Presidenta do PCdoB abriu nesta quinta-feira (13) a primeira reunião no ano da Comissão Política Nacional do PCdoB.

A intensa luta política travada em 2019 terá sequência neste ano de 2020, mas com um elemento de maior visibilidade: as eleições de outubro, que vão definir os rumos das 5.570 cidades brasileiras. Segundo a presidenta nacional do PCdoB, Luciana Santos, a campanha “será permeada, em grande parte, pelos temas nacionais”, mesmo sendo pleitos municipais, com “centro na disputa local”.

A dirigente comunista apresentou sua avaliação na noite desta quinta-feira (13), em São Paulo, na primeira reunião no ano da Comissão Política Nacional do PCdoB. “Nas cidades, os problemas reais existem, e é preciso buscar respostas para questões concretas. Mas, com a nova ordem instalada por Bolsonaro no Brasil, a polarização vai incidir, principalmente nos grandes centros urbanos e nas capitais”, afirmou.

“Tanto o bolsonarismo como o lulismo serão fatores de força na eleição municipal”, reforça Luciana. Não por acaso, a recém-divulgada pesquisa FSB/Veja aponta que, se as eleições presidenciais fossem hoje, Lula teria 28% das intenções de voto, em empate técnico com Jair Bolsonaro, que marcou 31%.

A eleição 2020 será “o primeiro grande teste de fogo do projeto bolsonarista de poder”, cuja maior expressão é sua Aliança pelo Brasil. Mas nem só de trunfos vive o grupo político de Bolsonaro na busca por mais capital político-eleitoral. “O governo conseguirá fazer a economia sair de seu estado anêmico? Conseguirá o bolsonarismo manter coeso seu espectro de alianças e produzir vitórias?”, questiona Luciana.

Hoje, no “novo normal do governo” – de “crises e tensões” –, Jair Bolsonaro segue à frente da “heterodoxa coalizão em torno de seu projeto”. O avanço da agenda ultraliberal se reflete no apoio do mercado à sua gestão. Já a pauta retrógrada nos costumes, “flertando com um crescente fundamentalismo religioso”, cimenta a adesão de segmentos como os evangélicos.

A popularidade do presidente, embora menor do que há um ano, tem outros elementos. “Bolsonaro veste a fantasia de antistablishment, mas não há nada mais falso do que isto. Sua postura de fazer o enfrentamento ao estabelecido, de desorganizar o tecido social, as instituições, seja o Congresso, seja o Supremo, é parte do cerne de seu governo”, diz Luciana.

Além disso, “o jeito tosco, sua língua solta, suas constantes gafes, dão a Bolsonaro um ar de autenticidade e o humanizam, o faz próximo das pessoas comuns e distante das castas e dos políticos. Ele utiliza do velho diversionismo, ampliado pelo poder das redes sociais, para hegemonizar e atomizar o debate público”.

Uma das ameaças ao projeto de longo prazo do presidente de extrema direita é “a emergência de um bolsonarismo sem Bolsonaro”, a ser encarnado, por exemplo, pelo ministro Sergio Moro. “Hoje, o principal cabo eleitoral de Bolsonaro é também um de seus principais concorrentes e busca se movimentar cada vez com maior desenvoltura no ambiente político. Moro e Bolsonaro se identificam muito em uma visão de mundo autoritária e antidemocrática”, afirma a dirigente do PCdoB. Moro ainda conta com o lastro da Lava Jato, uma operação polêmica e, por vezes, ilegal, mas ainda bem avaliada pelo conjunto da população.

A economia em xeque

Outra fragilidade que pode esvaziar o bolsonarismo é persistente estagnação econômica. As expectativas, nessa área, estão sob crescente efeito do ambiente externo e, ainda mais, da “postura de subserviência” do governo federal, “que beira o neocolonialismo”. Iniciativas prejudiciais à indústria nacional têm sido levadas a cabo, com ou sem a intercessão do Bolsonaro.

É o caso da adesão do País ao Acordo de Compras Públicas da OMC, que abre as licitações realizadas pelo governo às empresas estrangeiras. Outro exemplo: o governo Trump excluiu o Brasil da lista do sistema de preferências dos EUA para países em desenvolvimento. Tudo isso fará avançar a desindustrialização e travará, ainda mais, a retomada de um crescimento econômico consistente, a geração de empregos e a continuidade dos programas sociais federais.

“O fato é que o Brasil deve entrar em mais um ano de crescimento anêmico de sua economia”, prevê a presidenta do PCdoB. “Se o PIB de 2020 terminar em 1,5% ou menos que isto, se o governo não conseguir, mesmo que minimamente, algum tipo de redução do desemprego, as consequências podem embaralhar o cenário político, tornando a equação do governo Bolsonaro mais complexa.”

A oposição precisa, então, ser capaz de “aglutinar amplos setores políticos e impor derrotas ao arbítrio do governo”. Para quebrar a unidade bolsonarista, vale insistir no caminho de uma frente ampla e progressista, que tenha como “centro de gravidade a defesa da democracia, hoje sacrificada e ameaçada”.

Um comunista, o governador Flávio Dino (PCdoB-MA), desponta como uma das referências dessa missão. Além de sua extensa agenda de diálogos – que vai dos ex-presidentes Lula e FHC ao apresentador e presidenciável Luciano Huck –, Dino é um dos líderes do Movimento Direitos Já – Fórum da Democracia, uma frente suprapartidária em defesa do Estado Democrático de Direito. O próximo encontro de seu Conselho Político, que conta com 14 partidos, será realizado em 30 de março, no Maranhão, tendo o governador do PCdoB como anfitrião.

Um dos palcos da grande luta política será também a Câmara dos Deputados, devido à tramitação de projetos estratégicos, como o da renovação do Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica). No Senado, o foco é barrar o “Plano + Brasil”, com suas Propostas de Emendas Constitucionais (PECs) que tentam esvaziar “o sentido e o papel do Estado brasileiro”.

Os comunistas

Ao PCdoB, em especial, o desafio é “a construção de um projeto para outubro, condizente com a nova tática eleitoral”. Na visão de Luciana, é preciso ter como meta o lançamento de candidaturas às prefeituras, bem como a formação de chapas próprias de vereadores no maior número possível de munícipios.

Para isso, apostas já bem-sucedidas, como o Movimento 65 e a Plataforma Comuns, têm atraído mais lideranças ao PCdoB. No caso do Comuns, é notória a liderança da ex-deputada Manuela d’Ávila, pré-candidata a prefeita de Porto Alegre (RS). Esse movimento já realizou encontros presenciais em Porto Alegre e São Paulo, mobilizando centenas de potenciais candidatos a prefeito e a vereador.

“A nova legislação eleitoral induz o surgimento de muitas candidaturas nos grandes centros urbanos, dado o fim das coligações proporcionais”, lembra Luciana. A isso se soma a demanda de “aparecermos mais” na vida política, sobretudo no cenário eleitoral. “Quem não aparece não é visto. A imagem que queremos construir se dará em grande medida pelas pessoas que representam e representarão o partido.”

Daqui até 4 de abril – passando pelo Carnaval –, uma das tarefas centrais é buscar filiações que ajudem a compor as inúmeras chapas de vereadores do PCdoB. “Até o Carnaval deve ser um momento de resistência”, afirma Luciana. “O PCdoB está crescendo, se fortalecendo. É hora de concentrar esforços e colocar nossas energias no centro da disputa que temos pela frente.”