Malásia: “Pacto EUA-Austrália desencadeia corrida nuclear no Pacífico”
O primeiro-ministro da Malásia, Ismail Sabri Yaakob, advertiu no sábado (18) que o anúncio da recém formalizada ‘aliança AUKUS (Austrália, Reino Unido, EUA) para fornecer submarinos capazes de comportar foquetes com ogivas nucleares à Austrália irá desencadear “uma corrida armamentista nuclear” na região do Pacífico.
A declaração acrescentou que a Malásia, país membro da Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), “mantém o princípio de preservar a Asean como uma Zona de Paz, Liberdade e Neutralidade”.
O acordo AUKUS poderá se tornar um “catalisador para uma corrida armamentista nuclear na região Indo-Pacífico” e também poderia “provocar outras potências a agirem de forma mais agressiva na região, especialmente no Mar da China Meridional”, assinalou o primeiro-ministro. Ele pediu a todos “que evitem qualquer provocação e competição de armas na região”.
A advertência malaia vem se somar às manifestações de condenação já emitidas pela Indonésia, China e Nova Zelândia e à insatisfação em Paris por ter sido “esfaqueada pelas costas”, já que a Austrália rompeu acordo com Paris de US$ 56 bilhões em execução para fornecimento de submarinos convencionais, para favorecer os cartéis bélicos apadrinhados por Washington.
A Indonésia, na véspera, através de seu Ministério das Relações Exteriores, se disse “muito preocupada com a contínua corrida armamentista e a projeção do poder militar na região” e pediu a Morrison e seu governo que “mantenham a paz, a estabilidade e a segurança”.
Porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês, Zhao Lijian, denunciou que o acordo “compromete seriamente a paz e a estabilidade regionais e intensifica a corrida armamentista” e chamou o fornecimento de submarinos nucleares a Canberra como “extremamente irresponsável”.
A China também considerou a medida uma ameaça à não-proliferação nuclear, já que a única coisa que impediria a instalação de armas nucleares a bordo dos submarinos de propulsão nuclear de projeto americano seria a promessa verbal de Biden e de Morrison de que isso não acontecerá e o armamento será “convencional”.
A embaixada chinesa em Washington exortou Austrália, EUA e Reino Unido a “sacudirem sua mentalidade de Guerra Fria e preconceito ideológico”, enquanto o jornal chinês Global Times considerou que a Austrália virou “um peão dos EUA” e está se colocando “na perigosa condição de bucha de canhão no caso de um confronto militar na região”.
Mesmo dentro da Austrália há vozes contestando a decisão. Para o ex-diplomata australiano Bruce Haigh, o país agora está “isolado na Ásia e na Europa” devido ao acordo da AUKUS. “A região está furiosa com a decisão do submarino Morrison/Dutton”, declarou Haigh, acusando Morrison de ter “mentido ontem quando disse que a região estava do lado”. Dutton é o atual ministro da Defesa da Austrália.
Outros australianos denunciam que o atual governo está – com sua cumplicidade com Washington contra a China e ao implantar submarinos nucleares com capacidade de disparar armas nucleares – pintando um enorme “x” no mapa do país, em meio ao que o Pentágono vem chamando de mudança de paradigma da ‘Guerra ao Terror’ para a disputa ‘com as Potências contestadoras’, isto é, China e Rússia.