Nos escritos de “A governança da China”, de Xi Jinping, há uma veemente condenação ao atual padrão de relacionamento entre as nações, no qual a convivência entre grandes potências com países médios e com países periféricos é marcada pela hegemonia e pela dependência.

Por Luciano Siqueira*

Um novo mundo, multipolar e pautado pela busca comum do progresso mútuo e da paz é possível, acredita o líder chinês.

Sobretudo nas últimas duas décadas transcorre uma transição a esse novo mundo.

A pandemia do novo coronavírus ao comprometer profundamente as linhas de suprimentos para as indústrias, a produção, os serviços e o consumo, aprofunda a crise sistêmica global e acelera essa transição.

Justamente potências como a própria República Popular da China, a Rússia e a Alemanha, com seus pesos relativos, tudo indica que sairão fortalecidas sobre os múltiplos escombros da Covid-19.

Vem aí um tempo de dificuldades imensas, e também de oportunidades.

O governo do Brasil parece alheio, ou não compreende essas transformações que se operam no mundo. Encara os novos fenômenos com o binóculo invertido tomado de empréstimo aos EUA, com o qual guarda relações de aliança automática e subserviente. Age sem eira nem beira.

Perde inclusive a oportunidade de explorar suas próprias potencialidades e tirar proveito do conflito entre as nações com as quais mantém relações comerciais importantes.

Segundo o Icomex (Indicador de Comércio Exterior) da Fundação Getulio Vargas (FGV), acolhendo 27,8% dos produtos exportados pelo Brasil. O segundo colocado, os EUA, alcançam 14,7 pontos percentuais.

Na guerra comercial entre as duas potências, como deveria se comportar o Brasil? Que vantagens poderia obter?

Demais, no mundo pós-pandemia, teses fundantes do capitalismo dominante, neoliberal, estarão postas a prova. Reascende a percepção do papel indispensável de Estados nacionais fortes e indutores do desenvolvimento. Países centrais não seguirão adiante sem o concurso de relações renovadas com os países periféricos.

Ainda valendo-se de uma correlação de forças que lhe permite espaço para manobras, o rentismo preponderante buscará alternativas à acumulação, ainda que impedido de alargar indefinidamente a distância entre o capital fictício e o mundo real da produção.

A experiência chinesa de transição ao socialismo assentada no mercado sob direção e planejamento do Estado emergirá como referência fundamental para a elucidação de novos caminhos a serem trilhados pela sociedade humana.

Os destinos do Brasil precisam ser repensados. Um projeto de desenvolvimento há que se colocar na ordem do dia, pedra de toque de um novo pacto social e político.

Por enquanto, há uma imensa e desastrosa pedra no meio do caminho, que precisa ser removida. Atende pelo deprimente nome de Jair Messias Bolsonaro.

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