President Donald Trump during an event about safely reopening America's schools in the wake of the coronavirus pandemic, at the White House in Washington, July 7, 2020. Trump’s annual financial disclosure report was due to be made public more than a week ago, but the filing, the only official public document detailing his personal finances, has not yet been released, and the White House and federal ethics officials have declined to explain why. (Anna Moneymaker/The New York Times)

O governo dos Estados Unidos determinou que os hospitais ignorassem – deixando de passar informações – ao Centro de Controle e Prevenção de Doenças, CDC, órgão que trabalha na proteção da saúde pública da população, fornecendo informações para embasar decisões quanto à saúde e que desenvolve parcerias com departamentos estaduais de saúde e outras organizações.

A nova orientação é de que a partir de quarta-feira, 15, passem a ser enviadas todas as informações dos pacientes do Covid-19 para um banco de dados em Washington.

A medida preocupou especialistas em saúde porque o CDC realizava o trabalho compartilhando informações com os setores de saúde do país e temem que agora os dados sejam mascarados e escondidos do público.

Em um documento pouco visível no site do Departamento de Saúde e Serviços Humanos apareceram as novas instruções, comunicando genericamente que a partir de agora o departamento – e não o CDC – coletará relatórios diários sobre os pacientes, o número de leitos e ventiladores que cada hospital dispõe e outras informações chaves para rastrear a propagação do vírus.

O banco de dados de Saúde e Serviços Humanos que passará a receber as novas informações não é aberto ao público, e isso poderia afetar o trabalho dos pesquisadores e funcionários da saúde que dependem dos dados para fazer projeções e tomar decisões cruciais. O CDC não as colocava na gaveta, as divulgava. O governo justifica a mudança dizendo que irá simplificar a coleta de dados e auxiliar a força-tarefa do coronavírus da Casa Branca na alocação de suprimentos escassos, como equipamentos de proteção pessoal e medicamentos.

A direção do CDC não segue a cartilha de Trump. Durante sessão do Comitê de Energia e Comércio da Câmara de Representantes (equivalente à nossa Câmara de Deputados), na semana passada, Robert Redfield, diretor do órgão, assinalou que as capacidades básicas de saúde pública do país norte-americano não contaram com o financiamento suficiente durante muito tempo e necessitavam um investimento urgente.

Quatro dos ex-diretores do CDC, incluindo as administrações republicana e democrata, declararam em um artigo publicado terça-feira, 14, no The Washington Post, sua preocupação de que Trump, nas vésperas da eleição presidencial, esteja politizando a ciência e minando os setores especialistas em saúde, em particular o CDC, para se livrar da responsabilidade pela situação crítica que o país vive diante da pandemia.

“A centralização do controle de todos os dados sob o guarda-chuva de um aparato inerentemente político é perigosa e gera desconfiança”, disse Nicole Lurie, que atuou como secretária assistente do ex-presidente Barack Obama. “Parece cortar a capacidade de agências como a CDC para fazer seu trabalho básico”, completou.

Trump tem elevado o tom da hostilidade ao órgão em especial a sua principal liderança, Dr. Anthony Fauci, que tem alertado para a negligência de Trump em relação à gravidade da dimensão que a pandemia tomou nos EUA. Leia matéria relacionada:

O CDC colhe dados de coronavírus por meio de sua Rede Nacional de Segurança em Saúde, que foi expandida no início da pandemia para rastrear a capacidade dos hospitais e as informações dos pacientes específicas do Covid-19.

A deputada Donna E. Shalala, da Flórida, que foi secretária de saúde do ex-presidente Bill Clinton, disse que o CDC foi a agência adequada para coletar dados de saúde. Se houver falhas nos sistemas do CDC, elas deveriam ser corrigidas e não mudar para outra administração, declarou.

“Somente o CDC tem o conhecimento necessário para coletar dados”, disse Shalala. “Acho que qualquer movimento para tirar a responsabilidade das pessoas que têm o conhecimento é politizar”, criticou.

Robert Redfield enfatizou ainda a necessidade de continuar aumentando o número de rastreadores de contato das pessoas infectadas com Covid-19, assinalando que hoje os EUA contam com 28.000 e, segundo sua opinião, deveriam chegar a 100.000. Os especialistas da CDC consideram que estes mecanismos também são uma prioridade urgente para deter a propagação do vírus.

No momento em que os Estados Unidos têm quase 3, 5 milhões de casos confirmados e 137.000 mortos, Redfield fez uma avaliação dos gastos econômicos que devem ser assumidos para enfrentar o surto do Covid-19. “Provavelmente vamos gastar 7 bilhões de dólares”, disse.