Manifestação neonazista em Berlim exige direito de se contaminarem
Aloprados de todo tipo se aglomeraram em Berlim, capital da Alemanha, no último sábado (1º/8) para exigir o direito de se contaminarem com o coronavírus e aos outros, em nome da “liberdade”. Na Alemanha, houve 200 mil casos de Covid-19 e 9 mil mortos e estão em curso alertas sobre recidiva.
Essa manifestação papagueia aquelas insufladas por Trump nos EUA, que levaram a epidemiologista-chefe da Comissão Anticoronavírus da Casa Branca, Deborah Birx, a advertir que “vão acabar matando a avó”. Nos EUA, a pandemia permanece inteiramente fora de controle.
Aos neonazistas se juntaram vários grupos exóticos, como os anti-vacinação, os apologistas das teorias da conspiração, ‘livres-pensadores’ do Twitter, negacionistas em geral, ecologistas radicais contrários ao extermínio do corona, comerciantes que reclamam dos prejuízos e alguns incautos. De acordo com a polícia alemã, foram 15 mil manifestantes, “500 mil” de acordo com os “organizadores”.
Para não deixar dúvida de onde partia a inspiração para a nova modalidade de “viva a morte!”, o nome dado ao protesto “O Fim da Pandemia – Dia da Liberdade”, remete a um documentário de 1935 de Leni Riefenstahl, de título ‘Dia da Liberdade’, que mostrava uma conferência do Partido Nazista, presidida por Hitler.
O protesto foi organizado por Stephan Bergmann, empresário que deu origem à iniciativa Querdenken 711, e que ganhou notoriedade por declarar que o vírus era “falso”.
“O governo não quer proteger vidas humanas, mas introduzir o comunismo”, disse Bergmann ao jornal Tagespiegel na véspera da manifestação de Berlim. “Dane-se a regra da distância!”, enfatizou.
“Somos a segunda onda”, gritavam alguns manifestantes, enquanto outros classificavam a pandemia como “a maior teoria da conspiração”. Eram exibidas faixas com os dizeres “Pense, não use máscara” e “estamos fazendo barulho porque você está nos roubando a liberdade”.
Em matéria de alucinação, havia de tudo um pouco estampado em cartazes conduzidos pelos manifestantes: “somos forçados a usar mordaças”; “corona: alarme falso” e “defesas naturais ao invés de vacinas”. Não faltaram sequer os alertas sobre a conspiração de Bill Gates e sua vacina.
Os mais extrovertidos pleiteavam sua liberdade individual de se contaminarem e contaminarem outros – e o “livre arbítrio”, como fica? Uma bandeira da Alemanha imperial fez uma aparição triunfal. Um cidadão levou um cartaz em que fundia uma suástica com sua ‘crítica’ à vacinação.
Uma manifestante, entrevistada pela AFP, que se identificou como Anna-Maria Wetzel, vinda de Bade-Wurtemberg com 15 amigos, asseverou que “aqueles que não se informam por si mesmos, ao contrário de nós, são ignorantes e acreditam no que o governo lhes diz”. E concluiu no melhor gênero ‘fake news’: “Entram no medo que o governo nos mete na cabeça. E o medo debilita o sistema imunológico”.
Com megafones, policiais tentaram sem êxito convencer a alegre turba a respeitar o distanciamento de 1,5 metros. Pelo Twitter, a polícia de Berlim anunciou que abriu processos legais contra os organizadores do protesto, em razão da “desobediência às regras de higiene”.
Nos arredores, contramanifestações apupavam a procissão pró-coronavírus chamando-os de “nazistas!”.
Como registrou a Deutsche Welle, o que torna ainda mais absurdo e inquietante tal protesto é que na Alemanha “há muito, bares e restaurantes reabriram; cinemas e concertos despertaram de seus sonos mágicos; viagens não estão mais proibidas; as aulas voltaram nas escolas”.
Ainda segundo a DW, “não haveria forma melhor de esse povinho bizarro, vindo de toda a Alemanha, se autodesmascarar e se submeter ao ridículo; todo o mundo pôde ver de que lado se encontram visão abrangente e tolerância, e de qual, tacanhice e intolerância”.
A exibição de egoísmo e estupidez foi repudiada pela líder do Partido Social Democrata, Saskia Esken: “Sem distância, sem máscara: não só põem em perigo nossa saúde, mas também nosso êxito diante da pandemia e a reativação da economia, da educação e da sociedade. Irresponsável!”.
“Qualquer um que deliberadamente colocar os outros em risco deve contar com sérias consequências para si”, afirmou o ministro da Economia, Peter Altmaier. Ele defendeu medidas mais rígidas contra as pessoas que violarem as regras para conter a disseminação do coronavírus.
A aglomeração de Berlim aconteceu no momento em que, conforme o Instituto Robert Koch, responsável pelo monitoramento da covid-19, no sábado a Alemanha registrou 955 novos casos – um nível que não era registrado desde o dia 9 de maio.
Uma deterioração do quadro anterior, em que o país vinha mantendo estável o número de novos casos, com média diária de 300 a 500. O que foi atribuído pelo presidente do RKI, Lothar Wieler, à negligência de parte da população em relação ás medidas de higiene, uso de máscara facial e distanciamento social. Ele conclamou todos a “fazerem a sua parte”, apesar das férias de verão.