Manuela defende transformar Porto Alegre numa cidade antirracista
A candidata do PCdoB à Prefeitura de Porto Alegre, Manuela d’Ávila, conversou, na tarde desta segunda-feira (23), com o jornal SBT Rio Grande. Dentre os temas abordados, as propostas de Manuela para combater o racismo — assunto que ganhou mais força diante do brutal assassinato de José Alberto Silveira Freitas na quinta-feira (19) no Carrefour de Porto Alegre —, a defesa das mulheres, o enfrentamento da Covid-19 e da crise econômica.
Ao iniciar a entrevista, Manuela lembrou que seu programa de governo já abordava o tema do enfrentamento ao racismo e destacou como um dos principais pontos a proposta “Vidas Negras Importam”, que trata da articulação das políticas da prefeitura para garantir o enfrentamento do racismo estrutural. “Isso significa capacitar todas as trabalhadoras e trabalhadores da Prefeitura para serem parceiros “, disse. Ela também apontou a inclusão da pauta nas escolas e nas unidades básicas de saúde e a ideia de tornar a Guarda Municipal “parceira na segurança comunitária e no enfrentamento a essa violência sistêmica”.
Manuela agregou, também, que “quando nós garantimos que as nossas crianças estejam nas creches, nós estamos enfrentando o racismo estrutural porque a maior parte das crianças que está fora das creches em Porto Alegre é de meninos e meninas negras. Porto Alegre é uma das cidades com mais desigualdade educacional entre negros e brancos”. Para ela, a Prefeitura “precisa reconhecer a existência do racismo para poder enfrentá-lo e transformar Porto Alegre numa cidade que seja antirracista”.
Olhar especial às mulheres
No que diz respeito à desigualdade e à violência de gênero, Manuela enfatizou: “Queremos governar Porto Alegre com um olhar muito especial às mulheres. Às vezes, as pessoas me perguntam ‘se é a favor das mulheres não é contra os homens?’. Não, mas é que eles são homens cuidando dos homens e nós teremos uma mulher e um homem cuidando das mulheres e dos homens da cidade”.
Com relação à violência, a candidata colocou: “desenhamos o que chamamos de Guardiã da Penha, que é a Guarda Municipal sendo nossa parceira para proteger as mulheres vítimas de violência doméstica. Temos também a ideia de criar três casas de proteção, que abrigam as mulheres quando elas são vítimas de violência”.
Manuela tratou também de temas que se relacionam à vida da mulher na cidade e que contribuem para a autonomia e a superação das desigualdades. “Quando falamos em microcrédito, trabalho e renda para o nosso povo, temos um recorte para as mulheres porque quem mais empreende nas nossas comunidades, no salão de beleza, na pequena padaria, no comércio de bolos e docinhos de festas, são as nossas mulheres. Quando falamos que meu compromisso número um é garantir que nenhuma criança esteja fora da escola, estamos falando, sobretudo, com as mães que deixam de trabalhar quando têm os seus filhos”.
Manuela destacou ainda que “quando uma cidade é boa para nós, mulheres, é boa para todo mundo porque se eu consigo andar tranquila na minha rua porque a iluminação chegou ao meu bairro, todo mundo vai conseguir sair na rua tranquilo. Se consigo andar no ônibus sem me sentir assediada pelo cara que está de pé, todo mundo vai conseguir andar porque vai ser um ônibus mais vazio, com mais qualidade, com menos aperto”.
Crise e pandemia
Para ajudar na recuperação econômica da cidade e, ao mesmo tempo, garantir a saúde frente à pandemia, Manuela explicou: “Sou candidata a ser a prefeita que vai garantir as condições para que Porto Alegre não volte a fechar. E a gente faz isso lutando pela vacina. Vemos hoje um debate absolutamente equivocado, ideológico. O presidente Bolsonaro, que apoia o meu adversário, diz: ‘Ah, se a vacina vem da China eu não quero. Ah, se a vacina vem da Rússia eu não quero’. Eu quero a vacina que funcione e vou fazer a gestão própria dela para Porto Alegre. É isso que vai garantir que a nossa economia fique aberta”.
Manuela defendeu também a “articulação das equipes do Imesf que serão mantidas e reorganizadas nas unidades de saúde e das atuais equipes contratualizadas para que juntas, no território, operem impedindo a ampliação do contágio”. Além disso, colocou, “vamos organizar a testagem dirigida para impedir a ampliação do contágio e garantir que nossa economia fique aberta”.
No âmbito da geração de emprego e renda, Manuela defendeu duas medidas principais. Uma delas, a política de microcrédito. “Estimamos que a Prefeitura possa emprestar R$ 200 milhões para o pequeno e médio empresário que está na comunidade, que teve dificuldade no seu comércio”. A segunda são as compras públicas governamentais, para que itens como alimentos para a merenda escolar e uniformes possam ser produzidos por pequenos agricultores e cooperativas locais. “Precisamos fazer com que a Prefeitura ajude a economia a se desenvolver”, explicou.
A candidata salientou também a importância de cuidar da população em situação de rua, que tem aumentado na cidade como consequência da crise econômica, aprofundada pela pandemia. “Porto Alegre tem cerca de 500 prédios públicos abandonados, aptos a se tornarem prédios residenciais. Queremos, em parceria com a rede de assistência social, com a rede conveniada, garantir que alguns desses espaços sejam destinados para mais vagas de albergamento”. Outros desses prédios “podem ser casas destinadas à moradia de forma coletiva”, disse. Soma-se a essas políticas o que Manuela chamou de “retomada do Dmhab (Departamento Municipal de Habitação) e dos aluguéis sociais”.
Já no final da entrevista, Manuela voltou a alertar contra as mentiras de que continua sendo vítima. “Só nessa semana, já ouvi que estou presa, que vou derrubar as igrejas…É um verdadeiro absurdo, uma baixaria misturar Deus com as eleições. Defendemos uma Porto Alegre que garanta liberdade religiosa, em que cada mulher e cada homem possa ter sua religião e viver em paz e sem que a política seja um instrumento do ódio”.
Por Priscila Lobregatte
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