Em artigo derivado de intervenção apresentada em reunião da Comissão Política Nacional do PCdoB, a presidenta nacional do Partido, deputada federal Luciana Santos (PE), analisa o cenário econômico e político do país, assim como a evolução das candidaturas presidenciais, para avaliar as chances de vitória, pela quinta vez consecutiva, das forças progressistas brasileiras.

Por Luciana Santos*

Foi dada a largada à mais complexa e repleta de ineditismo disputa eleitoral da história recente brasileira. Os rumos desta encruzilhada histórica, desta disputa entre projetos antagônicos, serão definidos em pouco mais de 50 dias – uma jornada curta e intensa –, onde estarão em jogo os rumos do Brasil.

Nesta jornada, o PCdoB tem se orientado por objetivos bem definidos: contribuir para a quinta vitória das forças progressistas e democráticas no Brasil, reeleger nosso governador Flávio Dino e ampliar nossa aguerrida bancada de parlamentares.

As eleições se realizam em um quadro de múltiplas e graves crises 

O cenário econômico é a dimensão mais sentida da crise. As projeções de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) não ultrapassam 1,5% em 2018.

Neste cenário, os efeitos da semiestagnação da economia e da reforma trabalhista são alarmantes.

De acordo com os números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgados pelo IBGE, o Brasil vive uma situação dramática com respeito ao mercado de trabalho. Ultrapassam os 50 milhões de brasileiros que estão sem emprego, subempregados ou trabalhando na informalidade. De acordo com os dados, são 13 milhões de desempregados, 6,5 de subempregados, e 8,2 milhões que já não buscam emprego, pois se encontram em situação de desalento. Além disto, de acordo com o IBGE, mais de 50 milhões de brasileiros vivem em situação de trabalho informal.

O drama social tem elevado o número de pessoas vivendo em situação de rua, mais de um milhão de famílias têm que usar lenha para cozinhar devido ao alto preço do gás, e, mesmo problemas como a mortalidade infantil, morte de idosos por desnutrição e doenças como sarampo voltaram a crescer.

Estes são alguns dos legados que o “governo tucano” de Michel Temer deixará para o Brasil.

O clima de apatia e de indignação com a situação se entrecruza, reforçando o sentido de mau humor e insatisfação geral existente. As mulheres, a maioria do eleitorado brasileiro, são também as mais indecisas. De acordo com pesquisas, cerca de 80% se encontram resistentes a escolher um candidato; aproximadamente 54% estão indecisas e 26% declararam voto branco ou nulo. No entanto, mesmo com todo o desgaste, a maioria da população avalia que as eleições são a melhor oportunidade para mudarmos as coisas.

Os principais movimentos do xadrez político-eleitoral 

Os fatores da crise econômica, as repercussões da perseguição ao ex-presidente Lula e a própria operação Lava Jato, entre outros fatores, devem continuar incidindo sobre os movimentos no tabuleiro do xadrez político e eleitoral do Brasil.

Na reta final das convenções, é válido destacar que a força e a lógica do sistema político reorganizaram a disputa de tal modo que a tradicional polarização das últimas eleições entre PSDB e PT se desenha como uma grande possibilidade de se manter.

E o partido da Lava Jato continuará atuando

Uma das forças mais ativas na disputa eleitoral será a Lava Jato. Mal foram lançadas as candidaturas do nosso campo e da nossa coligação, o Ministério Público Federal entra em cena criando factoides. Depoimentos de marqueteiros buscando realizar ilações ao ex-prefeito Fernando Haddad, e, em outra área, denúncias contra o ex-ministro Guido Mantega.

Os procuradores da Lava Jato, com Deltan Dallagnol à frente, pediram à juíza de execução penal Carolina Lebbos para impedir que a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e o candidato a vice na chapa de Lula, Fernando Haddad, o visitem na prisão, em Curitiba, na condição de advogados.

Soma-se a isto, o adiamento do depoimento que Lula iria dar ao juiz Sergio Moro, no próximo dia 7 de setembro, sob a alegação de que tal feito incidiria no processo eleitoral. Jogar com as regras e com os prazos é próprio da política, mas não da Justiça, como tenta fazer Moro como forma de incidir na disputa eleitoral.

Apesar do recrudescimento da Lava Jato para cima do PT, como tal ele já não tem mais tanta força, além de crescer a percepção de que se trata de uma perseguição contra o partido. A esta altura, potenciais fatos novos gerados no âmbito da Operação talvez assombrem mais outras candidaturas do que as petistas.

Neste cenário, se destacam os seguintes movimentos das candidaturas do campo conservador 

Meirelles (MDB)
O governo Temer vive seu momento morto-vivo. Ainda que não tenha chegado ao fim, pouca capacidade de realização consegue apresentar. O objetivo principal de quem hoje ocupa os cargos principais do governo Temer é evitar que, com o término do governo, todos sofram com as consequências da Lava Jato.

No entanto, mesmo já tomando café mais frio, Temer realizou dois movimentos que tiveram impactos no rumo das eleições. De um lado, contribuiu fortemente para que o Centrão não fosse para o PDT de Ciro Gomes, de outro, manteve o pararraio da candidatura de Henrique Meirelles como forma de diferenciá-lo (e seu governo desgastado) da candidatura de Alckmin, evitando respingar seus fracassos no tucano.

Meirelles busca utilizar como seu principal cabo eleitoral aqueles anos em que participou dos governos de Lula, expressando ter sido em decorrência de sua ação no governo que se criaram mais de 10 milhões de empregos.

Bolsonaro (PSL)
O candidato de extrema-direita, Bolsonaro, tem intensificado o flerte com o setor produtivo nacional, além dos expoentes do mercado. Cresce o número de simpatizantes, entre empresários e investidores, sem falar do número expressivo de magistrados e juízes que, discretamente, têm apoiado sua candidatura.

Bancos de investimentos e grandes administradoras de fundos fazem cruzamentos de dados, sondagens e análises e passaram a considerar a sério a hipótese de um segundo turno entre Jair Bolsonaro e o candidato do PT.

Alckmin (PSDB)
Neste rearranjo, as forças do establishment criaram as condições para que, mesmo existindo um conjunto de mais de dez candidaturas, o sistema político ressuscite a candidatura de Alckmin. Ele demonstra força e se apresenta como o candidato do establishment, reunindo uma ampla coalizão de partidos em torno de seu nome, conseguindo cravar um verdadeiro latifúndio de tempo de TV. Apesar destes vastos recursos, e da estrutura de máquinas como a do governo de São Paulo, a vida de Alckmin não está fácil.

As primeiras pesquisas, após a saída dos resultados das coligações, não demonstram grandes mudanças no quadro, senão a confirmação dos baixos índices de Alckmin, atrás de outros candidatos com menos recursos. Como será a mudança de perfil de sua atuação, ainda não é possível prever. No entanto, apesar da ampla coligação, Alckmin terá dificuldades para que parte expressiva dos partidos do Centrão realize campanha para ele.

Em todo o Norte e Nordeste, muitos dos expoentes do Centrão irão apoiar a candidatura de quem Lula indicar. Neste caso estão PP, PTB e PSD nordestinos, que afirmam que, apesar do apoio nacional a Alckmin, irão realizar campanha para Lula. Além disto, Alckmin não terá apoio no Rio de Janeiro, um colégio eleitoral importante.

Para Alckmin, a análise das pesquisas das próximas semanas será determinante para definir seu roteiro de ação. Os dilemas no ninho tucano tendem a crescer se ele não alçar voo.

Marina (Rede)
A candidata Marina Silva busca apresentar um programa liberal-ambiental. Ela tem ensaiado ataques ao PSDB e a Bolsonaro. Do mesmo jeito que busca fazer flertes com os expoentes da Lava Jato, namora a Globo e um de seus balões de ensaio, o apresentador Luciano Huck.

Seu maior obstáculo será o reduzidíssimo tempo de televisão. Por outro lado, a inflexão que os donos do poder fazem procura inflá-la como possível alternativa.

As candidaturas do nosso campo

Ciro Gomes (PDT)
A candidatura de Ciro, que veio conquistando um número expressivo de apoios, ficou imprensada por não ter conseguido aliados. Tem um programa avançado de defesa de um projeto nacional de desenvolvimento. Suas propostas contém críticas contundentes à especulação financeira.

Também impactado pelo curto espaço de tempo que terá na TV, buscará os debates e entrevistas para se apresentar. Embora seja legítima a disputa de ideias e votos no âmbito do campo progressista, espera-se que adote uma tática eleitoral centrada no combate às candidaturas neoliberais.

Boulos (PSol)
A candidatura de Guilherme Boulos, de perfil de esquerda, vive um dilema. Ao optar por não praticar um discurso de confrontação com o PT, muito em decorrência da situação de Lula, sua candidatura não tem encontrado seu nicho principal, ficando amarrado às nossas iniciativas. Por outro lado, o público em que se apoia, setores médios esclarecidos, estava desejoso de uma unidade do nosso campo; e ele não conseguiu dizer por que não seria possível retirar sua candidatura.

PCdoB e a candidatura Lula-Haddad-Manuela 
Um dos principais cientistas políticos do Brasil, Wanderley Guilherme dos Santos, ao analisar o quadro imediato das coligações, destacou que “em matéria de estratégia, a do PCdoB foi a de maior êxito. A apresentação de Manuela como candidata a presidente foi audaciosa. Estratégia bem traçada e bem executada.”

E, de fato, até o momento conseguimos nos posicionar bem, neste quadro instável e pouco previsível. Nos nove meses de pré-campanha eleitoral, a candidatura de Manuela D’Ávila conseguiu se posicionar com vigor nos temas do debate político nacional, divulgando as opiniões do PCdoB sobre os novos rumos que o país precisa adotar.

Temos afirmado que Manuela já se tornou um dos personagens políticos desta histórica disputa eleitoral. Entramos em uma nova fase, em que, pela primeira vez, estamos compondo uma chapa com o PT. E podemos ser um fator diferenciador que agregue votos, que mobilize os desmobilizados a votar. Podemos contribuir com o diferencial da campanha eleitoral, ajudando na ida ao segundo turno e contribuindo com a vitória das eleições.

A construção da aliança possível de vencer 

O objetivo principal que nos orientou neste debate foi a possibilidade de ganharmos as eleições, de participarmos da disputa real que se daria na sociedade. Estamos nela. E não subestimemos nossas forças! A eleição é extremamente difícil, mas temos o povo como aliado e podemos vencê-la pela quinta vez

A candidatura de Lula é um fenômeno eleitoral de grandes magnitudes. Não é, contraditoriamente, um fenômeno de mobilização, como foram outros processos políticos similares. Sua força está em uma aliança que consegue fazer diretamente com o povo, construída no legado de seus anos de governo.

Na atualidade, dos 31% que votam no Lula, 36% votariam em quem ele indicar como candidato – o que poderia representar, em números diretos, 10% do eleitorado. A pesquisa CNT/MDA realizada entre 15 e 18 de agosto, já mostrou que 17,3% de 37,3% de intenções de votos em Lula migrariam para Haddad.

Em certa medida, essa originalidade e força vincadas no povo permitiram que construíssemos uma aliança ampla, não na forma que desejávamos. A candidatura de Lula além da coligação PT – PCdoB – Pros tem o apoio de setores de vários partidos, entre eles o MDB, PTB, PP e PR, além do PSB.

No debate de programa, buscamos contribuir com as ideias-força das diretrizes de nossa pré-candidatura.

Nosso programa concebe que, para construirmos esse sonho intenso que é o Brasil, se faz necessária a articulação sistêmica da soberania nacional, a questão social, com ênfase na redução das desigualdades sociais e a afirmação da causa democrática.

A soberania no mundo contemporâneo está relacionada diretamente ao modo e ao grau de desenvolvimento que o país possui. Por isso, o vértice deste projeto é o desenvolvimento soberano da nação, buscando, desta forma, materializar as amplas potencialidades que o Brasil e nossa gente possuem.

Um Projeto Nacional de Desenvolvimento que dê resposta aos dilemas e desafios da contemporaneidade. E que tenha em conta as ameaças, mas também as oportunidades, de um cenário internacional, no qual a crise da globalização neoliberal e a emergência de novos polos de poder, que superam a realidade de um mundo regido por uma única superpotência, são fatores que favorecem a realização de projetos nacionais de desenvolvimento soberano, autônomo e próprio.

Registro da candidatura 

Pela primeira vez na história, o registro de uma postulação foi acompanhado por milhares de brasileiros. Respaldada por uma multidão, que marchou por cinco dias até Brasília, a coligação formada por PT, PCdoB e Pros registrou no Tribunal Superior Eleitoral, em quinze de agosto, a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência.

As forças políticas que hoje se unem para retomar um projeto nacional e popular no país têm a convicção de que estamos vivendo tempos tenebrosos e de muitos retrocessos no Brasil. Nós fizemos a unidade que foi possível e estamos hoje juntos, nessa aliança que existe, há 30 anos, para reafirmar a necessidade de termos o registro da candidatura do ex-presidente Lula.

Entre as disputas de narrativa desta eleição, está a de quem é a responsabilidade sobre a crise. Se ela é do governo Dilma ou se é do governo Temer. Esta falsa polêmica se alimenta do fato de que os mais jovens não têm lembrança sobre o período anterior às conquistas sociais do ciclo Lula-Dilma, o que faz com que se tenha de trabalhar ainda a consciência política e histórica da juventude.

É hora de sair às ruas rumo à vitória 

Como afirmou Manuela no ato de entrega do registro de candidatura, amanhã é o dia de mostrar como vamos vencer a eleição. E vamos vencer conversando com o povo brasileiro, com as mulheres e homens que sabem que Lula foi o melhor presidente do Brasil e que ele pode devolver o Brasil aos brasileiros. Somos a voz, as pernas, os braços de Lula. Cada um de vocês é uma voz, defendendo que o povo pode ser feliz de novo.

Os objetivos do PCdoB permanecem os mesmos nesta quadra. Ganharmos as eleições presidenciais, reelegermos o governador Flávio Dino e elegermos uma combativa bancada.

Firmes na Luta!

* Luciana Santos é presidenta nacional do PCdoB e deputada federal por Pernambuco.

Versão para a revista Princípios das notas do discurso da presidenta nacional do PCdoB, Luciana Santos, durante reunião da Comissão Política Nacional (CPN) de 14 de agosto.