A plenária final do 15º Congresso do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) que se encerrou no último domingo (17) deu demonstrações de muita unidade política, foi como definiu após o evento, a presidenta nacional do PCdoB, vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos em entrevista ao Portal PCdoB.

Reconduzida para a presidência do partido para o próximo quadriênio, a dirigente alegou que, além da unidade, a atividade nacional combinou “euforia e alegria” entre os participantes. “É o auge da democracia interna”, explicou.

“A principal marca foi da unidade. A principal expressão dessa unidade é que o nosso projeto de resolução política foi aprovado por unanimidade”, contou. Para Luciana, o clima do congresso partidário foi animado por conta da exitosa “alternativa que construímos aos dilemas e ameaças que nós vivíamos em função das regras autoritárias eleitorais que impunham muitos limites à ação institucional do PCdoB”, ponderou ela, referindo-se à aprovação da lei que possibilita as federações partidárias.

“Penso que mesmo antes da plenária, o nosso principal motivo de festa foi exatamente a conquista da Federação, não como a solução para todos as questões, não como a panaceia para todos os problemas que a gente está vivendo, mas como a janela de oportunidade pela importância estratégica e tática que esta ferramenta tem para todos nós”, acrescentou a dirigente.

Na entrevista, a presidenta concebeu que o clima de congraçamento do 15º Congresso teve outro ingrediente a mais em relação às edições anteriores. “É o momento que marca o início do nosso centenário e por isso mesmo, recheado de muita emoção pelo significado histórico. A nova direção eleita é a direção do centenário, então tudo isso revestiu o congresso de muita emoção, de muito brilho e de muito entusiasmo para os desafios que virão pela frente”, avaliou.

Sobre a sua recondução ao comando do PCdoB, Luciana Santos disse que se sente “muito honrada e feliz pelo reconhecimento dos camaradas de me reconduzir à presidência de um partido do tipo do nosso, que — nada mais, nada menos –, tem como perspectiva a construção do socialismo no país e que carrega um legado de quatro gerações de dirigentes que foram ícones da história brasileira. — Não só da história do Partido Comunista, mas do Brasil! — São gerações e gerações de brasileiros e brasileiras que se destacaram pela sua genialidade, pela sua capacidade política, pelo seu desprendimento e firmeza ideológica”, disse.

“Ao mesmo tempo tenho um grande senso de responsabilidade em dar continuidade a essa perspectiva histórica e poder continuar escrevendo belas páginas desta história que se confunde com a história do povo brasileiro.  Esse é um grande desafio. Estar à frente desse coletivo do Comitê Central e atuar para que ele possa fazer jus à essa tradição de força, de conteúdo e capacidade de elaboração teórica do nosso partido, fazer valer esse legado e responder às contradições e às necessidades da luta histórica do nosso tempo”.

Frente Ampla

A frente ampla para isolar e derrotar Jair Bolsonaro está entre os principais planos do PCdoB, considerou Luciana. “Primeiro, a consolidação da frente ampla, que é um aspecto tático geral, que tem o DNA e a marca do PCdoB, e do quanto isso vem ganhando adesão, mas a inquietação do quanto também é difícil consolidar essa frente ampla, porque há muitas incompreensões”.

De acordo com presidenta, “vários setores das nossas forças” têm dificuldade de compreender a necessidade das alianças e as etapas de cada uma delas. “Uma coisa é a luta contra Bolsonaro, são os atos que vão unir todos os setores que de alguma maneira estão insatisfeitos com esse governo, mesmo aqueles que já foram da base de apoio do presidente. Outra coisa é a constituição de uma aliança programática para 2022, de atuação conjunta por um período mais longo”, salientou.

Luciana citou a iniciativa do Colégio Eleitoral e o movimento das Diretas Já como exemplos de frentes que geraram inflexões na história recente do país. “[Diretas Já] Foi também bastante amplo, reuniu diversas forças que não têm o mesmo pensamento programático (e que muitas vezes tinham pensamentos antagônicos na agenda econômica), mas que naquela época o que movia era a questão democrática”, exemplificou a dirigente.

Manifestação na Av. Paulista. | Foto: Alcineia Pereira

Ela complementou dizendo que é urgente a interrupção da agenda “nefasta ao Brasil” que é a de Bolsonaro. “Precisamos nos concentrar no que tem motivado amplos setores a se reunir em atos públicos, em iniciativas comuns e esse será, portanto, um trabalho muito árduo e que tem que ter muita contribuição do nosso partido, procurando exatamente agregar esses setores por mais díspares que possam ser no âmbito de posicionamentos políticos”.

Federação partidária

Sobre os próximos passos após a promulgação da Federação, Luciana informou que o PCdoB atua ao lado de outras forças políticas em diálogo com os ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no sentido de regulamentar a lei 14.208/21, que autoriza a criação das federações partidárias, “na perspectiva de garantir a essência da lei que é a autonomia e identidade dos partidos, que é um pressuposto da Federação”.

De acordo com ela, tal esforço “ajudará com as alianças que serão feitas, porque elas vão exigir um estatuto que terá um programa mínimo e a gente quer exatamente que a regulamentação do TSE não prejudique essa construção, uma vez que, na prática, se a regulamentação for muito exagerada ela acaba prejudicando essa construção. Então esse é o esforço que a gente está fazendo nesse momento”.

“Os desdobramentos da federação, especialmente a decisão sobre com quem se federar, vai exigir muita sagacidade política”, ponderou Luciana Santos. “É entender o tempo político de cada força, porque a essa altura nenhuma força tem unidade para decidir com quem (ou se vai) se federar. Então a gente vai ter que fazer um trabalho de escuta, de pulso desse desenho, dessa geografia política, que exigirá muito refinamento e muita sagacidade política de todos nós”.

Na entrevista, Luciana lembrou que embora a federação tenha até as convenções eleitorais do ano que vem para acontecer, “elas precisam estar consolidadas até a janela dos partidos, para possibilitar que a movimentação das lideranças políticas se dê de modo a construir uma equação do nosso campo progressista, popular e de esquerda que nos permita acumular forças”.

Pois, segunda a opinião da dirigente, é preciso “cuidar” para se construir uma bancada no Congresso Nacional com maior nitidez político-ideológica. “Nós temos que cuidar para ter uma bancada com maior nitidez político-ideológica, com um pensamento econômico social e político que se coadune com o que a gente pensa de saídas para o Brasil, para um país inclusivo, com crescimento econômico, com um Estado que possa induzir o desenvolvimento nacional, então teremos que estabelecer essas conversações, inclusive entre nós mesmos, imaginando qual é a equação que nos fortalece mais”, acrescentou ela.

Perspectivas

A presidenta do PCdoB disse ter boas perspectivas para o PCdoB no próximo quadriênio e que “espera um partido mais influente, que consiga dominar mais a realidade brasileira e na medida que domine mais a realidade possa apresentar saídas de prosperidade, de inclusão social e que ajude naquilo que está no nosso programa, fruto do acúmulo desse tempo todo: o Socialismo como destino e o novo Projeto Nacional de Desenvolvimento como rumo”.

Luciana Santos afirmou que é necessário “dominar a realidade brasileira e todos os fenômenos estruturantes que mudam a dinâmica da própria lógica do mercado, da produção de riquezas e o impacto que isso tem nas nossas estruturas”. Na opinião da dirigente, “esse esforço é peculiar no nosso tipo de partido, um partido leninista que se inspira num fundamento teórico que serve para nós como referência e que procura compreender as dinâmicas próprias brasileiras para ter condições de consolidar esse caminho que é o novo Projeto Nacional de Desenvolvimento”. Segundo ela, “aprofundar esse conhecimento nos aproxima mais da construção desse projeto de um país soberano, que leva em conta as nossas vocações e potencialidades e que consiga, a partir dessas potencialidades, transformar a realidade para o Brasil”.

Luciana Santos comentou que “o que nos deixa inconformados é que não é possível um país de dimensão continental do Brasil, com a riqueza que ele tem, tenha uma população tão pobre”. De acordo com a dirigente “essa desigualdade é o que nos incomoda e nos move, porque temos a convicção que é possível ter um Brasil inclusivo, comparado a sua potencialidade e riqueza.  Não dá para admitir ter um país rico com um povo pobre e nós vamos lutar com todas as nossas forças pela superação desse estado de coisas. Para nós isso passa pela implantação desse novo projeto nacional de desenvolvimento. Portanto, a expectativa que a gente tem é que o ano que vem — derrotando essa agenda de extrema direita no Brasil, que é ultraliberal na economia retrógrada nos costumes e autoritária na política — a gente possa entrar no novo ciclo político de inclusão e de crescimento”.

Segundo ela, “no embalo desse contexto que se abrirá — porque quanto mais se abre um processo democrático popular e progressista, mais nós comunistas temos a possibilidade de acumular força — precisamos cuidar das nossas linhas de construção partidária, ter mais capacidade de nos comunicar com a população, mostrar quem nós somos e quebrar estigmas e preconceitos que são muito marcantes na cultura brasileira”. A dirigente acrescentou que esse estigma vem principalmente das construções narrativas da guerra fria e que tomou uma dimensão ideológica muito significativa no seio do povo brasileiro. “Que a gente possa enfrentar isso com uma capacidade de comunicar o que nós somos, seja nesse aspecto do enfrentamento dos estigmas, seja na nossa capacidade de falar do futuro e convencer mais amplas camadas da população de qual é o nosso projeto, o que nós pensamos para o Brasil”, completou.

Bancada maior e mais forte

Na avaliação da dirigente, um PCdoB mais forte exige, entre outros fatores, um desempenho eleitoral favorável.  “O que mede nossa influência é a força e a força nessa quadra do momento que a gente vive no Brasil é força eleitoral. Então nós precisamos ser um partido com uma bancada maior e mais forte no congresso e cada vez mais ligado ao povo nas suas mais diversas formas de organização. Nós temos que nos atualizar nas diversas frentes e até nos reinventar na relação direta para nos ligar ao povo brasileiro nesse seu pluralismo. Ou seja, um partido organizado nas diversas frentes e formas como o povo se organiza, com forte influência política e maior capacidade de comunicação, desenvolvendo mais o domínio dessa comunicação contemporânea que se dá pela internet”.

Bancada do PCdoB na Câmara.

Vontade política

De acordo com a presidenta do PCdoB, os desafios do Brasil atual são enormes, mas a vontade de mudar alimenta o ânimo. “O clima é de perspectiva, de esperança, de muita vontade política de todo nosso partido em fazer valer nossa perspectiva que é tornar esse país mais justo e inclusivo. Eu penso que muitas vezes, quando as intempéries e adversidades se apresentam com força, a gente se tempera mais; a sensação que tenho é que a gente aprende mais. E superando algumas batalhas a gente se anima para ganhar a guerra. E a guerra dessa nossa geração é transformar esse Brasil num país de solidariedade, de afeto e de justiça social que o povo brasileiro tanto merece”.

 

Por Railídia Carvalho