Luciano Siqueira: “Eleição é dialética, não aritmética”
O vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira (PCdoB-PE), explicou ao Jornal do Commercio, de Pernambuco, o papel do PCdoB na disputa pela prefeitura da capital, sem desconsiderar, inclusive, uma candidatura própria da legenda. Em Olinda, Siqueira disse que ainda não há definição em torno do nome do ex-prefeito e deputado estadual João Paulo (PCdoB-PE), mas que ele tem sido “citado com animação” em outros municípios da Região Metropolitana do Recife.
O vice-prefeito tratou também do Movimento 65, lançado pelo PCdoB. “É uma atitude muito generosa do PCdoB no sentido de abrigar e oferecer legenda. Na percepção da crise atual do País, esse movimento é para pessoas que reconheçam no PCdoB um partido sério, unido e que respeita às diferenças. Então nosso objetivo é exatamente deixar confortável as pessoas que, embora não estejam plenamente identificadas com o estatuto do partido, confiam no PCdoB, e estão debaixo desse guarda-chuva que sinaliza para um aglomerado de democratas e lutadores, não necessariamente comunistas”, explicou ressaltando que tem “notado interesse crescente pelo Movimento 65” por parte de pessoas que pensam candidatar-se.
No fim de 2020, Siqueira completa o seu quarto mandato (2001 a 2008 e 2012 a 2020) no cargo e, neste ano, não será candidato. “No dia primeiro de janeiro de 2021, nas redes sociais, logo cedo, direi: bom dia, volto a ser cidadão comum, mas continuarei sendo um entusiasta militante”, garantiu.
Leia a entrevista completa:
Jornal do Commercio – Como o senhor avalia esses quase oito anos à frente da Prefeitura do Recife ao lado do prefeito Geraldo Julio (PSB)?
Luciano Siqueira – No final do ano passado, nós fizemos um balanço sobre os sete anos de governo, que considero ser muito positivo. Sobretudo, porque há de se considerar que dentro desse período, são mais de quatro anos de crise financeira nacional e com repercussões drásticas sobre as finanças dos municípios. Recife não foi exceção. Além desta crise financeira, nós tivemos que enfrentar dois anos da gestão do ex-presidente Michel Temer (MDB) e agora temos o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que repercute também em corte de gastos e transferências federais para os municípios em diversas áreas. Os recursos que chegam, vem a conta gota. A despeito disso tudo, os resultados destes sete anos do nosso governo foram excepcionais. Neste último ano, não há menor possibilidade de desaceleração. Nós fizemos um levantamento e temos 1.500 inaugurações para fazer neste primeiro semestre. Não é fácil, em uma época de crise, alcançar esse feito tão expressivo, e eu quero crer que a população faz esse reconhecimento.
Sobre o cenário eleitoral do Recife, qual será o papel do PCdoB?
O PCdoB segue uma orientação tática nacional, que aponta a absoluta necessidade de diluir forças e isso vale para todo o País, para todas os municípios. O nosso ponto de partida é sempre examinar as possibilidades, sejam em torno de uma candidatura própria do PCdoB ou da candidatura de outro partido aliado. Isso vale para o Recife. Neste caso, é natural que o partido que detenha a hegemonia no Recife, que é o PSB, indique aos demais partidos, um nome. Um nome que se comprometa a liderar a resistência em defesa da democracia ameaçada pelo governo Bolsonaro. O que não se discutiu ainda, oficialmente com o PSB é que nome será este. Nós procuraremos unir forças. Agora, como na política não se trabalha como uma única alternativa, nós sempre nos preparamos para outra hipótese, que seria a hipótese do próprio PCdoB ter candidatura própria a prefeito. Você sabe que nestas eleições não há mais coligação para a proporcional para vereadores e vereadoras. É natural que os partidos que, por ventura, não apresentem um candidato ou candidata a prefeito, na composição da aliança, tenha suas próprias pretensões a eleição de uma bancada própria de vereadores e vereadoras. E o PCdoB não tem como primeira hipótese apresentar candidatura a prefeito, mas apoiar a Frente Popular, então se espera que suas pretensões em relação a Câmara Municipal do Recife sejam levadas em conta. A eleição não é uma questão de aritmética, mas de dialética, tem que levar em conta as pretensões de todos os aliados.
No campo da esquerda, estão sendo cogitadas as pré-candidaturas de João Campos pelo PSB, Marília Arraes pelo PT e Túlio Gadelha pelo PDT, o senhor é a favor de múltiplas candidaturas para enfrentar o bloco de oposição?
No caso do Recife, o ideal é que no nosso campo da Frente Popular tenha apenas uma candidatura, pois penso que a unidade seria o mais adequado. E essa unidade teria que ser a mais ampla possível. O cenário político eleitoral ainda está em formação, só agora passando o Carnaval é que as coisas começam a acelerar. Provavelmente nas grandes capitais, o campo de força que faz oposição ao governo Bolsonaro tende a unidade. Quando essa unidade não for possível no primeiro turno, ela pode ser construída no segundo turno. No caso particular do Recife, seria melhor que essa unidade fosse formada desde o primeiro turno.
Como tem sido feito entre o PT e o PCdoB? O senhor foi vice-prefeito de João Paulo por dois mandatos à frente da Prefeitura do Recife, e hoje os petistas encontram-se divididos entre lançar a deputada federal Marília Arraes e permanecer na Frente Popular.
Nós sempre nos relacionamentos muito bem com o PT, estejamos no mesmo palanque ou não. Até agora não tivemos sinalização por parte dos companheiros do PT de que venha a predominar a tese de uma candidatura própria no Recife, mesmo considerando que a deputada federal Marília Arraes já tenha anunciado essa pretensão. Vamos aguardar até julho quando se dará às convenções e todas as discussões serão bem tratadas. Embora predominem as sinalizações de que o PT opte pela unidade já no primeiro turno, não é algo que possa afirmar.
O nome do ex-prefeito do Recife e deputado estadual, João Paulo, tem sido levantado quando se trata da corrida eleitoral em Olinda. O senhor defende o nome dele ou de outro quadro do partido para o pleito na cidade?
O PCdoB tem dados em Recife, Olinda, Jaboatão principalmente, como também no Cabo de Santo Agostinho e em Paulista, quando João Paulo é citado, não só a militância do PCdoB se anima, mas os aliados de diversos partidos levantam a hipótese da sua candidatura. Embora tenha sido deputado federal e agora deputado estadual pela quarta vez, tendo sido candidato ao Senado duas vezes, as pessoas sempre veem ele como prefeito. Agora, nós cuidamos desse assunto com muito carinho. Se aliados de diversos partidos manifestam desejo de tê-lo candidato, nós temos que ouvir bem, com cautela, levar em consideração a hipótese e não nos precipitarmos O nome de João Paulo ou qualquer outro em qualquer município, sempre estará com hipótese de unidade mais ampla, não decidimos sozinhos. Luciana (Santos) tem conversado muito com os demais partidos, lideranças e segmentos da sociedade. João Paulo pode ser candidato a prefeito? Pode, mas tem nada definitivo.
Como o PCdoB pretende se estruturar em outros municípios nestas eleições?
Queria sublinhar, que nós defendemos a unidade. Seja em torno do candidato do próprio PCdoB ou de outro partido. Pensando a nível nacional, nós temos ousado ao apresentar pré-candidaturas tanto nas capitais quanto nas grandes cidades. Essas candidaturas não se disputam sozinhas, mas com aliados do campo democrático progressista. Nós temos o deputado Orlando Silva, pré-candidato a prefeito em São Paulo. Brizola Neto pré-candidato no Rio de Janeiro e Manuela D’Ávila como pré-candidata em Porto Alegre. Só não apresentamos candidatura quando ela, já de início, pode vir a ser um fator de divisão e dispersão de forças que podem vir a ruir. Mas, a orientação geral é essa, de formar chapas competitivas e o maior número de vereadores e vereadoras.
Quais serão os reflexos trazidos das eleições de 2018 para o pleito local em 2020?
As eleições no Recife, tradicionalmente, são as mais politizadas do País. Politizada no sentido de que não apenas se debate os problemas locais, mas também – em maior ou menor grau – se debate questões nacionais. Acho que ainda não está claro, mas provavelmente, o fator Bolsonaro terá importância na eleição do Recife, tanto no sentido de que a extrema direita, principal base de apoio, pretenda ter candidatura que expresse essas opiniões extremadas de combate do estado de direito democrático, em defesa de um regime autoritário. Quanto da parte de oposição ao governo Bolsonaro, seja possível que a defesa da democracia ameaçada pelo atual presidente, venha a contribuir para a unidade. Agora, penso que é quase inevitável o entrelaçamento das questões locais e questões nacionais.
O PCdoB lançou recentemente o Movimento 65. O nome dessa plataforma seria uma forma de distanciar um pouco do nome do Partido Comunista do Brasil?
De jeito nenhum. O Movimento 65 é uma atitude muito generosa do PCdoB no sentido de abrigar e oferecer legenda. A lei eleitoral obriga que cada candidato ou candidata se inscreva em um partido para poder disputar as eleições. Na percepção da crise atual do País, esse movimento é para pessoas que reconheçam no PCdoB um partido sério, unido e que respeita às diferenças. Então nosso objetivo é exatamente deixar confortável as pessoas que, embora não estejam plenamente identificadas com o estatuto do partido, confiam no PCdoB, e estão debaixo desse guarda-chuva que sinaliza para um aglomerado de democratas e lutadores, não necessariamente comunistas. Todos sabem que o Movimento 65 foi lançado pelo PCdoB e todos aqueles que se dispuseram, se candidatando pela legenda. Recebo muitas pessoas no Recife, que me procuram com a pretensão de disputar as eleições. Tenho notado interesse crescente pelo Movimento 65. Queremos lançar uma chapa com 54 candidatos, sendo 30% desse total composta por mulheres. Parte expressiva dessa chapa será formada por pessoas que se sentiram motivadas pelo Movimento 65.