O presidente Jair Bolsonaro disse nesta quarta-feira (25) que politizar a luta contra o coronavírus “é uma covardia“.

Alguém tem feito política (de péssima qualidade) com tema mais do que o próprio presidente?

Por Luciano Siqueira*

O diálogo conflituoso com o governado paulista João Doria durante uma teleconferência, por exemplo.

Como bem assinalou o governador Flavio Dino (PCdoB-Maranhão), os governadores não querem fazer luta política com o vírus, querem enfrentar — e estão enfrentando — a pandemia. Mas não podem se escusar de repetidas vezes apelar ao presidente da República para que assuma seu posto de comando e contribua para a articulação nacional das medidas que cabem aos poderes públicos nos três níveis federativos.

Bolsonaro, entretanto, trata tão ingente desafio a seu modo. Mescla incompetência com ação política destrambelhada.
Assim tem sido com todos os demais grandes problemas que afligem a nação.

Agora, quando fica claro no mundo inteiro a dimensão desastrosa das consequências econômicas e sociais da pandemia, aprofundando a crise global sistêmica e atingindo duramente sobretudo países de economia vulnerável — como o Brasil — resolveu se omitir e, se possível, atrapalhar as ações de proteção da população e antecipadamente se eximir da responsabilidade que inevitavelmente lhe caberá em relação ao desastre econômico e social que se prenuncia.

Uma aposta sob todos os títulos arriscada.

No plano imediato, contribui fortemente para o crescente isolamento político do presidente e do seu governo, que amarga dissidências não só centro político conservador mas igualmente à direita.

No desdobramento da situação, um oceano de contradições e incertezas que inevitavelmente levarão a que amplos e diversificados segmentos sociais e do mundo político se sintam compelidos a uma união nacional para enfrentar a crise.

Por enquanto, ao que se observa, mesmo na intimidade do Palácio do Planalto e nas instâncias dirigentes das Forças Armadas a um mal estar ascendente pelo comportamento do presidente. A nau está sem comando e despreparada para navegar em mar revolto.

E, segundo levantamentos relativos às redes sociais — terreno preferencial em que se move o presidente e sua horda de fanáticos e robôs —, cresce a desproporção entre manifestações de crítica e as de defesa do presidente, estas reduzidas a pouco mais de 20%. Suas milícias digitais se vêem acuadas.

O jogo é pesado e envolve ações concretas (ou a ausência delas) de enfrentamento da pandemia e da crise; e também a disputa de narrativas. O ex-capitão joga todas as suas fichas na insensatez.

Mas tudo leva a crer que a fórmula da radicalização antipetista que contagiou uma maioria eleitoral e levou o precário ex-capitão ao poder não encontra chão na complexidade da situação atual.

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