Luciano Siqueira: Trincheira de luta que se impõe
Vem de Engels a consideração de que o embate de ideias configura um terreno específico da luta de classes, articulado e em paralelo às demais frentes de luta, social e política que se desenrolam cotidianamente.
Por Luciano Siqueira*
Tudo a ver com o peso decisivo da consciência avançada no esforço de deslindar os complexos problemas que dão conteúdo aos conflitos, especialmente em situações críticas na sociedade.
Ou seja, sem referências teóricas seguras e sem uma verdadeira práxis o movimento transformador dificilmente ultrapassa os limites do imediato, não alcança patamares superiores, esbarra em obstáculos interpostos pela classe dominante.
Vimos isso no transcorrer dos treze anos de governos Lula-Dilma, que a par de propiciarem conquistas políticas e sociais relevantes, parte delas sem precedentes em nosso país, soçobraram na engrenagem estatal, que se manteve intacta.
A força hegemônica nesse período patinou justamente por carência de descortino teórico e político estratégico.
Agora, mais do que antes, impõe-se a luta no terreno das ideias. Enfrentá-la em sua real dimensão é desafio da militância consequente.
À sua época, não foi sem razão que Lênin, em bilhete a uma irmã a quem confiara a missão de encaminhar à gráfica os originais de sua magistral obra teórica ‘Materialismo e empiriocriticismo’, a advertiu ser aquela naquele exato momento “a tarefa ‘prática’ mais urgente” da revolução Russa.
Também na mesma linha, quando da débâcle da URSS e dos regimes do Leste da Europa, e da evidência de uma crise da própria teoria revolucionária, João Amazonas proclamou em artigo na Revista ‘Princípios’ que “defender e desenvolver a teoria marxista se impunha como tarefa central”.
Óbvio que não se trata de arrefecer o ânimo e a iniciativa na resistência que ora se desenvolve em relação ao ilegítimo governo Temer e à sua agenda antinacional e regressiva de direitos. Trata-se sim, de maneira irrecusável, respaldar essa resistência com a compreensão mais profunda do que ocorre no país agora e elucidar a perspectiva estratégica em seu desdobramento.
Isto não se faz apenas com protestos e denúncias, que em si são válidos e necessários, alimentam o movimento. Faz-se através de amplo e consistente debate, que aborde questões fundamentais.
O 14° Congresso do PCdoB, cuja plenária final ocorrerá de 17 a 19 próximos, encara esse desafio com ousadia. Estabelece uma agenda capaz de esclarecer e, em diálogo com outras correntes políticas e segmentos progressistas, contribuir para a construção de uma plataforma comum destinada a conjugar amplas forças interessadas na superação da crise, na restauração da democracia e na recomposição do Estado como indutor do desenvolvimento em bases soberanas.
*Médico, vice-prefeito do Recife, membro do Comitê Central do PCdoB