Em entrevista para o UOL TV, gravada nesta segunda-feira (26) e disponibilizada hoje, Manuela D’Ávila, pré-candidata à Presidência da República pelo PCdoB, abordou temas como segurança pública, eleições e participação da mulher na política.

 

A pré-candidata defendeu, na entrevista a unidade das forças progressistas. “Nós precisamos preservar as pontes entre nós. Porque há um programa que nos une e há um dever que nós temos, de vencer as eleições com qualquer um desses nomes no segundo turno, todos juntos”, reforçou ela se referindo ao manifesto “Unidade para Reconstruir o Brasil”, lançado no dia 20 de fevereiro pelas cinco fundações vinculadas ao PCdoB, PT, PDT, PSB e PSOL. Segundo ela, o documento, servirá como base programática para a realização de uma amplo debate entre os partidos.

Na entrevista, Manuela apontou os desafios de ser candidata num ambiente em que predomina o machismo. “A participação política requer que ela [a mulher] esteja no ambiente público, temos que criar mecanismos para tirá-la da vida privada”, afirmou.

“A política é masculina e machista”, enfatizou. Manuela destaca que a luta por direitos da mulher tem provocado reações “em setores mais conservadores” e as eleições serão marcadas por candidaturas que defendem a “volta da mulher para dentro de casa”.

 

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Ela contou ainda que sua percepção sobre o machismo ficou mais evidentes quando, ao ingressar na política, enfrentou a discriminação da mídia. “Aos 22 anos, e vi as primeiras matérias ao meu respeito dizendo que eu era bonita. Quando, aos 25 anos, fui candidata à prefeita, em vez de ouvir ‘olha, que genial uma menina concorrendo para prefeita’, ouvi que eu era bonitinha. Descobri como enfrentar o machismo sendo cortada na minha própria pele”, relatou.

 

Apesar disso, Manuela afirma acreditar que o povo brasileiro será capaz de escolher novamente uma mulher como presidente. “A participação política requer que ela [a mulher] esteja no ambiente público, temos que criar mecanismos para tirá-la da vida privada”.

E acrescentou: “Brasil ainda é muito atrasado em compreender que as responsabilidades no ambiente privado não são só nossas. O Temer uma vez deu até aviso de pauta dizendo que ele ia buscar o filho na creche”, disse. “Se vocês quiserem, eu tenho um aviso de pauta quase diário pra vocês”, brincou.

Segurança pública

O tema segurança pública é uma das principais preocupações do brasileiro e, por conta da crise nos estados e da intervenção no Rio de Janeiro, a questão ganha destaque no debate eleitoral.

Manuela tem feito críticas as medidas de Temer por considerar que se trata de ações sem planejamento e com interesses políticos. Na entrevista, ele defendeu a criação de um ministério capaz de coordenar uma melhor integração entre as forças de segurança dentro dos Estados, mas reforçou que a ação de Temer não deve ter impacto fora do Rio.

“Eu ainda não ouvi desse governo medidas que enfrentem o tema a não ser a intervenção militar no Rio e a criação do ministério, que o Temer diz ser transitório. Eu não vejo como isso vai gerar impacto em outro Estado, porque qual seria o impacto? Nós teríamos outras intervenções?”, questionou. E acrescentou: “Eu criaria um ministério da Segurança Pública, não transitório, mas de verdade”, afirmou ela, reforçando que as “saídas de Temer são falhas”.

Ele defendeu ainda uma série de medidas no setor, entre as quais, a criação de um fundo nacional de segurança pública, o estabelecimento de um piso nacional para policiais civis e militares e a integração das polícias em um ciclo que agregue policiamento nas ruas e investigação.
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“As nossas polícias não fazem um ciclo completo, uma fica na rua e a outra investiga — o que não existe em nenhum outro país do mundo. Só a Polícia Federal tem ciclo completo no Brasil”, afirmou a deputada. “Como elas não têm o ciclo completo, as polícias pegam o chamado tráfico de varejo, o que resulta nessa mega população carcerária no Brasil. 70% dos 760 mil presos são oriundos do enfrentamento ao tráfico de varejo, porque é o que o policial pode fazer”, complementou.

Eleições

Manuela falou também sobre a campanha de ódio feita por alguns candidatos da extrema direita e a polarização política que tem sido um campo fértil para esse discursos de ódio e a disseminação de notícias falsas, que podem interferir no processo eleitoral deste ano.

Ela reafirmou que o seu compromisso é com a democracia e que atua para combater esse tipo de discurso para que “a eleição seja palco de debate de programas”.

“Marina, [Geraldo] Alckmin, [Jair] Bolsonaro se situam, digamos, nesse campo [de direita]. Nós temos as candidaturas de esquerda. Isso é polarização política, e isso não é necessariamente ruim”, defendeu. “O ruim é o debate se pautar a partir da desqualificação dos outros interlocutores”.

Para ela, as eleições devem ser um momento de debate sobre a saída da crise –caso contrário, “nós teremos anos piores pela frente”. “Nós temos 12 milhões de desempregados. Temos que enfrentar isso, temos que ter saídas sólidas para isso, e não transitórias”, complementou.

Lula

Para tentar enfraquecer, a grande mídia insiste na tese de que a pré-candidatura de Manuela é contraditória com a defesa da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“Apesar de “torcer” para que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) seja candidato em 2018 por acreditar que “não há nenhuma prova contra ele”, a deputada estadual gaúcha Manuela D’Ávila (PCdoB) afirmou que mesmo que Lula seja alguém “importante” para a esquerda, o campo tem “muitos nomes” e não depende exclusivamente dele”, diz um trecho da matéria publica pelo UOL.

“Ele [Lula] é muito importante, mas [a esquerda] não depende de nenhum de nós, não é apenas dele. Não depende de nenhum de nós isoladamente”, frisou Manuela. “A minha pré-candidatura foi construída com o cenário de que ele dispute as eleições”, acrescentou.
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Questionada sobre uma eventual ausência de Lula nas eleições e o que aconteceria com as demais candidaturas de esquerda, a deputada citou o manifesto lançado pelas cinco fundações vinculadas aos partidos. Ela defendeu que os partidos do campo sigam um “programa comum”. “Não é momento de olhar com a lupa o que nos separa, mas de favorecer o diálogo e de identificar pontos de unidade”, afirmou.

 

*Apenas alguns trechos da entrevista pela TV foram disponibilizados pelo UOL/TV para reprodução em sites.