pelo rentismo, a partir, inclusive, da alta remuneração dos juros. Isso faz com que o próprio setor industrial faça adesão ao rentismo porque vale muito pouco a pena investir apenas na produção.
Durante os anos de governo Lula e Dilma, denunciamos sistematicamente, e lembro que eu ainda era da UNE [União Nacional dos Estudantes] quando começamos a chamar o “fora, Palocci” como ato simbólico de que a política macroeconômica era de caráter híbrido, por vezes tinha compromisso com o progresso do desenvolvimento nacional e outras se rendia aos interesses do rentismo.
Nossa ideologia é associada à ideia de um partido. Diante do golpe, para nós o centro do debate no processo eleitoral será como sair da crise econômica. Existem dois grandes projetos: aqueles que defendem que é possível construir saídas sem a participação relevante do Estado, o que é uma proposta falsa, pois ele só é pequeno para a população, mas continua grande para os banqueiros e nosso campo político defende o papel do Estado, da retomada do crescimento econômico.
Q: Os partidos de esquerda devem lançar vários candidatos ao Planalto e falam da necessidade de se estabelecer uma agenda mínima para o País. De que maneira pulverizar as opções no campo progressista pode evitar uma nova epidemia de retrocessos?
MD: Essa eleição é marcada pela imprevisibilidade e a maior de todas é a existência de eleições em outubro. É preciso estar atento e forte, não podemos vacilar porque a democracia não é mais uma bandeira do lado de lá. Tivemos um golpe em 2016, estamos diante da iminência do impedimento do presidente Lula concorrer e também vimos iniciativas no fim do ano passado, como a PEC do semipresidencialismo, onde buscavam construir alternativas para as eleições.
Aliás, na semana passada, um dos juízes tuiteiros dizia “não se sabe ainda a solução necessária para o Brasil, nem de onde ela virá, mas uma coisa é certa: ela não virá através de agentes públicos temporários interessados em manter-se ou investir-se no poder”*.
Os agentes públicos são os políticos. O que diz o juiz tuiteiro? Que a solução não é eleição, porque não existe outra forma da construção de agentes públicos temporários que não a eleição. Ele quer dizer com isso que a solução é a judicialização completa da política? Que a Suprema Corte mande no País? É algo muito importante de ser dito diante desse cenário de imprevisibilidade.
Esse quadro faz com que tenhamos especulações sobre o que vai acontecer nas eleições. Diante disso, tivemos um avanço extraordinário, o fato de construirmos um programa comum entre quatro fundações que não dialogavam: PSOL, PDT, PCdoB e PT. Isso é central porque no sistema presidencialista como o nosso, o que deve pautar a construção das alianças é o programa.
Temos diferenças, mas manteremos a relação respeitosa, madura para que quem de nós estiver no segundo turno receba o apoio dos outros três. Não sei que resultado a estratégia da pulverização vai colher, mas ela é o que aconteceu e acho que temos de tratar como uma grande vitória a ideia de que construímos uma unidade programática.
* O post é de autoria do juiz federal Marcelo Bretas, titular da Lava Jato no Rio de Janeiro. Pouco tempo depois, o magistrado apagou o texto das suas redes sociais.
Q: Com Lula fora da disputa eleitoral até então, o que a esquerda precisa fazer para não deixar os potenciais votos do ex-presidente, líder em todas as pesquisas, vagando entre um legume tucano e uma eremita amazônica?
MD: Uma das nossas obrigações é desmascarar o fato de que um conjunto de candidaturas diversas representa o mesmo projeto. A roupa é a do projeto de austeridade, do Estado mínimo para o povo, restritivo no sentido das políticas públicas e no combate às desigualdades, mas gigantesco para garantir o não controle sobre os juros praticados pelos bancos, para não taxar as grandes fortunas, os lucros e dividendos. A roupa está feita pelos costureiros internacionais e temos estilistas de renome.
Um conjunto de candidatos está desfilando no momento para ver qual será o modelo escolhido para vesti-la. Temos de utilizar todos os espaços que construímos para denunciarmos isso. Existem países, como Portugal, que mesmo dentro de uma forte União Europeia conseguem construir caminhos alternativos para garantir a dignidade do seu povo diante de uma crise.
Q: Muito se diz nos bastidores que sua candidatura está atrelada à participação de Lula nas eleições. É definitivo que sua foto aparecerá na urna eletrônica como cabeça de chapa presidencial?
MD: Existe uma incompreensão muito grande da dimensão que tem a possibilidade de Lula não concorrer, do fato de eu defender o direito que ele concorra. Acho que causa estranheza para quem tem a mentalidade muito fixada no jogo eleitoral o fato de eu me somar ao palanque dele para denunciar que há uma perseguição política. Para mim, essa não é uma causa dos petistas, é uma causa dos democratas.
Hoje apontam o dedo para o Lula porque ele é o primeiro colocado nas pesquisas, amanhã pode ser eu ou você, há um ambiente de cerceamento às liberdades. O Lula é um episódio disso e seguiremos denunciando o cerco jurídico-político que é estabelecido, mas minha candidatura não se condiciona a isso. Ela tem relação com a leitura que meu partido fez do momento do novo ciclo político que se abre diante do golpe e da hipótese de termos um bom nome para apresentar à sociedade, um conjunto de propostas para enfrentarmos a crise.
Q: Que movimento pode mudar esse panorama?
MD: Aprendi desde pequena que irreversível na vida, só a morte. Então não tomo minha candidatura como a morte porque pretendo que ela mude a vida e traga esperança para os brasileiros. Hoje a maior probabilidade, a vontade da militância do meu partido é que eu seja candidata até outubro. Até porque não é casual, embora seja lamentável, que eu seja única mulher de esquerda concorrendo.
Q: A caravana do ex-presidente Lula pelo sul do País, berço da Lava Jato, enfrentou uma série de protestos, alguns até com episódios de violência. Como é fazer política progressista na Região Sul em tempos de Lava Jato?
MD: Temos de diferenciar as reações políticas da caravana do presidente Lula com o que aconteceu no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Foi tentativa de homicídio. É muito preocupante porque demonstra na prática o que denunciamos há muito tempo, que essas organizações são fascistas e defendem o extermínio físico de quem pensa diferente. É muito diferente de reagirem politicamente, manifestarem suas opiniões.
Ser progressista em qualquer conjuntura é defender um conjunto de ideias, ser progressista na conjuntura da organização de grupos fascistas na sociedade e da judicialização da política é uma exigência histórica. Precisamos ampliar nossa capacidade de diálogo e de unidade para percebermos exatamente quem eles são, quais são as suas práticas e enfrentá-los de forma unitária.
Q: Até que ponto a ruptura democrática de 2016 pode repercutir em casos recentes de barbárie com motivação aparentemente política, como a execução da vereadora Marielle Franco?
MD: A morte de lutadores e lutadoras sociais é algo que sempre aconteceu no Brasil, sobretudo no campo, quem acompanha a luta do MST sabe disso, e fica ainda mais evidente quando vem para a cidade, com a execução da Marielle. Sobre o caso dela especificamente, temos de exigir apuração imediata porque cada dia que passa, temos o direito de ficar mais receosos e convictos de que se tratou de uma execução política, o que é algo absurdo.
De qualquer forma, antes havíamos presenciado que esses grupos se organizam de forma violenta, tivemos provas disso em muitas situações com a perseguição de cidadãos. Confundem quando falamos da perseguição , acham que estamos tratando de escracho. O impedimento de ir e vir com a perseguição de grupos LGBT, de mulheres, o cancelamento da exposição Queermuseu em Porto Alegre é prova disso.
Vivemos um tempo em que esses setores saíram do armário com suas pedras, seus relhos, mas muito legitimados e amparados pelo poder estatal e é isso que mais preocupa. Há uma construção crescente de uma espécie de Estado policial, que autoridades policiais fazem parte do sistema de repressão aos movimentos sociais. É uma escalada de violência simbólica e real contra o nosso campo.
Q: O carnaval, maior manifestação popular do País, marcou o ápice da campanha “Fora, Temer” nas ruas e passarelas do samba Brasil afora. Um mês depois, Michel Temer admite que tentará a reeleição mesmo com rejeição recorde. Que tipo de interesse leva o atual presidente a lançar candidatura? Ou ele realmente acredita no milagre da multiplicação dos votos?
MD: Será que Temer acredita no coelhinho da Páscoa? Primeiro é uma novidade porque ele não gosta de eleições, não se elegeu deputado na última vez que concorreu, era suplente, não se elegeu presidente, deu um golpe para assumir o cargo. É interessante vê-lo fazer um movimento contrário às suas convicções, é uma novidade também do ponto de vista democrático.
Na realidade, Temer sabe a roupa que estão vestindo e está interessado em ser um dos manequins. Esse mercado vinculado ao rentismo mostrou que é capaz de aplaudir qualquer um deles quando 2,5 mil soa seus homens ovacionaram Jair Bolsonaro, em São Paulo, que disse que metralharia a favela da Rocinha. Estão em competição entre eles para ver quem reúne maiores condições até o mês de agosto.
Temer conta com uma máquina poderosíssima, Se o mercado está menor para o povo, certamente está maior a verba publicitária e a liberação de emendas de parlamentares. Quem tentou ver o programa Roda Viva com o Sergio Moro, viu que eles não brincam em serviço. Eu particularmente fiquei com sono no meio porque a conversa estava muito chata, o juiz estava entre amigos.
Q: A intervenção federal no Rio de Janeiro certamente será usada como palanque de Michel Temer caso traga resultados nos números da segurança pública. A ação repressiva das forças policiais historicamente nunca foi, porém, eficiente no combate à criminalidade. Qual é a alternativa imediata para redução da violência no País?
MD: Não acredito em uma única solução mágica. A pauta da segurança veio para a eleição nacional não pelas melhores causas, mas por algumas tragédias e pelo contexto da intervenção militar, então creio que isso nos dará um ganho porque, até então, nas eleições anteriores, o tema era tratado como se fosse responsabilidade dos estados e não é verdade. Uma parte é dos estados, mas uma parte grande passa pela União.
O Brasil precisa de uma autoridade nacional de segurança pública e ela deve ter, centralmente, três tarefas: a primeira é a investigação. O centro da agenda policial não é prender no varejo como acontece no Brasil, é necessário ter inteligência, e a base tem de ser a União de forma partilhada com os estados e grandes centros urbanos. Da mesma forma deve se dar com o centro da inspetoria e da ouvidoria policial porque não existe segurança pública sem policiais, mas também não existe polícia sem legitimidade social.
Esse tripé inteligência, inspetoria e ouvidoria pode garantir condições de trabalho aos policiais e, ao mesmo tempo, legitimidade no trato com o povo para que tenhamos instrumentos de denúncia e combate à violência policial contra a população mais empobrecida, especialmente nas periferias. Existe outro tema de alteração legal que é o das polícias de ciclo completo. Os policiais militares não têm responsabilidade de investigar, só podem prender em flagrante. O resultado disso é que só combatemos o varejo do tráfico e temos 760 mil presos no sistema penitenciário.
O pacto que o Brasil deve fazer enquanto nação é de combate aos dois principais crimes que são o homicídio e o tráfico de armas. A entrada de armas no País deve ser responsabilidade da Polícia Federal, a mais estruturada das polícias brasileiras.
Por fim, o País precisa fazer um grande debate sobre a política nacional de drogas. Nunca começo por esse tema porque às vezes dá a ilusão de que a tributação das drogas resolveria a violência no Brasil e não é verdade, embora o tema tenha uma relevância grande no caso do povo brasileiro.
Devemos debater o custo humano, pois perdemos ao menos 40 mil vidas de jovens na guerra do tráfico, e os custos financeiros. Se seguirmos o padrão da operação de Garantia da Lei e da Ordem no Complexo da Maré no ano passado, dos 14 anos de ensino fundamental e médio, as crianças de lá terão dois anos e meio a menos de aula.
Para que serve tributar as drogas? Para gerar um tipo de negócio novo a quem quer explorar o povo? Para mim, deve servir para conscientizarmos e termos programas para usuários abusivos de um lado, e, por outro lado, reparar as comunidades que historicamente são vítimas da violência gerada pelo combate ao tráfico com as polícias.
Q: O mundo vive um momento em que a cultura do ódio ganhou proporções que algumas vezes ultrapassam as redes. Você é vítima frequente deste processo. De que forma o Estado pode intervir para evitar os excessos sem invadir os limites da censura?
MD: Defendo que tenhamos delegacias especializadas no combate aos crimes de ódio. As delegacias de crimes virtuais acabam hierarquizando, e em certo sentido elas têm razão, os crimes contra o sistema financeiro e as redes de exploração sexual de menores. O problema é que o tema do ódio virtual sai das redes e vem para as ruas. Houve um esforço de conscientização no fim do governo Dilma com a abertura de espaços de denúncia sobre intolerância nas redes como o canal “Humaniza redes”. Acho que primeiro é preciso apurar.
Existe outro tema que para mim tem relação, e pode eventualmente ter relação com crimes financeiros, que é o das fake news. Não acredito que o problema do Brasil sejam as notícias mentirosas porque boato e mentira sempre existiram. Eu, por exemplo, tenho 14 anos de mandato e muitas vezes alguém perguntava se era verdade que eu namorava fulano, sempre fui vítima de machismo. “Não, não é verdade, é só meu amigo”. Só que não existia um milhão de reais promovendo uma foto minha jantando ou conversando com esse meu amigo no plenário para todo mundo achar que eu namorava o cara.
Estou dando exemplo de uma bobagem para ilustrar. Claro que é um problema inventarem algo, mas é um problema menor diante do dinheiro financiando a amplificação disso. As campanhas eleitorais devem declarar os recursos utilizados para patrocínio, por exemplo, de publicações na redes sociais. Quem paga a distribuição massiva de fake news? Quem financiou esse site “Conexão política”, de um amigo do MBL que detratou e distribuiu notícias falsas sobre a Marielle?
Fazer um site, ter gente na redação não é barato. Quando o ministro [Luiz] Fux [presidente do Tribunal Superior Eleitoral] diz que esse ano será de combate às fake news”, quero saber quem as financia, quem paga os robôs. Esse é o centro nevrálgico da questão.
Q: Além de militante política, você é jornalista por formação. Que pergunta ainda não foi feita à pré-candidata Manuela D”Ávila em todas as entrevistas que concedeu?
MD: Como tento falar com todo mundo, dou uma série de entrevistas sobre temas variados, acho que acabo falando um pouco sobre tudo. Enxergo justamente o contrário, um conjunto de perguntas que só eu respondo.
Alguém esses dias falou do shampoo do meu cabelo, mas ninguém pergunta sobre o shampoo do Alckmin ou que tratamento ele faz para evitar a queda capilar, ou se ele se preocupa com isso.
Ninguém pergunta com quem ficam os filhos pequenos dos meus adversários, embora alguns tenham filhos que necessitam de cuidados permanentes. Se causa estranheza que eventualmente a Laura esteja comigo, talvez seja legal perguntar a outros candidatos “quem leva teu filho para a escola?” ou “quem troca a fralda do seu bebê? Ele já desfraldou?”, porque dá trabalho trocar 12 fraldas por dia.
Há candidatos que pontuam menos que eu e ninguém nunca perguntou se vão desistir, como o Alckmin, que é governador de São Paulo e está parelho comigo nas pesquisas, porque um homem nunca desiste. O machismo também subestima a capacidade intelectual das mulheres. Às vezes fazem umas perguntas achando que não sei responder, “vamos perguntar a ela tal coisa sobre economia porque não é possível que saiba, que se prepare, que estude”.
Q: Esquecem que você não é o Bolsonaro…
MD: O Bolsonaro, aliás, disse que vai lançar um dos filhos candidato e eu vou lançar a Laura. Ela ao menos sabe duas questões: que o mais importante na vida é o amor e que dá para resolver as coisas sem gritos.
Q: As duas últimas perguntas foram elaboradas por nossos seguidores nas redes sociais. O Renan Antonietta, de Indaiatuba, em São Paulo, argumenta que o PCdoB encabeçou uma nova legislação ambiental no governo Lula, que, segundo ele, foi um retrocesso, desagradando ambientalistas e favorecendo ruralistas. Quais serão as iniciativas da sua gestão para o meio ambiente e como vê esse retrocesso?
MD: O deputado Aldo [Rebelo], que não é mais do PCdoB, foi o relator do Código Florestal. Tenho compromisso com a visão de País em que o tema ambiental é central na perspectiva de desenvolvimento da nação porque uma das facetas do capitalismo é a destruição do planeta. Precisamos pensar, como é a construção do socialismo brasileiro que defendo, nas condições para a existência sustentável da humanidade.
A sustentabilidade tem relação com o padrão de consumo, com a produção de energia e alimentos. Defendo que o País precisa se desenvolver respeitando isso. Não é nem uma sustentabilidade santuarista, que veja o Brasil como algo religioso, com a ideia de que somos um santuário do planeta, nem com a destruição de suas potencialidades inclusive de desenvolvimento.
A Amazônia representa a sustentabilidade, a ideia da floresta do povo brasileiro, mas também a possibilidade do desenvolvimento de uma indústria nacional de fármacos. É preciso compreender as duas dimensões, o debate do Código Florestal infelizmente não aconteceu assim, foi cheio de obstruções de quem desconhece a realidade dos pequenos produtores, do que representa agricultura familiar para o Brasil.
Q: A Luciana Reis, de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, quer saber quais são suas propostas para a seguridade social, tão ameaçada por Michel Temer?
MD: O Temer destruiu o Estado brasileiro por inteiro. A proposta de reforma da Previdência tinha a ideia de entregá-la para o mercado financeiro. O pacto que o Brasil deve fazer é de renovação de medidas que protejam os trabalhadores e trabalhadoras. É inadmissível pensar qualquer padrão de alteração da legislação de seguridade social no país se não enfrentarmos a garantia de que todos vivam com dignidade.
Todo padrão de reforma da Previdência no Brasil é feito em cima de comparação com outros países em que os trabalhadores e trabalhadoras não vivem em péssimas condições como os brasileiros. Um exemplo hipotético, “a jornada na Itália é igual à brasileira”. OK, mas vai ser trabalhador em Roma e andar de metrô levando 10 minutos para chegar ao trabalho, ou vai trabalhar em São Paulo levando duas horas e meia para ir e duas horas e meia para voltar, com oito horas de jornada.
Para enfrentarmos qualquer mudança na Previdência é necessária a alteração da vida presente dos trabalhadores, quer dizer, trabalhar cinco anos a mais vivendo uma vida melhor. Uma jornada, por exemplo, de seis horas por dia, é uma coisa. Postergar a aposentadoria para quem trabalhou oito horas por dia ou mais e ainda tem uma jornada de rua gigantesca é um absurdo.