Ao participar do Fórum Progressista dos Partidos Políticos, a jornalista e ex-deputada do PCdoB, Manuela d’Ávila falou, entre outros temas, sobre o mundo atual e o pós-pandemia, a precarização do trabalho e a luta por um feminismo popular. O evento reuniu virtualmente mais de 100 líderes e militantes de partidos políticos, representantes de movimentos sociais e feministas de toda a América Latina e do Caribe nos dias 27 e 28, para debater o caminho da imaginação política e refletir sobre o futuro da esquerda no mundo.

“A pandemia nos fechou muitas portas. Alguns ingenuamente imaginaram que o mundo sairia melhor da pandemia. E o mundo está muito pior. Temos mais miséria, mais fome, mais problemas ambientais, mais desemprego, mais precarização no trabalho, um trabalho que, cada vez mais, é menos vinculado à dignidade. Isso é uma novidade do nosso tempo”, disse Manuela.

Ela lembrou que nos anos 1990, “conseguir trabalho ainda significava algum grau de dignidade. No tempo presente, o trabalho não significa romper com a miséria e não significa garantia da dignidade”.

Manuela colocou ainda que “nesse mundo que ainda atravessa a pandemia, com mais miséria, mais trabalho precário, mais violência, mais problemas ambientais, nesse mundo, enquanto ele se fechou, restou algo e esse algo foi o trabalho invisibilizado das mulheres, o trabalho de cuidado com as crianças sem as suas escolas, com os idosos adoecidos”.

Por isso, defendeu, “mais do que imaginação, acho que temos que nos conectar com a realidade de milhares de trabalhadoras que, para além do trabalho, não digno e precário, se deparam com a realidade de um trabalho invisível e não valorizado que sustenta a nossa sociedade”.

Além disso, Manuela discorreu sobre os movimentos sociais de gênero e raça. “É verdade que vivemos, no último período, no nosso campo político, aquilo que alguns chamam de novos movimentos”. E acrescentou: “esses novos movimentos não podem servir para reproduzir, dentro de nós e de nosso campo político, aquilo que o liberalismo tem de mais perverso: a ideia de que se um de nós está a salvo, isso é suficiente”.

Ela alertou que “a luta feminista flerta com isso” e que é preciso “tecer e pensar projetos coletivos que envolvam mulheres e homens, mulheres e homens negros, trabalhadoras e trabalhadores precarizados. Para mim, é necessário pensar um feminismo necessariamente popular, que dê conta dos problemas das mulheres trabalhadoras. É importante o tema do corpo, do amor próprio? sim, são temas importantes para as mulheres, mas não são os temas centrais. O tema central é entender, por exemplo, porque no meu país hoje, 62% das mães de crianças de até três anos, quando são negras, não trabalham”.

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Por Priscila Lobregatte