Manuela: Desenvolvimento do século 21 é o que combate às desigualdades
“Esse Brasil submisso, de joelhos, não garantirá que o nosso povo viva com mais dignidade”, afirmou a pré-candidata do PCdoB à Presidência da República, Manuela D’Ávila, durante debate realizado nesta sexta-feira (27), em São Paulo, repelindo a política de desmonte de Michel Temer. Para ela, a retomada do desenvolvimento passa pela recuperação da indústria nacional, que só pode se concretizar com “um pacto político e programático com o setor produtivo”.
“E é por isso que lançamos a minha pré-candidatura à presidência, porque queremos fazer esse debate durante a campanha eleitoral”, completou Manuela durante a sua participação no debate promovido pelo DCE-Livre da USP, Alexandre Vannucchi Leme, em conjunto com o Centro Acadêmico Visconde de Cairu (CAVC) e a Associação de Pós-Graduandxs da USP Helenira ‘Preta’ Rezende.
Sob o tema “Perspectivas para o desenvolvimento, universidade e novas tecnologias”, o debate buscou abordar os principais entraves econômicos do país e as perspectivas diante de uma crise política, que afetou diretamente a indústria nacional e a estrutura estatal brasileira. Entre os debatedores estavam o deputado federal e líder do PCdoB na Câmara, Orlando Silva (SP), e os professores Leda Paulani, da FEA e ex-secretária do planejamento de São Paulo, e Álvaro Cominm, professor do IRI e da FFLCH e especialista em desenvolvimento.
Manuela reforçou a necessidade de discutir um projeto de desenvolvimento para o Brasil que tenha como cerne a manutenção da soberania nacional.
“A base da retomada do crescimento é o estado ter a condução da economia e do projeto de país, a exemplo de outros países, para que a economia esteja a serviço do povo”, salientou a pré-candidata.
“Qual país do mundo em que o estado não conduza para a valorização da sua indústria e para a garantia de direito e desenvolvimento de seu povo? Nenhum. Portanto, é preciso retomar a capacidade de investimento do estado brasileiro. Nós acreditamos que a base disso é a reforma tributária, com taxação das grandes fortunas e de consumo de luxo que desonere o consumo”, destacou Manuela, enfatizando ainda que é preciso estabelecer uma nova política industrial para o país.
Para Manuela, é preciso compreender que não haverá geração de emprego “sem um pacto político e programático com o setor produtivo”. Segundo ela, a atual crise brasileira exige que a as forças progressistas, principalmente a esquerda, tenham compreensão desse desafio.
Na análise da pré-candidata comunista, o país vive uma crise econômica, resultado de um colapso do sistema capitalista que está em crise desde 2008, e é agravada por uma profunda crise política.
“Vivemos um período de exceção democrática. O golpe é um ato continuado, uma espécie de sequestro que não acaba enquanto a pessoa não está de volta. E a nossa democracia vive essa situação. Tivemos o impeachment, depois, com um governo sem legitimidade projeto antinacional, que rasgou o programa escolhido pelo povo. Agora, como uma terceira etapa, temos a retirada do Lula das eleições presidenciais ou um esforço para isso a partir de sua prisão numa condenação sem provas”, avaliou.
Para o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), o Brasil vive o que os economistas chamam de “tempestade de efeitos”, que é a confluência de muitos fatores que geravam quadros de dificuldades inimagináveis.
“É o atual quadro brasileiro um pouco além da economia, que vive um quadro drástico com dois anos seguidos de recessão. Mas uma crise econômica combinada com uma crise política, que é sintetizada com a expressão ‘não me representa’”, disse o parlamentar em referência à campanha de criminalização da política insuflada nos últimos anos pela grande mídia.
Orlando foi categórico ao afirmar que a saída dessa crise e a retomada do crescimento são as eleições gerais “para que retomemos algum grau de estabilidade política e constituamos com alguma legitimidade poderes da República”, disse, enfatizou que as eleições também vão restabelecer um equilíbrio entre os poderes para voltar a ter ordem institucional e, assim, criar as condições para retomar o crescimento econômico.
O parlamentar também endossou a tese de que o estado tem papel crucial para garantir o desenvolvimento e o fortalecimento das universidades como canais de novas tecnologias.
“O estado brasileiro tem papel indutor das iniciativas a nível nacional. E a universidade, como lugar da ciência pura, é órgão central para que possamos nutrir um sistema de formação no Brasil. Conjugar desenvolvimento, universidade com novas tecnologias produz inovação. Nós não possuímos um sistema com a sofisticação equivalente à economia brasileira no plano da inovação que alce o Brasil num papel mais relevante do ponto de vista do seu desenvolvimento”, apontou.
Bancos lucram
Ainda sobre a crise, Manuela apontou que apesar dos números da economia estarem negativos, os bancos mantiveram seus lucros recordes. “Tivemos um aumento da lucratividade dos bancos como nunca antes. Por outro lado, há um conjunto de medidas que imprimem um desmonte da indústria nacional, que reduziu o setor ao tamanho que tinha em 1947, ou seja, não só estagnamos como também perdemos o que havíamos conseguido acumular nos governos de Getúlio de depois com os militares”, lembrou.
Segundo ela, o desmonte do setor produtivo também incluiu o enfraquecimento dos bancos públicos e o fim da política de conteúdo local, cintando a desestruturação do
BNDES como mecanismo de fomento da indústria nacional e o desmonte da indústria de petróleo e gás.
“Junto com isso veio o desmonte do conjunto de direitos com a reforma trabalhista”, destacou Manuela, que citou os números que apontam o crescimento do desemprego como uma demonstração dessa política de retrocessos.
“Nós temos 13 milhões e 700 mil desempregados e vocês devem ter visto a pesquisa que aufere a mais de um milhão e duzentas mil casas cozinhando a partir do uso de lenha, não pela opção tradicional cultural, como é o caso das comunidades indígenas, mas pela necessidade causada pelos aumentos sucessivos do preço do botijão gás”, frisou.
Manuela destaca que dos 13 milhões de desempregados, 5 milhões estão desempregados a mais de um ano. “E desses 5 milhões, metade tem até 29 anos de idade, ou seja, a juventude brasileira está sem perspectiva”, avaliou.
Ela ressaltou que esse retrocesso acontece no mesmo momento em que o mundo alcança o pleno desenvolvimento tecnológico, modificando a vida, os costumes e o cotidiano das pessoas. Ela citou como exemplo os avanços na comunicação, com a internet e redes sociais como exemplo. Mas argumentou que o desenvolvimento econômico e social não acompanha esses avanços.
“É evidente para mim que o desenvolvimento do século 21 é aquele que combate às desigualdades que são estruturantes. O racismo é uma condição estrutural para a construção da desigualdade econômica e social do Brasil. O machismo é ou não uma condição estrutural para a construção da desigualdade? Está chegando o dia das Mães em que temos propaganda de venda de perfume, etc. Mas na vida real 50% das mulheres depois que são mães não conseguem ter emprego. Então é estrutural. E o estado precisa tomar isso como um desafio seu”, defendeu.
E concluiu: “Para nós, essa eleição deve ser o palco de debate de um novo ciclo de debate sobre o desenvolvimento do Brasil”.