A ex-deputada federal e ex-candidata a presidenta da República Manuela d’Ávila concedeu entrevista ao jornal Folha de S. Paulo detalhando a sua participação no processo de divulgação dos bastidores que relevam ilegalidades da Operação Lava Jato. Ela, que é jornalista e dirigente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), representou o Partido na chapa encabeçada pelo candidato a presidente Fernando Haddad (PT) nas eleições de 2018.
Numa das partes mais importantes da entrevista, Manuela d’Ávila diz que os documentos que entregou à polícia para perícia comprovam as informações que prestou de forma voluntária. “Tenho absoluta tranquilidade em relação a isso. A minha versão, que será comprovada pela perícia voluntária, é algo irrelevante diante dos fatos. A minha participação não faz uma grande diferença”, afirma.

Detalhes

Segundo ela, como jornalista pôde avaliar que Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil, preenchia um conjunto de critérios para lidar com as informações da Lava Jato, por “fazer parte de uma equipe de jornalismo investigativo, não ter um editor-chefe ali todo dia (perguntando) se vai sair ou não vai sair”. “Alguém que tem um (prêmio) Pulitzer não queima o seu Pulitzer para dar um furo no Twitter”, enfatizou.

Manuela d’Ávila também disse que a decisão que tomou foi uma honra. “Me honra porque hoje o Brasil sabe, a partir do trabalho do Glenn, do Intercept e de outros veículos de comunicação, o envolvimento dessas autoridades em crimes horrendos”, destacou. “A decisão que tomei, como jornalista e como cidadã, foi passar para o maior jornalista do mundo aferir a veracidade dos crimes que se revelam, cotidianamente, cometidos por autoridades do Estado brasileiro”, complementou.

Ao longo da entrevista, Manuela d’Ávila reafirmou o que já havia dito, explicando os acontecimentos em detalhes — fugindo de algumas pegadinhas do jornal. Numa delas, a Folha recorreu a uma entrevista do hacker Walter Delgatti Neto afirmando que a havia procurado porque sabia da sua proximidade com o Glenn Greenwald e o marido dele, o deputado David Miranda (PSOL-RJ). “Para mim, o mais importante na entrevista e também em toda a operação ‘Vaza Jato’ é a relevância dos documentos que estamos tendo acesso”, elucidou Manuela d’Ávila.

Crime

Ela explicou que tecnicamente Glenn Greenwald tem muita capacidade. “Sabia que qualquer um de nós jornalistas tínhamos a questão do sigilo de fonte, que estaríamos protegidos por isso, mas imaginei que, tecnicamente, ele teria plenas condições de aferir porque ele já tinha lidado com algo que essa pessoa anunciava — embora eu não tivesse conhecimento se era verdadeiro ou não — e que era similar ao caso Snowden”, afirmou. “Consultei meus advogados para saber se o contato era algo que eu poderia fazer. Sabia que eu tinha direito ao sigilo de fonte e o Glenn também, mas não tinha certeza se esse contato se enquadrava nisso. E eles me disseram que sim”, esclareceu.

Outra pegadinha da Folha foi sobre se ela temia “ser envolvida em um crime. “Sou jornalista, né? Sabia que poderia exercer o meu direito de jornalista se tomasse a decisão de receber as informações. Não queria fazê-lo porque não me sentia tecnicamente preparada para aferir a veracidade ou não das informações. Se eu tivesse mandato, poderia fazer na condição de deputada. Eu queria ter segurança jurídica. O meu receio era só o de poder dar passos com plena segurança jurídica”, respondeu Manuela d’Ávila.