A talentosa soprano Netrebko também foi alvo de discriminação por ser artista russa pela Ópera de Munique

No mais recente ato de abominável perseguição à cultura russa e seus disseminadores, particularmente os artistas, a mais destacada soprano da atualidade, Anna Netrebko, foi banida do Metropolitan Opera House de Nova Iorque (Met).

Netrebko havia sido contratada para duas temporadas. A primeira iria se iniciar em abril com diversas apresentações da ópera de Giacomo Puccini, Turandot. Também participaria de uma segunda temporada, que teria início em novembro deste ano e se estenderia até meados de 2023, desta vez com a obra de Verdi, Don Carlo.

Peter Gelb, director-geral do Met, disse cinicamente que a ausência da destacada soprano é uma “grande perda artística para o Met e para a ópera”, para depois acrescentar “que é difícil imaginar um cenário no qual ela volte a se apresentar no Met”.

O Met já havia apresentado Netrebko 192 vezes antes do atual banimento. Nestas apresentações, Netrebko cantou em Russo, Italiano e Francês em mais de 15 diferentes óperas incluindo Don Giovanni, de Mozart; Lucia di Lammermoor, Don Pasquale e L’Elisir d’Amore, Donizetti; I Puritani, Bellini; Macbeth, Il Trovatore e Rigoletto, Verdi; Tosca e La bohème, Puccini; Manon, Massenet e Eugene Onegin de Tchaikovsky.

Ela havia se colocado contra a guerra e pela paz entre Rússia e Ucrânia: “Sou russa, amo meu país, mas tenho muitos amigos na Ucrânia e o sofrimento de agora parte meu coração. Quero que esta guerra acabe de forma que as pessoas possam viver em paz”.

Ainda assim, Gelb achou a declaração insuficiente pois não havia uma rejeição direta ou menção a Putin. A cantora, diante das pressões e percebendo o desfecho de rescisão de seu contrato, se antecipou e declarou que suspenderia sua atividade artística neste período.

Diante dessas atitudes violentamente discriminatórias por Gelb e outros diretores de casas de ópera, a cantora acrescentou que “forçar artistas ou qualquer figura pública a verbalizar suas opiniões políticas em público e denunciar sua pátria não está correto. Não sou uma ativista política, não sou especialista em política, sou uma artista e meu propósito é unir as pessoas acima das divisões políticas”.

Gelb, então se mostrou de alguma forma preocupado com as consequências históricas de seu gesto macarthista e tentou se esquivar: “Nós não promovemos uma caça às bruxas, não estamos entrevistando ou interrogando quaisquer artistas sobre suas posições”.

Mas o fato é que a pressão à qual Netrebko foi submetida por ele e pelos críticos de música da mídia dos EUA equivale aos interrogatórios que durante a escuridão do macartismo atingiu destaques da música norte-americana como Paul Robeson (que chegou a ter seu passaporte cassado) ou o grande cantor e compositor popular Pete Seeger, cujas canções, a exemplo de “We Shall Overcome” (Nós superaremos) são cantadas nas marchas pelos direitos civis e contra as agressões e invasões norte-americanas a outros países até os dias de hoje.