Luciano Siqueira: Nosso futebol na Copa e a resistência democrática
A participação do Brasil na Copa do Mundo de futebol sempre foi marcada por simbolismos, na proporção em que galvaniza as atenções da grande maioria dos brasileiros.
Por Luciano Siqueira*
Esta Copa ainda não pegou. E talvez nem chegue a emocionar, salvo se a seleção brasileira começar bem, vencendo as primeiras partidas com brilho.
A Confederação Nacional do Comércio estima que parte considerável dos produtos alusivos ao certame segue encalhada nas prateleiras das lojas em todo o País.
Mais do que a dolorosa lembrança dos 7×1 que sofremos da Alemanha há quatro anos, pesam os dissabores e a tristeza decorrentes dos dois anos de regressão econômica e social sob o governo golpista de Temer.
Reina a desesperança.
Assim mesmo, como somos “a pátria do futebol” — segundo reza a lenda —, há uma intercessão entre elementos simbólicos no que pretende Tite em gramados russos e nas manobras das oposições no campo de batalha mirando o pleito de outubro.
Tite experimenta opções táticas ousadas, numa espécie de combinação de triangulações ágeis, tendo sempre um pivô capaz de resolver a parada. Apóia-se na habilidade de muitos craques que compõem nosso time.
Mas há uma dúvida: com Philippe Coutinho, Willian, Neymar e Gabriel Jesus — o novo “quadrado mágico” — adiantados, perdemos capacidade defensiva?
O técnico presume que não, confiante no vigor e na agilidade do meio-campo e da defesa, capazes de se manterem compactos e de de ocuparem os espaços.
O futebol moderno é sobretudo isso: a ocupação dos espaços. Impedir que o adversário progrida e, em triangulações rápidas, chegar à cara do gol em condições de marcar.
Já na luta das oposições ao governo Temer, por enquanto ainda reinam indecisões e o risco de uma tática semelhante à do técnico Parreira, excessivamente recuada, pouco criativa, para quem “o gol era apenas um detalhe”.
Como assim?
Nossas forças não estão compactadas, permanecem dispersas, não ocupam os espaços que vão se abrindo na esteira da rejeição ao governo; e o risco é de permanecermos na defensiva, pouco ousando agredir as hostes adversárias (temporariamente dispersas e desgastadas).
A defesa do ex-presidente Lula e do direito de se candidatar é posição justa e necessária, mas como tática política ainda é basicamente defensiva. Tanto que se alimenta fundamentalmente da denúncia da arbitrariedade jurídica de que ele é vítima e do legado dos seus dois governos e do primeiro governo Dilma. Carece de proposições claras sobre a superação da crise e o pós-outubro.
Diante de adversário poderoso — partidos golpistas, complexo midiático, Judiciário e aparato policial —, cuja orientação tática emana essencialmente do Mercado, as oposições bem que poderiam constituir seu “quadrado mágico” unindo as pré-candidaturas existentes e se tornando ofensivas, sobretudo despertando a esperança e o entusiasmo de milhões de eleitores e, quem sabe, ousando vencer a disputa.
Tite tem revelado a sabedoria de dispor dos seus atletas basicamente conservando o jeito com que jogam em seus clubes, evitando adaptações forçadas. E vem obtendo êxito.
As forças de esquerda, cada uma preservando a sua identidade e o seu modo de agir, mas confluindo em torno de um projeto único já no primeiro turno, poderiam levar a disputa a um segundo turno e, ampliadas, vencer.
Manuela D’Ávila, pré-candidata à presidência pelo PCdoB, tem sido de uma competência exemplar. Defende proposições destinadas à superação da crise e reafirma a todo instante a unidade das oposições como caminho para a vitória.