Campanha Lula Livre
Na semana em que se comemora o 70º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, a campanha nacional e internacional pela libertação do presidente Lula da prisão política a que foi injustamente condenado ganhou projeção, amplitude, intensidade e força.
Por José Reinaldo Carvalho*
Simultaneamente, declarações grotescas de integrantes do primeiro escalão do futuro governo, a revelação de que o país passará a ser dirigido desde Primeiro de Janeiro a partir de um submundo em que se mescla a traficância com a fé e a mais baixa expressão da atividade política, a ameaça de retirar-se de pactos internacionais ligados à defesa de direitos humanos fundamentais, como o direito à emigração, expõem de maneira constrangedora perante o mundo a catadura retrógrada dos que venceram as recentes eleições no Brasil, uma imagem em todos os aspectos diferente da que o País mantinha até agora, um triste espantalho em contraste com a face sorridente que nosso povo cultivou no percurso histórico.
A campanha pela libertação de Lula foi marcada nos últimos dias por eventos com a presença de lideranças políticas nacionais e internacionais – um ato político no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e um Seminário, sob os auspícios do Comitê Brasileiro em Defesa da Democracia e pela Libertação de Lula, em parceria com a Fundação Perseu Abramo e a Central Única dos Trabalhadores (CUT).
No mesmo sentido de fomentar a solidariedade internacional contra o ambiente de perseguição política no Brasil e na América Latina, uma delegação formada pelo cantor e compositor Chico Buarque, a advogada Carol Proner, o advogado argentino Roberto Carlés e a ativista e escritora italiana Grazia Tuzi, visitaram o Papa Francisco, um gigante na defesa dos direitos humanos, que ouviu atento e recebeu um relatório com denúncias de processos sobre a judicialização seletiva da política na Argentina, no Equador e no Brasil. Com a denúncia do lawfare chegando ao Vaticano, as possibilidades de ecoar pelo mundo e despertar o sentimento de solidariedade e justiça aumentam, favorecendo a campanha no Brasil pela libertação de Lula.
Destaca-se, nesse mesmo rumo, a visita que Fernando Haddad fez ao ex-presidente uruguaio, Pepe Mujica – um ícone das lutas democráticas na América Latina. O popular ex-presidente do país vizinho, com sua estranha mania de dizer a verdade, declarou: “O tempo passará. Estão construindo um mito. E contra os mitos não se pode lutar.” Algo que equivale ao que o próprio Lula dissera nos dias que antecederam seu encarceramento: “Não se pode prender uma ideia”.
A mobilização de forças políticas em favor da libertação de Lula veio também do Foro de São Paulo, do qual Lula é fundador. Durante a reunião do Grupo de Trabalho desta articulação política, a centralidade da luta pela libertação do ex-presidente foi um consenso entre as forças da esquerda latino-americanas e caribenhas que se encontraram no último fim de semana em São Paulo, passando ao largo de uma ociosa discussão sobre a importância da bandeira “Lula Livre” para a estratégia e a tática da luta pela democracia no Brasil, incrivelmente questionada e desdenhada por forças que, sob o pretexto da amplitude, pretendem na verdade isolar a esquerda.
A luta pela democracia é ampla por sua própria natureza e pelos fins a que se propõe. Assim, lutar neste marco pela libertação do presidente Lula e em defesa do legado de conquistas sociais e patrióticas que seu governo deixou, é lutar por uma ideia-síntese, uma ideia-força, de uma plataforma democrática, popular, social, patriótica capaz de mobilizar as energias criadoras do povo num processo de acumulação de forças visando à emancipação nacional e social do povo brasileiro.
Ignorar a importância da bandeira “Lula Livre” é desdenhar a própria luta, capitular perante os algozes do povo brasileiro, ajoelhar-se perante os facínoras que pretendem liquidar a democracia, extinguir direitos e sacrificar a soberania nacional.