Ao participar de sabatina organizada pela Revista ISTOÉ, a pré-candidata do PCdoB à Presidência da República, Manuela d’Ávila, defendeu que o Brasil precisa ser governado por quem acredita profundamente que o país pode trilhar um caminho próprio para o seu desenvolvimento, e que esse desenvolvimento deve passar pelo combate às desigualdades.

A entrevista ocorreu na tarde desta segunda-feira (4) em São Paulo-SP e foi transmitida ao vivo.

“Acho que sou a melhor candidata porque tenho condições de construir esse caminho, dialogando com o Congresso, mas, sobretudo com o conjunto das outras pessoas comuns que trabalham e que vivem a realidade brasileira todos os dias. Acho que nós precisamos agarrar nas eleições de 2018, no sentido de que essa eleição precisa virar a página. Nós precisamos, com eleições limpas e livres, garantir que o povo brasileiro debata saídas para a crise”, explicou Manuela d’Ávila.

Ao ser questionada sobre uma declaração do líder do PCdoB na Câmara, deputado Orlando Silva (SP), repercutida na imprensa que ela retiraria sua pré-candidatura ainda no primeiro turno, Manuela esclareceu que a sua candidatura não é óbice para a unidade da esquerda e para o setor desenvolvimentista, mas que foi dada outra interpretação ao que o deputado disse.

“Se eu retirar a minha candidatura hoje, concretamente o campo progressista estará unido? Os outros três pré-candidatos têm essa disposição? Eu tenho. Se eu sou o óbice para a unidade, não há mais obstáculo”, disse.

“A virtual retirada da minha pré-candidatura apresenta uma solução para a unidade da esquerda brasileira? Não. Portanto, vocês me verão como aquilo que sou, pré-candidata à Presidência da República”, frisou Manuela d’Ávila.

Lei da Ficha Limpa

Indagada sobre a Lei da Ficha Limpa, Manuela respondeu que a ideia de garantir que todos os pré-candidatos tenham a vida limpa é uma ideia válida, mas, ressaltou que o problema é que é preciso resolver em qual momento é adequado para que ela passe a valer.

“Eu penso que a gente precisa debater no Brasil a partir de qual instância as decisões judiciais valem ou não. E não debater provisoriamente, mas de forma definitiva. E para todo o conjunto de decisões da vida política e do povo brasileiro. Precisamos debater no Brasil se as condenações valem no término do conjunto de instâncias que nós temos ou em segunda instância”.

“Acho que no Brasil precisamos parar de comer pelas beiradas”. Manuela explicou que se o problema é o tempo que o judiciário leva para julgar, esse deve ser o problema que é preciso enfrentar.

“Comer pelas beiradas é construir o atalho de dizer que a regra que é prevista no Conjunto de legislações do Brasil não é uma regra certa. Ou seja, esgotam-se os tempos e as medidas judiciais e acelera-se o processo judicial”.

Candidatura própria do PCdoB

Manuela d’Ávila explicou que a candidatura própria do PCdoB foi um debate feito no ano passado durante o processo do 14º Congresso da legenda, portanto, não tem relação com a prisão política do ex-presidente Lula.

“O PCdoB teve pré-candidatura em duas circunstâncias da vida política nacional, em 1930 e 1946. Em duas ocasiões muito emblemáticas. Atualmente, acreditamos que a crise econômica e o impeachment sem crime de responsabilidade abrem um novo ciclo para o país e que nós precisamos transformar essa eleição em um momento de debate de alternativas para o Brasil enfrentar a crise”, declarou.

Cotas nas Universidades

“Defendo as costas. Defendo que ela tem um prazo de validades. Mas, vamos poder debater o prazo de validade delas mais adiante, porque a vida real nos mostra que ainda está muito longe de nós termos justiça no acesso ao ensino superior. Sim, elas têm que ter um prazo de validade, qual prazo será? Acho que mais adiante vamos conseguir ver”.

Descriminalização das drogas

Manuela defendeu a tributação das drogas. “O Brasil precisa fazer essa discussão. O Brasil precisa debater de forma cientifica o tema do impacto de cada uma das drogas na violência, inclusive das que já são lícitas”.

A pré-candidata explicou que é preciso pensar para que servirá a tributação das drogas. “O mero tributo não reparará as comunidades que vivem as guerras as drogas. Então tributa só para criar um monte de monopólio de empresas gigantescas que vão lucrar e as pessoas nas comunidades que viveram, morreram ou enterraram filhos, vão seguir nessa situação? Não. Eu defendo a tributação e defendo que o uso desse recurso seja para duas questões. Primeiro, investimento em comunidades que viveram a guerra as drogas, e segundo, em campanhas de conscientização sobre o uso abusivo de drogas e em políticas para tratamentos de pessoas que fazem o uso abusivo das drogas”.

Pena de morte

“Sou contra a pena de morte. Acredito no ser humano e acredito que possamos ressocializá-los a medida do possível ou nós proteger deles quando necessário”.

Ensino religioso nas escolas públicas

Manuela defendeu que é contra o ensino religioso nas escolas públicas. “Até porque via de regra não aglutina o conjunto de religiões do povo brasileiro. Como eu defendo que o Estado brasileiro conviva e garanta que todas as pessoas com as suas religiões ou não religiões conviva harmonicamente. É errado que apenas uma delas seja manifestada no ensino”.

Saúde

“Um dos temas é a manutenção do Sistema Único de Saúde (SUS). Nós vivemos hoje um governo que ameaça de todas as formas o SUS. Nós precisamos compreender o que é esse caso único do mundo da ideia da construção de um sistema universal de saúde. E o desafio que isso nos coloca e concretamente o que significa o avanço do acesso do povo empobrecido a saúde, antes e depois do SUS”.

A pré-candidata do PCdoB explicou que antes do SUS, ter um problema de saúde era um problema individual. Pois não existia previsão de tratamento das pessoas, sobretudo das que estavam desempregadas, por que era veiculado ao sistema de trabalho.

“É preciso fazer um debate sobre o tamanho do financiamento do SUS e os mecanismos que nós temos de garantir o melhor investimento de recursos a partir inclusive, da economia que pode ser feita a partir de incrementos tecnológicos de gestão”.

Redução da maioridade penal

“Sobre a maioridade penal os brasileiros são muito enganados. No Brasil, a pessoa passa a poder ser presa a partir dos 12 anos. Porque se alguém não sabe que a atual fundação Casa é uma prisão, não conhecem nada. Sugiro que visitem para entender que é um tipo de punição e prisão, e que os brasileiros a partir dos 12 anos já podem ser submetidos a ela. Eu defendo a manutenção da idade atual porque já acho que com 12 anos para cumprir medidas de restrição de liberdade já é uma idade bastante baixa”.

Presidenta

Manuela foi questionada sobre a necessidade de reflexão de gênero da palavra presidente e se a presidenta Dilma Rousseff,  sendo mulher, deixou o país entrar no “caos econômico”. Manuela reafirmou  que acredita que presidenta Dilma foi tirada do poder por um impeachment sem crime de responsabilidade, ou seja, um golpe, por diversos fatores e destacou dois deles: Primeiro pela pressão da crise mundial do capitalismo e por ser mulher. “Na vida real, o que construiu o imaginário contra Dilma foi que ‘ela era incapaz, que gritava’, ou como dizia uma revista numa coluna ‘que ela precisava de um namorado’… Imagina se uma revista sugerisse que Temer precisasse ser mais viril para governar melhor?”, questionou.

Carga tributária

“A carga tributária é altíssima para o povo brasileiro, mas não para os ricos”, explicou. “Não é ‘tirar dos ricos e dar aos pobres’. Vamos parar de tirar dos pobres que dão aos ricos. Falam em meritocracia no Brasil, mas não taxam grandes fortunas como tantas outras nações. Isso não é uma ideia comunista. Isso acontece em diversas nações desenvolvidas”.

Comunista

“Ser comunista no século 21 é acreditar na justiça social. Essa é a razão que me faz militar até hoje, de que o Brasil pode e deve ser justo”.