“A Saúde não se vende, se defende”, afirma faixa no ato que ocupou o centro de Madri

Mais de 10.000 trabalhadores da área da saúde, afetados pela crise provocada pela pandemia de Covid-19, marcharam no domingo (29) em Madri, em apoio ao sistema de saúde público espanhol.

Convocados pela plataforma “Maré Branca”, integrada por organizações do setor, os manifestantes ocuparam as ruas da capital espanhola sob o som de tambores, exibindo cartazes com frases como “Saúde 100% pública” e “Mais nenhum contrato lixo”.

Defenderam preservar e melhorar o sistema de saúde público, administrado na região pela Comunidade de Madri, criticada pela falta de investimento no setor, sendo que a cidade é um dos grandes epicentros da pandemia no país.

Em declarações à rede francesa AFPTV, a enfermeira Lara García declarou que saiu às ruas para protestar contra a quantidade “de pessoal (contratado) em meio período, os salários, que são mais baixos que em outras regiões, ainda mais em relação a outros países”, mesmo com a Covid-19 no auge.

A manifestação teve lugar dois dias antes da inauguração, prevista para a terça-feira (01/12), de um hospital contra a pandemia, erguido em poucos meses pela Comunidade de Madri com o argumento de desafogar vários hospitais por causa do coronavírus.

Porém, muitos dos manifestantes destacaram seu temor de que esta nova infraestrutura, com capacidade para até 1.000 pacientes, absorva recursos destinados a outros hospitais já em funcionamento, mas com precariedade, e em particular para o pessoal da saúde.

“O novo hospital é um golpe absoluto para Madri e sua população. Não é nada necessário (…) Madri conta com leitos suficientes que poderiam ser utilizados e estão sem estrutura, sem apoio”, afirmou Leonor Vallejo, de 67 anos, enfermeira de ambulâncias na capital, atualmente aposentada, que participou na manifestação, assinalando que os recursos, se não forem bem aplicados, é dinheiro jogado fora.

A Espanha continua sendo um dos países europeus mais afetados pelo Covid-19, com mais de 1,6 milhão de casos e cerca de 45 mil mortes.

Além disso, as projeções econômicas do Fundo Monetário Internacional (FMI) indicam que a Espanha sofrerá a pior deterioração econômica dos países desenvolvidos, com uma perda de 12,8% do PIB em 2020 e uma recuperação de apenas 7,2% em 2021.

Embora esses 7,2% estejam um pouco acima da média da Zona do Euro, essa ligeira recuperação não compensa a queda abrupta do PIB em 2020. Assim, a diferença entre a Espanha de hoje e seus parceiros da UE continuaria a aumentar, talvez vários pontos mais, no futuro imediato.

Paralelamente a essa deterioração econômica, ocorre uma deterioração na esfera social, em decorrência das elevadas taxas de desemprego. Nesta crise, a Espanha está mais uma vez na vanguarda do desemprego na Europa. Segundo dados do Eurostat, o desemprego na Zona do Euro aumentou 0,8 pontos no período de setembro de 2019 a setembro de 2020. No mesmo período, na Espanha, o aumento foi de 2,4 pontos.

O serviço de estatística da UE assinala ainda que, no segundo trimestre de 2020, a Espanha foi a que teve a maior perda de horas de trabalho efetivas naquela região: 25% em relação ao primeiro trimestre.