Mesmo sob forte chuva, milhares de pessoas participaram do ato na capital paulista.

Manifestações em defesa da democracia foram realizadas em 31 cidades, nesta terça-feira (5). Milhares de pessoas protestaram contra as declarações do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) que ameaçou decretar um novo Ato Institucional nº 5 (AI-5) no Brasil como uma “resposta” caso aconteçam manifestações populares contra o governo como no Chile.
Para o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Iago Montalvão, “as manifestações de rua se somam aos partidos, entidades e movimentos sociais que repudiaram as ameaças de Eduardo Bolsonaro à democracia”.
Em São Paulo, o ato convocado pelas entidades estudantis reuniu milhares de pessoas no Vão Livre do MASP, na Avenida Paulista. O protesto contou com participação de dirigentes sindicais e representantes dos movimentos sociais e de moradia.
O presidente da UNE afirmou que “o repúdio às ameaças do Eduardo e os ataques de Jair à democracia foi amplo e plural. Partidos de direita e de esquerda, ministros do STF, entidades importantíssimas como a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), todos mostraram que o povo brasileiro está disposto a fazer de tudo para garantir suas liberdades democráticas”.
“Estamos aqui dizendo não a todo o projeto de Bolsonaro e Guedes. Um projeto que entrega nossas riquezas, como o petróleo, que é antipopular, por tirar direitos dos trabalhadores e os deixar em uma situação cada vez mais precária, e que é antidemocrático, já que a cada instante eles atacam uma instituição democrática diferente”, continuou.
“Eles tentam nos empurrar goela abaixo um projeto que faz mal para o país e para o povo, mas ameaçam com um ‘novo AI-5’ caso nos rebelemos. O que resulta disso é eles tentando passar suas medidas através do medo”, completou Iago.
Para Pedro Gorki, presidente da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), “Jair Bolsonaro ter dito que seu filho está apenas ‘sonhando’ quando fala de um novo AI-5, sem qualquer tipo de repúdio ao conteúdo da fala, mostra que ele é conivente”. “Um presidente com o mínimo de sanidade e que defendesse o estado democrático de direito teria condenado uma fala como a de Eduardo Bolsonaro, tivesse ela saído da boca de qualquer parlamentar”.
Gorki acredita que “o povo brasileiro precisa tomar muito cuidado e estar firme na luta para que as ameaças da família Bolsonaro à democracia não saiam da oratória”.
Lucas Chen, presidente da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES), explicou que “o AI-5 da ditadura militar não foi contra a esquerda, mas contra toda a democracia. Fechou o Congresso Nacional, Assembleias Legislativas, institucionalizou a perseguição política e a censura”.
“Nossas manifestações de hoje, que estão acontecendo em diversas cidades, são para deixar claro que a família Bolsonaro está indo longe demais. Na democracia não encostarão um dedo sequer”, destacou o estudante.
O diretor de Universidades Públicas da UNE, Guilherme Bianco, disse que “esses ataques à democracia ficam mais intensos e frequentes com o crescimento do repúdio à política neoliberal de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes. Não dão resposta ao problema do desemprego, retiram direitos e leiloam nosso petróleo. Ao lado disso está a perda de apoio no parlamento, seja por essa política que tentam aplicar ou pelos desentendimentos dentro do próprio partido”.
“É importante entender que uma ditadura somente serviria para empurrar goela abaixo uma política que o povo rejeita, e o povo tem rejeitado toda essa política entreguista”, completou.
Também na noite desta terça-feira, mais de mil pessoas participaram do ato na Candelária, no centro do Rio de Janeiro. Segundo Julia Aguiar, diretora da União Nacional dos Estudantes (UNE), uma das entidades organizadoras, o ato foi uma resposta aos últimos acontecimentos da política nacional, envolvendo Bolsonaro, Marielle e ameaça à democracia.
“O ato de hoje está sendo chamada a nível nacional porque na semana passada vimos esse escândalo do nome presidente da República e sua família, relacionados ao assassinato da Marielle. Não podíamos não dar uma resposta a isso. Junto com essas informações veio a declaração do filho do presidente dizendo que deveria estabelecer um novo AI-5 no Brasil. É um absurdo que nesse momento da história a gente tenha que continuar defendendo que a democracia tem que continuar no nosso país. Estamos aqui pela memória de Marielle, pela democracia e sem esquecer dos nossos direitos como educação, saúde, Previdência”, disse Julia Aguiar.
Na Esquina Democrática, em Porto Alegre (RS), os manifestantes também realizaram ato em defesa da democracia. O protesto também cobrou a resolução do assassinato de Marielle Franco.
“Marielle perguntou, eu também vou perguntar, quantos mais têm que morrer pra essa guerra acabar?”, entoaram manifestantes nas ruas de Porto Alegre.
“Estamos aqui para exigir justiça por Marielle Franco, que era uma mulher, negra, lésbica, da favela, que defendia muitas das lutas que todos os dias a gente defende. Nós temos o dever histórico de lutar por justiça, buscar resposta, mas mais do que tudo seguir defendendo as ideias que Marielle defendia”, disse umas das participantes, Ana Paula Santos, coordenadora-geral do DCE da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) destacou o legado da vereadora Marielle Franco como lutadora social.
O ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont (PT) ressaltou a temerosa escalada autoritária do governo federal. “Estamos vendo que a família do Bolsonaro, e o próprio Bolsonaro, não só elogiavam torturadores, como fazem a defesa como alternativa política do AI-5. Então nada mais oportuno do que este ato demonstrando a capacidade de luta e de resistência, que é o que todos nós temos que assumir”, afirmou.