Luciana Santos é convidada a participar de livro sobre a diplomacia vietnamita
Convidada a escrever um texto para um livro sobre a diplomacia vietnamita a ser editado em Hanói, este ano, a presidente do PCdoB e ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, destacou a influência do heroismo do povo vietnamita como exemplo para a luta do povo brasileiro por sua soberania.
Luciana disse que o secretário-gerla do PCV, Nguyen Phu Trong, sustentou que foi possível construir uma excelente e única escola de relações exteriores e diplomacia na era Ho Chi Minh, “tendo o caráter do bambu vietnamita, com raízes fortes, tronco robusto e galhos flexíveis”. Uma diplomacia a serviço da independência nacional e de mãos dadas com o socialismo, a autoconfiança e a autodependência com a solidariedade internacional e o desenvolvimento das forças nacionais com as forças da época.
Leia a íntegra do texto em português, que circulará na Ásia:
A diplomacia “bambu” vietnamita
A contribuição histórica do povo vietnamita, de seu governo e do Partido Comunista tem sido, ao longo do tempo, extremamente valiosa para o avanço civilizacional da humanidade. Escrever algumas palavras para o livro “Construindo e desenvolvendo uma diplomacia vietnamita abrangente e moderna, imbuída da identidade do bambu vietnamita”, por isso, é uma honra para nós do Partido Comunista do Brasil e ao mesmo tempo uma grande responsabilidade.
Por suas contribuições excepcionais à Nação e ao progresso da humanidade, o Presidente Ho Chi Minh foi reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação e a Cultura (UNESCO) em 1987 como “um herói vietnamita da libertação nacional e um grande homem de cultura”. Com sua profunda escola de pensamento, enormes contribuições para a Revolução e um modelo de vida.
Registro aqui a passagem de Ho Chi Minh pelo Brasil, em 1912, onde em sua trajetória de pesquisa sobre as condições de vida das periferias e metrópoles coloniais, o levou a conhecer o porto e a cidade do Rio de Janeiro, com toda sua realidade desigual e, ao mesmo tempo, cheia de esperança e luta. Aqui, o líder Ho Chi Minh trocou ideias com sindicalistas e marinheiros sobre a luta contra o racismo. Fazia dois anos, naquela ocasião, que a Revolta da Chibata (1910) havia estourado no mesmo porto do Rio de Janeiro, com marinheiros negros se rebelando contra oficiais brancos que os açoitavam.
No século XX, inúmeros e importantes fatos históricos ocorreram em sequência, proporcionando mudanças na conjuntura mundial. Conflitos de interesses entre as potências imperialistas convergiram na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Além da luta das classes trabalhadoras nos países imperialistas, o movimento de libertação nacional em países coloniais como China, Índia, Irã, Turquia, Afeganistão e na península da Indochina. Neste período, a situação mundial foi caracterizada por V.I.Lenin como uma das revoluções e “o despertar do Oriente”.
Durante sua primeira estada na França, Ho Chi Minh deu uma contribuição significativa ao movimento de libertação nacional com sua famosa conceituação alegórica: “O capitalismo é um sangue-suga, sugando ao mesmo tempo o proletariado metropolitano e o proletariado colonial”. Ele entendeu a relação entre a revolução vietnamita e a revolução mundial, acreditando que “a revolução vietnamita faz parte da revolução no mundo. Aqueles que realizam a revolução são todos camaradas do Vietnã”.
Então, logo após o fim do conflito da Segunda Guerra Mundial, o povo vietnamita sob a liderança do Partido Comunista do Vietnã conduziu com sucesso a Revolução em agosto de 1945 para tomar o poder do povo dos fascistas japoneses e foi capaz de declarar a independência nacional e fundou a República Democrática do Vietnã (R. D. do Vietnã) em setembro de 1945, que mais tarde foi renomeada como República Socialista do Vietnã (R. S. do Vietnã).
Sem dúvida, devemos destacar como um desses fatores a fundação, em 1930, do Partido Comunista da Indochina (PCI), liderado por Ho Chi Minh, reunindo as forças de combate mais organizadas da península da Indochina para liquidar a opressão colonial francesa.
A Liga pela Independência do Vietnã foi estruturada pelo PCI e tornou-se capaz de manobrar diante da nova situação criada no mundo com a derrota das forças do Eixo – Alemanha, Itália e Japão – esmagadas pela aliança ocidental e eurasiana liderada pela então União Soviética. Com o fim da Grande Guerra, abriu-se a oportunidade para as forças nacionalistas e progressistas do Vietname declararem a Independência, com a Declaração cuidadosamente redigida e lida por Ho Chi Minh numa grande manifestação popular na praça Ba Dinh.
Nas palavras de Ho Chi Minh, “pela primeira vez na história, um pequeno país colonizado triunfou sobre uma grande potência colonialista. Esta gloriosa vitória não foi apenas a vitória do nosso povo, mas também das forças da paz, da democracia e do socialismo em todo o mundo”.
Um amplo programa de governo foi proposto e aprovado por uma Assembleia Popular encarregada de redigir a primeira constituição do país, consagrando a abolição dos impostos franceses, o plano de industrialização do país e modernização da agricultura e a aprovação da legislação social e trabalhista (trabalho de 5 dias por semana, salário mínimo, etc.) e autonomia para minorias étnicas. Dessa forma, foi possível reunir grande apoio popular para poder enfrentar as forças de ocupação francesas ainda presentes na região. Muito tempo foi necessário para liquidar completamente o exército colonial, finalmente derrotado na famosa batalha de Dien Bien Phu em maio de 1954, com o general Vo Nguyen Giap à frente.
Foi assim que, de Lênin a Ho Chi Minh, os grandes inspiradores e protagonistas dos movimentos de emancipação dos povos coloniais insistiram na necessidade de aproveitar todas as contradições do quadro internacional.
Recentemente, a direção do PCV realizou um encontro histórico que fez um balanço da experiência do governo na esfera da diplomacia e das relações internacionais, buscando colocar em prática as decisões do 13º Congresso do Partido. Como afirmou o secretário-geral do PCV, Nguyen Phu Trong, a diplomacia sempre foi usada para prevenir e evitar a guerra, ou para acabar com a guerra em uma posição tão vantajosa quanto possível. Deve estar sempre ao serviço das políticas domésticas, da construção nacional e do desenvolvimento nacional. Foi o próprio Ho Chi Minh quem desenvolveu os valores da diplomacia a um nível superior, combinando perfeitamente o patriotismo, a cultura nacional e as tradições diplomáticas com a quintessência da cultura mundial e da experiência diplomática.
O camarada Nguyen Phu Trong sustentou ainda que Ho Chi Minh defendia que a independência nacional deveria andar de mãos dadas com o socialismo, a autoconfiança e a autodependência com a solidariedade internacional e o desenvolvimento das forças nacionais com as forças da época. Ele também disse que foi possível construir uma excelente e única escola de relações exteriores e diplomacia na era Ho Chi Minh, tendo o caráter do bambu vietnamita, com raízes fortes, tronco robusto e galhos flexíveis – ou para citar em poesia: “Tronco tão fino, folhas tão frágeis, e ainda assim você se torna baluartes e paredes, ó querido bambu!” Aqui vive a alma, o espírito e a força da nação vietnamita: ser suave e hábil, mas tenaz e ardente. Ser flexível e criativo, mas ousado, tenaz e inflexível contra todas as adversidades, pela independência nacional, liberdade e felicidade de nosso povo.
Ao resumir os 35 anos da orientação política de Doi Moi no front da diplomacia, o secretário-geral Nguyen Phu Trong destacou 4 pontos fundamentais:
Primeiro, o Vietnã conseguiu romper o isolamento que lhe foi imposto. Hoje o país mantém relações diplomáticas com 189 dos 193 membros das Nações Unidas. Na diplomacia multilateral, o Vietnã é um membro ativo e responsável de mais de 70 importantes organizações e fóruns internacionais, como as Nações Unidas, ASEAN, APEC, ASEM e OMC, para citar apenas alguns.
Em segundo lugar, Nguyen Phu Trong aponta que foi criado um ambiente internacional favorável e foi possível reunir recursos externos para acelerar a industrialização, modernização e desenvolvimento socioeconômico. De uma economia planejada centralmente e um país isolado sob embargo, hoje o Vietnã se tornou uma economia de mercado orientada para o socialismo, desfrutando de uma imensa amplitude e profundidade de conectividade econômica.
Em terceiro lugar, o serviço exterior desempenha um papel pioneiro na manutenção de um ambiente de paz e estabilidade, dando um importante contributo para a firme defesa da independência, soberania, unidade e integridade territorial nacionais.
Em quarto lugar, a posição internacional e o prestígio do Vietnã na região e no mundo estão aumentando constantemente, contribuindo ativamente para a manutenção da paz e a cooperação para o desenvolvimento e o progresso no mundo. Nunca antes o Vietnã gozou de tanta riqueza, força, posição e prestígio internacional como hoje, concluiu o secretário-geral do CPV, Nguyen Phu Trong.
Este livro apresenta, assim, a sistematização e o aprofundamento dessas questões levantadas, além de focar nas lições concretas desse longo período de construção do socialismo, especialmente após as definições fundamentais da política de Doi Moi, decididas a partir de 1986. Brasileiros, acompanhamos com grande interesse e espírito aberto as experiências de nosso Partido irmão no Vietnã, e estamos empenhados em aprofundar a amizade e a cooperação que foram formalmente estabelecidas em 8 de maio de 1969 e que a cada ano se colocam a patamares cada vez mais elevados.
Viva a amizade e a cooperação entre os povos de todo o mundo!
LUCIANA SANTOS
Presidente do Partido Comunista do Brasil
Ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação do Governo Brasileiro
(por Cezar Xavier)