No Brasil polarizado de agora, o polo bolsonarista acumula pontos negativos no sentido de crescente isolamento.

Por Luciano Siqueira*

Não confundir a larga maioria parlamentar pró-reformas ultra liberais com a sustentação do governo na sociedade.

Nos quesitos ruim e péssimo, segundo a última pesquisa XP/Ipespe, divulgada recentemente, o governo amarga 38%, mais 21 pontos de desgaste desde fevereiro.

Entretanto, no polo oposto, as forças de oposição se permitem uma perigosa irracionalidade. Preferem a multiplicidade de fronts e estratégias, desperdiçando possibilidades.

Diferentemente, o PCdoB insiste na construção de uma ampla frente, tendo como pedra de toque a defesa da democracia e do estado de direito.

Uma consigna justa, mas momentaneamente inviável.

Outras forças do mesmo campo — especialmente o Partido dos Trabalhadores —, temporariamente mais robustas, resistem à convergência agora e dispõem de meios para impedir que isso aconteça.

O roteiro que preferem é o cúmulo de forças em torno de si mesmas, antecipando inclusive candidaturas presidenciais para 2022. O Estado nacional pode ser gradativamente desmontado, os direitos dos trabalhadores suprimidos, a Constituição esgarçada e as condições de sobrevivência da maioria da população pioradas — mas enquanto isso, acreditam, o ambiente eleitoral se deteriorará hipoteticamente em favor de uma volta ao passado recente.

Nem percebem a dimensão estratégica da derrota eleitoral de outubro passado, nem avaliam devidamente o tamanho do estrago que vem sendo feito no atual governo.

Sem nenhum laivo espontaneísta, resta a hipótese de que a rejeição crescente do governo, anotada nas pesquisas, venha a se traduzir em resistência concreta por parte de contingentes amplos da população e, assim, surja uma pressão de fora para dentro dos partidos, invertendo essa equação.

Daí a necessidade de se falar a milhões, superando o lengalenga de partidos exclusivistas e dos muros quase impermeáveis dos movimentos sociais organizados.

Ou seja, encontrar meios de chegar à população sofrida e insatisfeita para além das “bolhas”, às quais nossas forças estão confinadas.

Será isso possível?

 

*Médico, vice-prefeito do Recife, membro do Comitê Central do PCdoB.