O movimento de placas tectônicas é uma imagem recorrente que se tem utilizado para caracterizar alterações na conjuntura política, quando em ritmo relativamente lento, porém consistente.

Aqui e acolá, através de erupções vulcânicas e terremotos – ou, num patamar mais elevado, tsunamis – as tectônicas traduzem o elevado grau de tensão entre elas.

Também na cena política acontece algo parecido. Contradições se acumulam, nem sempre visíveis ao observador afeito apenas à superfície, e surgem mudanças bruscas de tendência.

 Como no Brasil de agora.

Tendo como pano de fundo as crises sanitária e econômica, que demandam iniciativas de grande envergadura e ousadia – bem longe do alcance de um governo inepto e atabalhoado -, o presidente Jair Bolsonaro vê-se envolto num imbróglio muito maior do que seu capital político acumulado pode dar conta.

Seu projeto político é tão perigosamente grave quanto simplório: conduzir o País ao caos, ambiente que supõe possa lhe ser favorável para uma aventura golpista. Daí jogar todas as suas fichas numa conduta absolutamente inadequada diante da pandemia, na contramão do que se tem feito mundo afora; e no estimulo à sua base social odiosa e radicalizada.

E pouco está se lixando para o dramático conflito que queima na sala ao lado, entre a profissão de fé ultraliberal do seu ministro da Economia, Paulo Guedes e equipe versus as necessidades prementes do Sistema Único de Saúde e dos governos estaduais e prefeituras, das grandes massas marginalizadas dependentes do trabalho informal, das médias e micro empresas que respondem por 27% do PIB e do grande segmento produtivo que depende de pesados investimentos públicos.

Em consequência, o presidente sofre crescente isolamento político, que aumenta a cada dia tanto quanto vai às turras com o Congresso Nacional, o STF e a grande mídia e alimenta contradições e escaramuças no interior do próprio governo
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Na esteira disso, a correlação de forças – que lhe era amplamente favorável quando assumiu o governo há quinze meses – tende a se inverter.

Entretanto, esse movimento não conta com energias provenientes de uma ampla pressão popular (que existe apenas no quesito “insatisfação” captado nas pesquisas de opinião), nem da ação articulada de forças de oposição.

Ou seja, são as contradições no campo outrora unificado em torno do governo o fator principal da gradativa alteração na correlação de forças.

Se esta constatação dá a dimensão temporal do que pode vir a acontecer, desautorizando avaliações precipitadas no sentido de um desenlace em curtíssimo prazo, reforça a necessidade de um empenho convergente de correntes políticas de base popular, tal como vem fazendo o PCdoB, de modo a se inserirem no amplo movimento de salvação nacional que ganha corpo pela iniciativa dos governadores e do Congresso.

Para isolar e enfraquecer o bolsonarismo e gerar condições para a travessia a um novo pacto político e social.

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Este artigo não reflete necessariamente a opinião do Portal PCdoB