A presidenta nacional do PCdoB e vice-governadora de Pernambuco, Luciana Santos, participou de debate virtual da 13ª Bienal Internacional do Livro de Pernambuco, nesta segunda-feira (12), sobre o uso político das redes sociais. Com o tema “Ei, Steve Bannon, aguarde: a poesia vai vencer!”, o evento contou ainda com a presença do secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade do estado, José Bertotti, com mediação de Renata Mielli, da direção do Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé.

“Steve Bannon é o símbolo mais recente dessa que é uma das mais perversas formas de dominação: a manipulação das ideias”, disse Luciana ao iniciar a apresentação, sobre o estrategista da extrema-direita estadunidense.

“Este não é um assunto novo no mundo, nem no Brasil. Existe desde que há a dinâmica da luta de classes, mas claro que quando advém o fenômeno da internet, ganha dimensões sofisticadas porque, afinal, passa a ter uma escala gigantesca por conta da internet e um alto grau de sofisticação que envolve inteligência artificial, técnicos de física, matemática, sociologia, que se juntam num grande processo de sistematização de base de dados e intervenção na vida pessoal jamais vista na humanidade”, explicou.

Manipulação como negócio

Luciana salientou que a manipulação via redes sociais “é um grande negócio que envolve disputa não só do ponto de vista financeiro, mas daquilo que é muito importante para qualquer povo e nação que é o aspecto ideológico, a disputa ideológica e de poder nos países”.

A dirigente argumentou que assim como em outros espaços de poder, “as relações de comunicação também são permeadas por interesses diversos e principalmente os políticos e econômicos”.

Neste sentido, apontou que embora as notícias falsas não sejam uma novidade, “é inegável que a internet abriu a possibilidade do uso político das fake news com muito mais escala e amplitude. E o Bannon é o principal nome associado a essa forma de manipulação em benefício da extrema-direita”.

Uso dos sentimentos

Luciana explicou que a estratégia usada por esses grupos consiste em identificar medos, temores, preconceitos e sentimentos “para encontrar ganchos com as ideias difundidas pela extrema-direita e, em algumas situações, adequar o discurso da extrema-direita para ir ao encontro desses sentimentos mais fortes”.

A presidenta do PCdoB usou como exemplo os protestos pelo “Ele Não”, contra Bolsonaro, nas eleições de 2018, quando vídeos manipulados foram distribuídos em grande escala com o objetivo de difamar as manifestantes e insuflar o ódio de setores conservadores contra a esquerda. “E de onde vem o dinheiro para esses impulsionamentos? Do envolvimento de grandes empresários, como agora está sendo desmascarado não só pelo inquérito das fake news comandando pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes, como na CPI, com uso inclusive de recursos públicos, práticas proibidas pela lei eleitoral”, colocou Luciana.

Informação e leitura como vacinas

Por fim, a dirigente salientou a importância de iniciativas de combate à manipulação da comunicação, “como as leis em debate no Congresso, as iniciativas da sociedade organizada pela democratização da informação, pela educação para a mídia, pela regulamentação da comunicação, pelo fortalecimento da comunicação pública, a garantia do acesso à informação como um direito fundamental das pessoas etc. enfim, medidas que ajudem a construir um ambiente em que as fake news tenham menor impacto. E para isso, informação e leitura são as armas necessárias, são a vacina”.

Luciana concluiu dizendo: “As pessoas são melhores do que Bannon, Bolsonaro e toda carga de sentimentos e emoções negativos que eles buscam estimular. O conhecimento há de dissipar as trevas do negacionismo e do obscurantismo. ‘Faz escuro, mas eu canto’”, disse, em referência ao poema de  Thiago de Mello.

Democratização x manipulação

O secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco, José Bertotti colocou que “se por um lado as redes sociais hoje nos permitem fazer com que a comunicação se democratize — e elas devem ser instrumentos de democratização —, ao mesmo tempo podem ser instrumentos de manipulação”.

Ele lembrou que a a revista norte-americana The Economist, que não é ligada a nenhum setor de esquerda, “diz que precisamos criar leis antitruste para a comunicação, da mesma forma que foram criadas leis antitruste nos anos 1930 para as grandes empresas de petróleo. Porque os dados, as informações que se obtêm dos aplicativos das redes sociais são definidores dos rumos econômicos do planeta e as grandes economias”.

José Bertotti salientou que com base nas informações que as empresas coletam via redes sociais, é possível, inclusive, antever tendências e demandas, como ocorreu quando o Facebook adquiriu o WhatsApp, momento em que esta empresa ainda não tinha o alcance e o poder que tem hoje. E alertou: “A mercadoria que está sendo vendida nas redes sociais é você mesmo, as suas informações. Para eles, não existe ‘almoço grátis’: quando lhe dão acesso a uma rede social, não é de graça”.

 

 

Por Priscila Lobregatte