Em entrevista ao Estadão, a presidenta nacional do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Luciana Santos, fez uma análise do resultado eleitoral e falou sobre as perspectivas da atuação do seu partido em conversa com a Equipe Br Política, divulgada nesta terça-feira (17).

Na primeira eleição sem a coligação proporcional, pela proibição da lei eleitoral, apesar do PCdoB lançar maior número de candidaturas, mais de 10 mil candidatos e candidatas, a legenda elegeu cerca de 700 vereadores e vereadoras e 46 prefeitos e prefeitas em todo o país.

O jornal destacou que o PCdoB teve uma redução de 32% representantes eleitos em relação ao último pleito municipal. Segundo a presidenta do PCdoB, esse fato é atribuído por dois fatores. “Um mais subjetivo, político, de um momento de crescimento desse pensamento de direita no Brasil e de uma lei eleitoral que dificultou as alianças”.

A dirigente explica que esse número se deve ao recrudescimento do anticomunismo e a o autoritarismo das novas regras eleitorais. “Se existe um antipetismo, o anticomunismo recrudesceu, basta ver a atitude do próprio presidente da República”, recorda.

“Nós fomos muito atacados e há uma ascensão desse tipo de pensamento conservador no Brasil. Então não é para fazer esquadro ter queda. Seria estranho se a gente tivesse crescido num ambiente de ascensão do pensamento conservador”, avalia Luciana.

Ao jornal, a dirigente salienta que foi uma experiência nova para o PCdoB e mesmo assim, segundo ela, o PCdoB conseguiu “manter dois terços da votação dos últimas quatro anos atrás e ainda disputar um segundo turno numa capital importante [Porto Alegre]. É um cenário em que estamos na cena da política nacional”, pondera.

“Nós sempre fomos um partido com uma conduta de defesa de frentes amplas, de coligações e tivemos que mudar radicalmente de tática eleitoral para formar chapas próprias e enfrentar uma campanha anticomunista muito forte, que é real no Brasil”.

Com as novas regras eleitorais, a dirigente nacional do partido afirmou que a sigla pode mudar de estratégia para que a legenda consiga alcançar a cláusula de barreira em 2022.

Segundo ela, uma conduta tradicional da legenda, afeita à formação de frentes amplas e coligações será canalizada para uma aliança nacional com uma projeção recente de nomes do partido como o governador do Maranhão, Flávio Dino, e a candidata que foi para o segundo turno à prefeitura de Porto Alegre, Manuela d’Ávila.

Cláusula de barreira

A presidenta nacional do PCdoB explicou que o nas eleições de 2018, a legenda sofreu árduo baque da legislação ao não atingir uma cláusula de barreira, mas que conseguiu se reerguer com alternativas.

Segundo Luciana, não se pode medir os partidos pelos posicionamentos apenas da disputa eleitoral. “Somos um partido programático, com projetos claros e vivemos num ambiente de ascensão muito grande da extrema direita no Brasil com uma vitória de Jair Bolsonaro. É natural que um partido com a nossa pauta sofra revisões”.

Perspectivas para 2022

Ao ser questionada sobre a mudança de tática para 2022, Luciana afirma que já estão se preparando para a montagem de chapas a deputado federal e estadual e que “a princípio vamos concentrar o esforço para poder eleger o sucessor de Flávio Dino no Maranhão e atingir 2% da clausula de barreira, fazendo um esforço hercúleo onde temos deputados e onde tem chance de eleger”.

De acordo com a dirigente, o PCdoB já está fazendo as contas de onde vai ser possível ter um quantitativo maior de deputados federais e até novas filiações. “Se olharmos no País todo, já atingimos os 2% neste ano. Não deixa de ser um termômetro das possibilidades para 2022”, ponderou.

Luciana avalia ainda que há uma “tendência de mudança de correlação” de forças políticas. “Um centro, centro-direita que ascende mais, sem ser a extrema-direita, com as posições da esquerda no combate. Não é qualquer coisa o Psol disputa o segundo turno em São Paulo, ou Manuela em Porto Alegre. São cenários que revelam que, apesar da vitória de Bolsonaro dois anos atrás nós estamos vivos e fortes para novos embates ainda mais em um cenário econômico que aponta para o maior enfraquecimento dessa agenda antipovo de Bolsonaro”, analisa.

Flávio Dino

Sobre a possibilidade de lançar o nome da liderança do PCdoB, Flávio Dino como candidato à presidência em 2022, Luciana comenta: “como a luta política tem essas nuances”.

“Mesmo um partido que não tem quantitativamente uma bancada na Câmara Federal pode ter nomes que têm estatura, capacidade política e que entram no cenário dos presidenciáveis. Flávio Dino é um desses”.

Frente ampla

Porém, a dirigente lembrou que ainda vivemos sob a adversidade de um governo de extrema-direita, mas que “os momentos de virada foram possíveis quando a gente foi para além da esquerda”. E neste sentido, segundo Luciana, o PCdoB defende uma frente ampla. Tudo isso exige um pacto para poder ativar a bandeira patriótica e dos direitos, sugere Luciana.

“Ao defender frente ampla nós precisamos dialogar com todos os atores, também os do centro da política. O desfecho de qual candidatura vai sair dessa construção só o tempo dirá”.

Segundo Luciana, muitas águas vão rolar para se ter o cenário das eleições daqui dois anos e não sabemos até que ponto Bolsonaro, sem a ajuda emergencial, cairá nos índices de popularidade, como vai se comportar o centro da política daqui até lá, acrescentou a presidenta do PCdoB.